Coisas do Destino

No verão, todas as tardes, mãe e filha seguiam em direção à pracinha.

Marisa era graciosa, observadora.

Com cinco anos apenas, pouco brincava.

Dona Isabel estranhava o jeitinho da menina que conversava como gente grande:

_Mãezinha olha aquele moço, ele não esteve no portão de casa um dia destes?

_É mesmo querida, estava com fome.

_Papai disse que ele estava drogado!

_Sim amor, drogado e com fome.

_Tenho pena dele mamãe, vive nas ruas...

Sujo, faminto, doente...

_Sim querida, o drogado é uma pessoa doente.

-Posso falar com ele mamãe?

_Não agora querida, vamos brincar no balanço.

Naquele inverno, com chuva constante e frio intenso,

Quase não saiam de casa.

Marisa observava da janela envidraçada, as poucas pessoas

Que ousavam transitar pelas ruas encharcadas.

Dona Isabel, lia sentada no sofá em frente à lareira enquanto

Aguardava o marido voltar do escritório.

Advogado renomado, Dr. Marcos passava a maior parte

De seu tempo no trabalho.

Pai e filha pouco conversavam.

De repente, aos gritos, indo e vindo da janela imensa,

Marisa chamava pela mãe desesperada.

_Mamãe, vem, vem...

Olhe o moço mamãe!

Com ímpeto, Dona Isabel chegou até a filha.

A menina agarrou-se a ela chorando.

_Mamãe, precisamos ajudá-lo! Precisamos!

_Ajudar quem minha filha?

_O moço mamãe, o moço doente.

_Mas filha... Por quê?

_Ele vai morrer na chuva, por favor, mamãe!

Dona Isabel nunca sentiu tanto sofrimento na voz

De Marisa, como agora.

_Onde ele está filha?

¬_Ali no jardim... Vamos...

_Calma filha, vamos esperar seu pai...

_Por favor, mamãe, por favor!

Vendo a filha com os olhos cheios de lágrimas,

Decidiu.

_Vamos lá.

O homem encolhido, entre o canteiro das rosas,

Jazia inerte.

_Meu Deus, fique aqui Marisa, eu vou lá.

Desta vez Marisa não obedeceu a sua mãe.

Tocando de leve o braço do moço chamou.

_Moço, acorda, por favor, moço!

O rapaz se mexeu.

_Vamos levá-lo pra dentro mãezinha...

_Não podemos Marisa e se for um bandido?

_Mas mamãe, ele precisa da gente.

Ele vai morrer se ficar aqui.

Dona Isabel temendo a reação do marido

Quis esperar por ele, mas a filha insistia.

¬_Vamos arrastá-lo até o terraço vou chamar

A Maria.

Sem dar tempo á mãe, Marisa saiu correndo.

Alguns minutos depois, voltava com a babá.

_Cruz credo menina Marisa, que pressa é essa?

_Vem logo Babá, senão o moço morre.

Envolvidas pelo acontecimento,

Não notaram que Dr. Marcos abara de chegar.

Sem saber como aquele moço viera parar ali,

Seu primeiro impulso foi de chamar a policia,

Quando pegou o celular, Marisa gritou...

_Não papai, por favor não!!!

Parece que ela adivinhou seu pensamento.

Surpreso Dr. Marcos olhou para a filha.

_Não chame a policia, por favor!

Comovido pela atitude da filha, ficou sem ação.

_Ajude o moço papi, por favor.

O moço continuava imóvel.

_Está bem, vamos levá-lo para um banho quente.

_Marisa olhou para o pai agradecida, seus olhinhos marejados agora riam

Obrigada papito, amo você!

Na banheira da edicola, ao contato

Com a água agradavelmente morna, o rapaz

Começa a despertar.

Tentou sair da banheira atemorizado.

Olhou em volta, Dr. Marcos, a distancia falou calmamente.

_Não tenha medo.

Está entre amigos.

Desconfiado, ainda meio tonto, o moço murmura.

_Entre amigos?

_Não fale, o medico está vindo.

O rapaz repitia tudo como um papagaio

Era visível que estava muito assustado.

_O medico?

_Boa noite Dr. Leocádio, obrigado por vir a esta hora,

Aí esta o homem, ainda de molho.

_Boa Noite! Muito bem, pelo menos está aquecido.

_Pode sair daí sozinho?

-Sair?

_Sim, da banheira.

_Ah... Po posso sim Sr.

-Heis a toalha, se enxugue bem. Use o roupão.

_Si sim Sr.

_ Já no quarto quando Dr. Leocádio pode olhar direito o rosto sofrido

Daquele jovem, ficou pálido.

_Alberto? Seu nome é Alberto?

_Si sim... Leo? Leocádio?

Abraçaram-se emocionados diante do Dr. Marcos

Que surpreso, não entendia nada!

No canto do quarto uma luz de suave beleza

Emanadas por Tamires , envolvia os três homens ainda

Encarnados.

No mesmo instante, uma sensação de enorme felicidade,

Alcançou Marisa.

_Obrigada Senhor! Por salvar o moço!

No quarto calmamente Dr. Marcos esperava.

Dr. Leoucádio visivelmente emocionado por fim falou.

_Dr. Marcos...Meu Deus, nem sei como explicar.

_Calma examine o rapaz... e então falamos.

_Obrigado Dr Marcos.

_Alberto precisa de cuidados especiais que eu

Providenciarei o mais breve possível.

Ele vai ficar bom.

Agora lhe devo explicações.

_Ha vinte anos, recém-formado, conheci Tamires.

Mãe solteira com um filhinho de três anos.

Apaixonados, casamos.

Tamires amava seu filho, e isso me deixava com muitos ciúmes.

No mesmo ano Tamires engravidou, mas Deus a levou e com ela nossa filhinha.

Fiquei então com seu filho, Alberto com quatro anos.

Levei-o para um orfanato.

Meses depois, perseguido pelo remorso voltei lá

Mas ele tinha sido adotado.

Alberto chorava baixinho.

_Fui adotado sim, no no começo, tudo bem, ma mas depois meus tutores

Tiveram uma filha e e eu maltratado fugi de casa. Tinha dez anos,

Ne nem me procuraram, agora tenho quinze.

Nesse momento Tamires tocou de leve a fronte de seu filho amado.

Foi quando conheci de de longe a menina Marisa.

Eu a conhecia não sei de onde.

Tamires sorriu, vibrando amor.

_Pena que não possa ouvir filho querido,

Marisa era a filha que eu carregava no ventre

E que agora encarnada será sua futura esposa.

Para que Leocádio conviva com vocês.

E que ao curá-lo do vicio e ampara-lo,

Seja por ti perdoado.

Como vê, nada é por acaso.