O trotar das dúvidas primeiras...

"Viver leva à morte."

Clarice LISPECTOR, Macacos.

Minha escrita poderia começar discutindo a chave primeira desta alquimia de algaravias. E talvez, falar como Paracelso que "é conveniente que se saiba, amigo leitor, que todas as enfermidades tem universamente" apenas um lugar para se alojar: na página em branco, para se transformar em rótulo, coisa não lida, coisa não sonhada, coisa que se quer sentida, mas que doída, não quer dizer mais nada.

Faço disto um congregados de estágios gerais, neste plano só há nomes, poucas exceções, com muita corrupção, muita página assinada em branco com pensamentos confusos.

E brinco com a tesoura...

Recorto universos à vontade de um espirro, se o dia não está bom, teremos sol, se já o temos, não quero chuva. Chuva lembra lágrimas e as lágrimas me mostram quem eu sou.

E isto assusta, assombra, deturpa, pertuba...

E a noite isolado choro por não querer chorar, mas verto as lágrimas sublimadas em escrita. Sinto a cabeça zonza, o nojo me espreita, tenho ânsias de vômito.

O dia não está para perguntas...

Sinto-me incomodado, tomei banhos, tomei água, não consigo voltar meu rosto para o espelho. Não me sinto como eu sempre sou, mas como talvez um dia não fui: apenas existi.

E me acorrento as minhas poucas dúvidas como verdades divinas, dogmas inexplicavelmente palpáveis. Sinto uma dor no fundo do branco dos olhos, uma lasca de unha quebrada me irrita e a mordo vorazmente... como cão a conversar com a pulga?

Queria saber escrever tão bem quanto aquele míope pragmático que senta ao meu lado e na máquina de calcular, em poucos minutos, destrói toda minha obra ficcional, ao expôr fantasias ainda maiores...

Todas as teorias. 1+1=2, 1-1=0. Aritmética. 1+1=2, 1-1=3. Kandinsky. Tem sempre um idiota que pergunta: "que número você calça?".

Signo de escorpião e muitas sensações. Olhos de bruxa arredia que um dia foi freira e fugiu do convento porque se apaixonara pelo Cristo e lhe disseram que ele também foi homem.

E ainda, a maior dúvida, é aquela que pinta num dia em que tudo parece desabar, as construções a minha volta parecem não dar certo.

Uma praga sádica grita a um canto que quer ser açoitada... e eu nem sequer sei curtir alguns pés. Uma língua suja rápidamente lambe um bilhete mal escrito.

Finjo não ver...

Mas não finjo nada!

O maior enigma ainda é este que ainda não sei qual é, que no centro de minha cabeça, grita e se revolta como o inominável da vida. Obstáculo... perguntas são mais caminhos, homens é que são pedras...

Alguma pergunta?

Ev
Enviado por Ev em 15/02/2007
Reeditado em 15/02/2007
Código do texto: T382436