ALÍPIO DE SOUZA EM BUSCA DE LIVRE EXPRESSÃO




Alípio de Souza tinha um costume, um hábito, digamos um reflexo mesmo, condicionado não se sabe quando nem porque, de peidar e arrotar, sem o devido respeito do onde e do com quem estivesse dividindo o pedaço.
Mais seu automatismo era mais peidar do que arrotar.
E como se não bastasse seu ato inusitado, sempre, tinha a coragem de anunciar, destacar, denunciar sim, o fato, em tom de pilhéria:
- Olha minha gente, alguém peidou aí no recinto!
Senhor respeitável, adiantado na idade, próspero na profissão, cidadão digno, de inúmeras qualidades de caráter, família bem constituída, porém, refém dessa inusitada idiossincrasia.
Mas sua atitude não ficava barato não, e seu problema, ou melhor, as conseqüências de seu atávico gesto começavam em sua própria casa. Sua esposa, fiel e dinâmica companheira, mãe de três filhos menores, nunca cedera, se conformara, ou mesmo se capitulara, à livre expressão do, para ela, inoportuno pum dele. E sempre o admoestava, o censurava, o reprimia, com objeção, repulsa, indignação.
Quantas vezes ele tentara explicar, o que sempre fazia mais aumentar a raiva dela, que seu singelo traque, não trazia em si, qualquer resquício de desrespeito, de provocação, de contestação, ao lugar, ou mesmo às pessoas presentes.
Era simplesmente mais uma de suas manifestações de expressão, um ato legitimamente espontâneo, que havia incorporado ao longo do tempo de sua existência, e que, ele tinha certeza, seguramente devia encontrar respeito, aceitação, autonomia, em algum outro ambiente cultural do planeta.
Certa feita, fora a um congresso no Japão, e voltara menos culpado, porque presenciara, nos restaurantes, por toda Tóquio, os cidadãos locais arrotando tranqüilamente durante ou após as refeições. Apesar de mais encorajado, quando de sua volta, sua defesa agora mais embasada por um exemplo cultural concreto – os japoneses arrotam livremente durante e após seus repastos - não conseguiu nem mesmo atenuar a cólera, a repulsa, a aversão ostensiva da mãe de seus filhos.
Nas suas reuniões no trabalho, nos eventos sociais que porventura participava, e mesmo em casa de amigos íntimos, sua atitude estranha, peculiar, extemporânea, também não conseguia passar desapercebida e sempre causava estranheza, ou, no mínimo, gerava uma reação de desdém, de escárnio, de zombaria.
Sua esposa reiteradamente não concordava principalmente quando ele diante de seu filho caçula, de três anos, não se continha, e, segundo ela, dava um mau exemplo, e cada vez, de forma mais calorosa e incisiva, explodia em sérias altercações, admoestações, intimidações, inclusive com ameaças de represálias, desprezo, separação conjugal, sempre alicerçada nos mais comezinhos princípios da boa educação e dos bons costumes.
Devo esclarecer para um leitor menos tolerante que Alípio de Souza era vegetariano, há quase duas décadas, e, portanto, não comia carne, açucares, ou outros alimentos que pudessem impregnar seus flatos com aquele odor ofensivo característico. Isto posto, seu peido podia incomodar mais pela surpresa e pela explosão acústica repentina, do que por outros efeitos deletérios quaisquer. Além do mais, como seu hábito, já deixei claro anteriormente, primava pela espontaneidade, com o tempo grande parte das pessoas acabavam por se acostumar com ele, ou a não lhe emprestar qualquer significado mais expressivo.
O assunto, a querela, o mal entendido, entretanto, a cada dia suscitava mais sofrimento, de nosso protagonista – herói, vítima, ou outra coisa qualquer - e ultrapassando a esfera pessoal, familiar, grupal, se espalhou, se agigantou, vulgarizou mesmo, ganhando foro, dimensão, domínio, de coisa pública.
E como tudo que alcança tamanho interesse, acabou se traduzindo na opinião do povo, por várias compreensões de inúmeros e interessantes matizes.
De início, ultrapassou o âmbito da opinião pessoal, monolética, da esposa de Alípio de Souza e de outros tantos intransigentes, portadores de um discurso reducionista, ditatorial, perverso – não é permitido peidar em público, sob qualquer motivação ou circunstância. Ora tudo é relativo, sabemos muito bem, e, no mínimo, o tema deveria ser submetido à consideração de outras variáveis, não é mesmo?
Passou depois além da dialética, ou da situação inicial de que alguém pode pensar somente uma coisa ou outra, um pode ou não pode, estruturado por Marx no discurso do senhor e do escravo, como expressão do real, tese imprópria, maquineísta, que foi redimida por Hegel, com sua proposta de três elementos – a tese, a antítese, e a síntese. Claro, não podemos reduzir tudo a simplesmente, certo ou errado, bom ou mal, feio ou bonito. Aqueles que vêem a vida assim ficam empobrecidos, submissos, cativos, daqueles que entre uma coisa e outra buscam uma, no mínimo, terceira alternativa, e ampliam as possibilidades, identificando para cada uma possibilidade, mais duas, e, assim, num continuum, de tríades, que tocam o infinito.
Senão, vejamos: para se viabilizar uma solução que satisfaça o meu interesse e o seu, prezado leitor, em alguma coisa qualquer, temos de tornar compatível, harmonizar; conciliar, o interesse de um terceiro – por exemplo, o da minha esposa, ou da sua, (nunca estamos sozinhos em sociedade e na cultura). Mas não podemos esquecer também das influências das leis que regem ou regulam as nossas relações, não podemos esquecer do pedaço do leão, ele é voraz para cada dia arrecadar mais imposto. Não podemos esquecer que seremos influenciados pela compreensão de nossas mães, (mesmo que ela já tenha passado para uma outra dimensão), pela nossa situação econômica, política, cultural, pelos valores éticos, morais, religiosos vigentes na nossa cultura, pelos interesses da polícia, do sistema jurídico, e tantos outros fatores.
Se dado uma relação humana e um problema, consigo pensá-lo dentro de uma perspectiva cada vez mais ampla, articulada, e que responde a várias demandas, interesses, compreensões, naturalmente que ele tende a ser resolvido de uma maneira mais proporcional, mais humana, mais efetiva.
Mas o problema do Alípio de Souza transpôs também os limites dessa trialética sistêmica, que mais modernamente advoga, e ninguém contesta, que, entre uma ou outra possibilidade para um determinado problema, no mínimo, uma terceira instância, diferente, de cada uma das duas outras primeiras, deve ser levantada, estabelecida, perseguida.
E, finalmente, o tema, se reduziu, se subjugou, se submeteu. Virou uma verdadeira anarquia, caiu no domínio do povo, e tudo era, é, e será possível, sem qualquer respeito pelos estatutos da ciência, sem qualquer consideração pelos ditames da sensibilidade, da intuição, da estética e da mística, e, sem mesmo a necessária preocupação com a proteção, a defesa, o amparo, do simplesmente razoável.
De um lado a maioria dominante execrava, tinha aversão, abominava, a possibilidade de um cidadão poder se sentir no direito de peidar livremente, indiferente aos costumes consagrados pela tradição, tradição essa transmitida e perpetuada por tantos e tantos indivíduos de bem, (diziam eles), que sob a égide da moralidade, souberam nos defender, interditando essa prática vulgar, reles, ordinária.
Do outro, uma minoria, descontente, subversiva, intolerante, que, se colocava na contramão da ordem, do bem-estar comum, e das conquistas inalienáveis da maioria dos cidadãos, defendendo o direito de livre expressão do Alípio de Souza, nem que fosse preciso defendê-lo com o sacrifício da própria vida dela. Na verdade e com certeza eram esses aqueles, de resto, quase sempre contra tudo e todos, principalmente, contra aqueles que se sentiam bem instituídos, bem postos, confortáveis – por exemplo, os banqueiros, os políticos, principalmente, os de alto escalão, os militares que sustentam o status quo, as religiões institucionais, e, sobretudo, o povo, submisso, desinformado, esperançoso.
Aqui e ali, também se levantavam, alguns que se mostravam em cima do muro sobre o assunto – os mesmos eternos indecisos na vida, na política, nas lutas pela sobrevivência humana.
Os religiosos também faziam coro a esses hesitantes, irresolutos, indistintos. Não era um tema que mereceria a consideração deles, argumentavam. E explicavam que somente se detinham em assuntos realmente importantes, e como, uma questão tão ridícula como essa, nem de longe tocava ou se remetia às necessidades, desígnios, escrutínios, do Superior, se permitiam se quedar imparciais, mudos, não-comprometidos.
O delegado de Policia local não quis se manifestar, quando procurado por nosso Alípio de Souza, pois, somente o faria em resposta a um incidente, um delito, um crime, embasado numa denúncia bem estruturada, e de preferência versada pelo promotor de Justiça ou por um causídico competente.
O mesmo senão recebeu do Meritíssimo Juiz de Direito, que já sabedor do caso, não se dignou nem a recebê-lo em audiência pública e oficiosamente solicitada.
A quem mais se dirigir? Alípio de Souza não teve outra saída. Procurou um tratamento. E como não era um grande estudioso, um intelectual, por exemplo, mas não era também um ingênuo, escolheu um especialista da mente.
Sabia que todos os desequilíbrios da energia, do corpo, e mesmo os da fisiologia humana, iniciavam na cabeça, se determinavam e se mantinham pela educação e pelo meio ambiente, e se reforçavam pelos interesses e ambições do ser humano.
Sugeriram-lhe, de início, práticas alternativas populares. Ele, no entanto, tinha lá suas opiniões, crenças, preconceitos. Não as achou relevantes, apesar de pouco ter lido, convivido, ou experimentado, sobre elas. E eram tantas, que vou aqui enumerar somente algumas, e ali disponíveis para todo tipo de doença, compreensão e poder aquisitivo humano: desintoxicações, dietas – oficial, macrobiótica, natural -, plantas medicinais, poder curativo de técnicas baseadas nos quatro elementos básicos da natureza - água, terra, ar, fogo -, garrafadas, alcalinização do sangue humano, urinoterapia, técnicas baseadas no movimento - capoeira, tai chi chuan, aeróbica, caminhadas, maratonas –, técnicas adivinhatórias – tarô, I Ching, magia branca e negra -, técnicas espirituais ou religiosas, tipo yoga, rezas, oferendas, umbanda, candomblé.
A acupuntura e a homeopatia, milenar e bicentenária, respectivamente, ele sabia que somente desde 1996, portanto, há uma década, tinham sido reconhecidas e autorizadas pelo MEC, depois de tantos impasses corporativistas, econômicos e políticos que tiveram de enfrentar para atingir a oficialidade. Mesmo assim não se tocou e nem, em momento algum, cogitou procurá-las.
A antroposofia de Rudolf Steiner, com seus remédios da Weleda e da Walla, ainda se ressentia da pouca quantidade de profissionais no mercado, da dificuldade de se encontrar seus remédios, principalmente os de uso venoso, e da falta de empenho de seus praticantes, enredados nas suas arrogâncias acadêmicas, na pretensão de seu saber religioso, e na luta pela hegemonia entre eles de seus saberes e fazeres médicos.
A Homotoxicologia, os radicais livres, a iridologia como técnica de diagnóstico e de evolução de tratamento das doenças humanas, acredito, nem mesmo chegou a conhecer.
Iniciou assim, Alípio de Souza, uma abordagem e um tratamento guiado pela psicologia através de psicoterapia, que sabia ser um valioso recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir: crises pessoais, crises de relacionamentos, conflitos conjugais e familiares, dificuldades nas transições da vida, crises profissionais, distúrbios psicossomáticos e manifestações sintomáticas como pânico, ansiedade, depressão, fobias, anorexia, e tantas outras.
Pretendeu com essa prática criar um espaço favorável ao seu crescimento pessoal, e um lugar, um tempo, um modo privilegiado de criar intimidade consigo mesmo, através de diálogos construtivos com seu terapeuta, da possibilidade de poder abrir novos canais de comunicação, de transformar padrões de funcionamento estereotipados, tentando reavaliar e restabelecer seu processo formativo e criativo pessoal.
Sabia que a psicoterapia podia lhe oferecer uma oportunidade de compreender os próprios modos de vinculação e relação interpessoal através de uma relação hipoteticamente mais saudável com um profissional qualificado.
No início de sua vida adulta, já experimentara terapia comportamental, behaviorista, skinneriana - individual e de grupo por quase dois anos. Mas na época os problemas eram outros, falta de individualização, desajuste no enfrentamento e no convívio com sua equipe de formação profissional, muita elaboração mental e pouca praticidade no seu dia-a-dia, dentre tantos outros.
Alipio de Souza ao longo do exercicio de sua profissão, acompanhara através de uma leitura atenta a evolução do saber psicológico, e, testemunhara o nascimento e gradativamente fora se iterando das contribuições da Terapia centrada na pessoa de Carl Rogers, da terapia gestáltica de Frederick Perls, da analise transacional de Eric Berne, e, de forma mais efetiva, nas duas últimas décadas, da psicoterapia interpessoal, cognitivo-comportamental, e psicodinâmica breve.
Bateu-lhe uma vontade de experimentar a psicanálise, principalmente após sua tentativa frustrante de ler e entender sozinho a obra de Lacan. Procurou um psicanalista lacaniano. Iniciou uma terapia, de início, de duas sessões por semana, com direito a uma extra, se sua ansiedade, sua angústia, sua necessidade assim a induzisse.
Durante algum tempo, teve um certo alívio, porque quando não resistia ao seu impulso espúrio e o ânimo exaltado do próximo o oprimia, tinha, no mínimo a ajuda profissional de seu analista, que se não o defendia, emprestava-lhe os seus ouvidos atentos, se bem que um pouco dispendiosos, cento e cinqüenta contos a sessão, e ele se sentia um pouco confortado, amparado, quem sabe um pouco redimido.
O tempo passou. Dois anos. Três anos. Dez anos. Apesar de Alípio de Souza se sentir cada dia melhor, no trabalho, nas relações, na vida, continuava sempre com seu hábito compulsivo, e sendo sempre admoestado pelo seu mentor comportamental, que ele ainda não havia entrado em análise, por problemas de várias ordens, entre eles o de transferência, de contratransferência, e por desavenças francas na disputa obstinada do poder entre ele e o seu analista.
Um outro fato se tornou relevante, quando um dia, um seu amigo mais pé no chão, mais melancólico, mais materialista, fez as contas do quanto ele havia despendido no seu afã de autoconhecimento, e percebeu que daria para comprar um apartamento de cobertura no bairro mais nobre de sua cidade, e, ele Alípio de Souza, inocente, se deu ao desplante, à audácia, à ousadia mesmo, de tentar levar o problema para discussão com seu psicanalista. Realmente não foi muito feliz, e saiu mais traumatizado ainda, quando o profissional deixou claro que somente o dever profissional o havia feito suportá-lo tanto tempo e ao seu pum indesejável, que tanto ofendia sua audição requintada e seu olfato sensível.
Esse fato acabou por dizimar qualquer frincha, vestígio, resíduo, de respeito e de consideração que o Alípio de Souza pudesse ainda abrigar pelo próximo e pela natureza humana.
Um seu amigo fraterno, porém, sensibilizado pela situação de nosso incompreendido, levou seu caso, para um programa televisivo de audiência nacional, e o Brasil inteiro, se comoveu, se pronunciou, e votou, democraticamente, o direito ou não do Alípio de Souza poder peidar espontaneamente em qualquer recinto e em qualquer situação.
Claro que o impasse foi ampliado, porque não ficava bem se decidir sobre o direito ou não de um único cidadão em rede nacional, e a pergunta veiculada, apesar de todos saberem que baseada no caso particular Alípio de Souza, foi assim resumida:
Pode um sujeito peidar livremente em qualquer local que lhe aprouver e perto de qualquer circunstante que por ventura ou infelicidade esteja no ou próximo ao local do evento? Sim ou não?
Infelizmente houve um empate técnico, porque a questão ficou empobrecida com somente duas alternativas. A vultosa quantidade de pedidos, que chegaram do Oiapoque ao Chuí, aos estúdios da televisão durante a pesquisa de opinião, exigindo outras variáveis, (sim, não, talvez, depende, outra coisa qualquer), infelizmente, não foi atendida, e, cinqüenta por cento da população brasileira se manifestou a favor e a outra metade radicalmente contra.
Seu drama pessoal assim atingia uma dimensão continental, e somente a Guerra do Iraque, iniciada em 20 de março de 2003, exatamente uma semana após o programa de televisão em rede nacional, pela comoção que causou na opinião pública internacional, impediu que seu sofrimento assumisse uma extensão planetária.
Realmente aquela série de ataques aéreos com mísseis e bombas de precisão atingindo Bagdá e arredores, polarizou de tal maneira naquela época o mundo, que feliz ou infelizmente a cena de nosso Alípio de Souza foi roubada.
Mesmo assim recebeu um grande número de mensagens pela Internet, cartas, telefonemas, algumas extremamente extravagantes, esquisitas, esdrúxulas. Ficou sabendo que seu problema não era tão pessoal assim e interessava e perturbava uma grande faixa da população humana.
Recebeu até propostas de casamento, com promessa de vida longa totalmente bancada pelos pretendentes - noivos e noivas solidárias, e ainda com a promessa de liberdade plena do exercício de seu direito de peidar e arrotar em qualquer ambiente e em meio de quaisquer pessoas.
Alípio de Souza, apesar de, na época, já ser um cidadão praticamente psicanalizado, não se sentiu seguro, animado, autorizado, a estabelecer qualquer mudança existencial marcante e permaneceu como antes na terra de Abrantes – indeciso.
Mas como tudo um dia clama e encontra uma solução, um abrandamento, ou um esquecimento, Alípio de Souza recebeu, pela Internet, de um indivíduo anônimo, para mim um cientista que não queria se denunciar, se não a solução de seu problema, a preservação de sua liberdade ou a possibilidade de continuar peidando aqui, ali, acolá, sem desencadear mais toda sorte de pelejas, controvérsias, disputas, que estava acostumado a despertar.
Ontem ele mesmo me confidenciou:
- Oh amigo, conquistei finalmente minha liberdade. Sei, sempre soube, que meu direito acaba quando colide ou toca os limites do direito do meu próximo, mas não podia me impor uma atitude assim tão repressiva, impunemente, mas agora, posso peidar à vontade, em qualquer lugar e em qualquer situação, e permanecer incólume, intato, ileso, livre de qualquer perigo, são e salvo da pouca compreensão do meu próximo.
- Mas o que mudou Alípio?
- Ora, recebi o esquema e mandei confeccionar uma fralda tipo geriátrica, com elásticos que vedam qualquer possibilidade do som proveniente de minhas regiões baixas poder atingir o meio-ambiente. Assim posso peidar à vontade e permanecer anônimo, sereno, irretorquível.
Mas fui eu, admito com um pouco de sadismo, que tentei lhe tirar do conforto recém-conquistado:
- Mas Alípio, acredito que você possa ter resolvido o problema dos seus países baixos, mas, o que dizer dos seus países de cima, os das terras da Canastra, os dos Andes, os dos Alpes?
Fez que não entendeu ou realmente não atinou mesmo.
- O quê? – se mostrou interessado.
Expliquei-lhe prontamente que realmente o problema do flato – peido, traque, pum - havia sido resolvido, mas o do arroto, da eructação, da erupção ruidosa de gases do estômago pela boca, se bem que menos premente, ressentia de uma solução.
Alípio de Souza não se intimidou:
- Esse porém, meu amigo, eu já me debrucei sobre ele e resolvi – me esclareceu.
- Mas qual solução você encontrou? – perguntei.
- Semana passada, procurei uma agência de viagem, e já programei uma viagem à terra do Sol Poente, onde poderei dar vazão livremente, durante três semanas, a minha sanha de eructação anual reprimida.



CARLOS VIEIRA
Enviado por CARLOS VIEIRA em 14/02/2007
Reeditado em 14/02/2007
Código do texto: T380625
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