Manicômio parte 2: Sem orelhas

Eu escrevi o conto ''Manicômio'' sem pretenções e me surpreendi com os comentários positivos. Então, como algumas pessoas pediram uma continuação, eu to pensando em prolongar um pouco a história desse maluco. Mas por enquanto, eu escrevi um pequeno texto ás pressas pra postar aqui. Mesmo não tendo idéia de quem e como seja esse personagem, eu gosto dele. Então deixemos ele falar mais um pouco? Claro que sim.

E viva a loucura!

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Eu nunca fui de espiar janelas.

Meu Deus, como sou repetitivo. Me desculpem, vou começar de forma diferente.

Eu acordei abatido e dolorido. Triste e tonto.

Meus olhos lacrimejavam pelo dia anterior. Não lacrimejavam da forma como vocês pensam, ou da mesma forma que vocês lacrimejam. Desculpe parar o texto aqui, mas adoro essa palavra, ‘’lacrimejar’’. O verbo da tristeza, da dor, da alegria, da morte.

Sim. Da morte.

O que é a morte senão o fim da vida?

Muito direto eu sou, não?

Chega de perguntas e de enrolação. Eu quero falar das consequências daquele ato ridículo que eu cometi. Primeiramente eu me apoiei num parapeito de janela. Nós não podemos fazer isso. E conseguinte, eu espiei. Sim, eu espiei. E daí?

Depois daquela ligação eu arranquei as minhas orelhas para não ouvir mais nada. E o que eu ouvi? Vozes? Nada disso.

Eu não sou um vampiro, como já está bem claro. E também não sou um maluco que ouve vozes do além. Quando eu quero eu vou até lá.

E enquanto eu relato isso, aquela pessoa liga pra mim novamente. Mas não tenho mais orelhas. Comi elas com um pouco de sal e azeite, mesmo preferindo óleo como tempero. Óleo é tempero?

Do que eu estava falando mesmo?

Desculpem se deixei vocês na mão, pois minha memória é muito fraca.

Mas não sou um velho.

E nem durmo num caixão.

Eu já disse isso?

Tanto faz, tá na hora do meu ensopado.

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 21/08/2012
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