TRISTEZA E ALEGRIA
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O nome dela é Tristeza. Engraçado né. Por essas coincidências do destino conhece o Sr. Alegria. Amor a primeira vista. Casaram-se. Construiu uma bela casa, dois carros na garagem, cachorros, vieram filhos, tudo perfeito. Ele adorava seu carrão, manhã linda, corria na velocidade permitida, e sorria. Ela o aguardava em casa com as crianças, para fazer uma deliciosa feijoada. Quarta feira, pouco mais de meio dia. Caminhoneiro embriagado perde a direção, e na contramão bate no carro do Sr. Alegria. Violenta batida. Ferido mortalmente abre seus olhos azuis da cor do céu, que tanto amava, e suspira e morre no local. Antes balbuciou o nome da esposa, amo Tristeza. O jovem bombeiro nada entendeu como uma pessoa pode amar a tristeza? – são mistérios da morte, deduziu.
Ela chorou, questionou Deus, vestiu luto. Amava demais aquele homem. Dias e noites intermináveis, seria quase impossível nova paixão. Seria fiel o resto da vida. Alguns anos depois, sua filha a convida para assistir a festa de Santos Reis. Ainda vestindo luto, acompanhou a filha. Não dançou, não sorriu como se tivesse fazendo uma afronta a memória do marido.
Felicidade, músico conhecido na pequena cidade, ofertou uma rosa branca à jovem viúva. Desviou o olhar, não aceitou. Não se esqueceu daquele olhar. O destino e suas tocaias pediam passagem. Linda noite enluarada sonha com o marido. No sonho ele pede a ela, para continuar sua vida. Pois ainda era jovem e bonita. Ao acordar, veio em sua mente o músico.
Alguns dias depois, na praça da cidade, encontram-se por acaso. Com o violão na mão, ele pára em frente à viúva e canta uma canção, aliás, a preferida dela e seu marido. Ela chora, recebe uma rosa branca novamente, aceita e agradece.
Apaixonam-se, casam-se. Festa todos os dias, ele cantando ela dançando. Um contrato, e o musico foi tocar e cantar em outra cidade. Todo o intervalo ligava para a esposa, que suspirava cada vez que seu novo marido desligava. Era o amor. Os telefonemas foram rareando, ele esfriando, até que não mais telefonou. O musico ficou fascinado com a nova casa musical. Mulheres, bebidas, noites e noites na farra. Conhece outra mulher. Loira, olhos verdes, de parar o transito como dizem seu nome Ingratidão. Paixão fulminante. Rapidamente esquece família, amigos e entrega seu coração.
Tristeza quase morre. Deprimida. Após anos sua unica curtição foi o nascimento do neto, filho de sua filha mais velha. Nunca foi atrás do musico. E o castigo sorrateiramente rondava a vida daquele fanfarrão, que após um tempo foi abandonado pela amante a Ingratidão.
Alvo de piadas pela cidade, maltrapilho, bêbado, com fome, acaba o dinheiro, despejado, foi dormir rente ao esgoto, mendigo, sócio das sarjetas. Ninguém o aceitava nos bares. Cansou de ver as mulheres das suas noites, saírem com outros clientes. Numa dessas noites, um senhor alto, com sorriso nos lábios, sereno, conversou com o ex-musico. Sentiu-se feliz por alguém dignar-se a dizer um alô pra ele.
Aos poucos o homem mexeu com seus brios e sentimentos. O musico chorou. Lembrou Tristeza e as crianças, hoje adultos. Os amigos abandonados. Irrompe um choro convulsivo, prantos que de longe se ouviam e qualquer pessoa entendia que vinha da alma.
Volte pra sua casa Felicidade. Aqui nunca foi seu lugar. Perdeu até seu violão, pra comprar comida. Isso não é vida. Após essas palavras, o senhor virou-se e foi lentamente embora. Felicidade juntou num saco suas poucas roupas, os sapatos nos pés, cada um de uma cor, meias sujas, além de cheirar mal por falta de banho. Andou quilômetros a pé. Pedia comida e ouvia: Vai trabalhar bêbado vagabundo.
Com Tristeza sua esposa e as crianças, nunca passou fome e as necessidades que estava passando nos últimos tempos. O remorso corroia suas entranhas, se arrependimento o matasse faria companhia a Judas Iscariotes. Semanas depois finalmente chega a casa em que o abrigara em dias de intensas felicidades. Tremulo, faz o sinal da cruz, bate a porta. Magra, cabelos grisalhos, rugas em todo rosto, marcas do sofrimento feitas pela solidão, atende a porta e não o reconhece. Cabisbaixo balbucia: sou eu, Tristeza. Aquele que um dia foi sua Felicidade.
Ela encara aquele homem, e reconhece aqueles olhos que sempre a encantaram. Pergunta a ele: O que fez com você? – perdão Tristeza. Ela não titubeou, o perdoou. Voltou Felicidade. No dia seguinte, barbeado, recomposto, sentou-se na varanda de mãos dadas com a esposa. Com lágrimas nos olhos contou cada detalhe de sua vida. Ela atenta a cada palavra, ouvia em silencio. Finalmente ela pergunta: qual é mesmo o nome do Senhor que falou contigo?
Ele apenas me disse: Meu nome é Alegria.
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Billy Brasil – 05-07-2012 – 22,52 hs – Peruíbe – SP