Um velho barco perdido em alto mar

Esta “estória” tem a finalidade de retratar a situação angustiante em que se encontravam os tripulantes do velho barco em estado de incerteza e dúvidas devido à ameaça de não chegarem ao porto mais próximo.

Se não bastasse o fato das precárias condições físicas da mencionada embarcação, a mesma estava sendo guiada temporariamente por um capitão de mar em substituição ao velho comandante, o qual teve morte súbita, deixando seus amigos da tripulação sem esperança de atingirem aos objetivos de cada um, pois a insegurança e a falta de tarimba são preceitos que caracterizavam o capitão que estava segurando o timão, apesar de sua força de vontade.

Constatava-se na proa a presença de apenas 5 ou 6 tripulantes, quando necessariamente deveriam ser 12 e observava-se seu capitão bastante apreensivo e preocupado com o destino de seu barco, que outrora trafegava por mares bem mais brandos.

No porão escuro pelas trevas da desesperança estavam, sem poder executar as manobras que se faziam necessárias, o seu Capitão e cerca de 96 tripulantes, cujos salários eram os mais baixos de todos, observando ainda com tristeza a falta de material necessário e adequado para, pelo menos tentarem soerguer a imagem positiva que um dia emanava daquele barco.

Situação também caótica se retratava na tripulação do convés, o qual abrigava 5 marinheiros que mais pareciam tripulantes de uma aeronave comercial devido as constantes horas de vôo, quer seja oficial ou oficiosamente, deixando atônito o seu Capitão, por sinal, portador de auto espírito de união e grande amigo de seus subordinados, mas que não conseguia agrupar familiarmente dois velhos marinheiros desgastados pelo tempo vivido em mares tenebrosos e que já não se toleravam mais, tornando, dessa forma, bastante constrangedor o ambiente naquela parte da embarcação.

Em um canto da sala de comando, por vezes trabalhando diretamente com o comandante, sobressaia dos demais, a Tenente de Marinha, incumbida de agilizar toda à parte de pessoal, mas que devido a sua forte personalidade de líder, não conseguia se relacionar amigavelmente com a maior parte da tripulação, demonstrando inclusive insatisfação contra o sistema, comentando o desejo de zarpar fora daquele barco, na tentativa de buscar outros ares marítimos, mais favoráveis a seu modo de ação.

Ainda, dentro dessa situação crítica, observava-se que a velha embarcação possuía também alguns tripulantes lotados na parte alta do convés, encarregados de fiscalizarem todo o barco, utilizando o céu como um de seus elementos de atuação deixando de lado a velha bússola, uma vez que, nas circunstâncias, o serviço estava sendo feito praticamente sem motivação, acrescido do fato de que um dos Capitães responsáveis dividia esporadicamente a Supervisão com outro setor do navio.

O clima de tensão aumentou em toda a tripulação, pois mesmo que a calmaria chegasse, não iria modificar a situação uma vez que os marinheiros sabiam que tão logo o mesmo ancorasse no porto da esperança, o novo comandante indicado para levá-lo a outros mares, não tinha a mesma filosofia de comportamento de seu antecessor, gerando, assim um aspecto de desconfiança e intranqüilidade entre todos.

Observava-se em seu velho casco já corroído pela maresia e desgastado pelo tempo, a pintura das letras DRE-RS que ainda formavam a sigla de seu prefixo no registro da “região de embarcações,”pertencente a uma empresa do “Sistema de Navegação Marítima”.

Obs. Este conto foi redigido originalmente em 05 de novembro de 1991 com base em fatos verídicos.

Demarcy de Freitas Lobato (Em memória)
Enviado por Demarcy de Freitas Lobato (Em memória) em 16/02/2007
Código do texto: T383428