FAROESTE - Cap -2

Sob pesudönimo de J.G.HUNTER

Capítulo Segundo

“Missão: apaixonar-se”

George Benedict cavalgava a passos lentos rumo ao rancho de Helen MacGreen. Seus credores não estavam lhe dando trégua. Sua única saída: casar-se com ela e convencê-la de qualquer maneira de seu amor. Jurou pela milésima vez que jamais jogaria em sua vida!

Não iria desperdiçar aquela rodada milionária que a vida lhe oferecia casando-se com ela. Helen MacGreen era uma excelente aposta! Além do mais sabia “jogar” e tinha suas cartas escondidas na manga... portanto, era somente esperar o momento certo para ganhar aquele jogo. Precisava apenas de uma carta: uma dama de coração vermelho, e, Helen MacGreen, era esta carta!

Um cavaleiro aproximava-se do rancho de sua pretendida. Quem seria! Tinha que saber o que estaria acontecendo. Parou seu animal. Desceu dele e o deixou a solto. Assim teria uma desculpa dele ter se afastado da sede do rancho e seguiu até lá sorrateiramente.

Helen MacGreen apareceu na porta com um rifle nas mãos.

— Senhorita, MacGreen! — exclamou o cavaleiro recém-chegado descendo do animal, pouco se importando com a recepção agressiva dela.

— Sim! O que deseja! — retrucou engatilhando o rifle.

— Calma muita calma, senhorita! — exclamou Simon levantando as mãos ao caminhar na direção dela. — Sou Peter Simon... do Rancho Chambord! Seu pai e eu éramos amigos! Certa vez me convidou para trabalhar com ele.

— Oh... agora estou me lembrando do senhor... Rancho Chambord — desculpou-se ela. Reparou bem aquele homem maravilhoso e esguio que se aproximava em passos firmes e seguros esperando que abaixasse o rifle. — Peter Simon... já o vi na cidade algumas vezes.

— Ainda precisa de um bom capataz, senhorita! — olhando para ela da cabeça aos pés. Um olhar demolidor; olhos verdes e um sorriso sensual.

— O que está acontecendo com Chambord? Não está conseguindo pagar seus empregados! — instigou MacGreen tentando demonstrar sua superioridade no momento.

— O motivo não foi bem este — respondeu Simon tirando o chapéu e encostando-se na proteção lateral da varanda. — Desentendi com alguns vaqueiros, ele me repreendeu, e, achei melhor procurar outro rancho para trabalhar. Quem sabe uma rancheira tão bonita como a senhorita seja mais delicada com seus empregados — bajulou Simon insistindo em quebrar as formalidades daquela conversa.

— Estou precisando de um capataz, não de um galanteador! — frisou MacGreen. — Já estou cansada de elogios baratos! Meu antigo namorado, sempre me diz palavras bonitas... porém, só quer mesmo o meu dinheiro!

— Ora, senhorita, nem todos os homens são iguais! Não vai se casar com Ben, então!

— Ele não sabe a diferença entre um touro e uma vaca!

— Creio que de “damas” ele entende somente das damas do baralho, não é? — e riu à vontade.

— Isto não lhe interessa senhor Simon — corrigiu imediatamente, não gostando da comparação. — Não lhe dei a liberdade de se intrometer na minha vida. Se quiser trabalhar aqui terá que repensar sobre suas idéias.

— Desculpe-me, senhorita MacGreen, se a ofendi, eu não tive esta intenção. Jamais! Tentei fazer um elogio sobre a senhorita. Queria dizer que Ben não dá o devido valor para uma jovem tão bonita como a senhorita. Perdoa-me se a ofendi. Perdoe-me! — disse subserviente. MacGreen sabia que estava corada.

— Assim, esta melhor! — regozijou-se satisfeita. — Mas... voltando ao assunto que o trouxe aqui, não tenho como pagar os salários milionários de Chambord. Sei que o senhor é um capataz muito caro.

— Não me importo com isso, senhorita, quem sabe sua beleza complete o restante — bajulou novamente, não se dando por vencido.

— É sempre bajulador assim, senhor Simon!

— Somente quando uma dama merece senhorita... Não perco meu tempo com coisas sem valor nesta vida. Mesmo sabendo que jamais será minha não pode tirar de mim o direito de render-me aos seus encantos.

Meu Deus, o que fazer com aquele homem tão seguro de si! Se Ben fosse assim e falasse com aquela sinceridade e firmeza... Pena que Simon era um simples e bonito e charmoso vaqueiro, senão... — pensou MacGreen.

— Seus serviços são tão impecáveis que mereça um salário tão alto! Há muito trabalho em meu rancho, senhor Simon — ela retrucou não se dando por vencida e tentando ver qual seria a reação dele.

— Segundo dizem, nem só de pão vive o homem, senhorita... os sonhos também fazem parte da vida. E... no Rancho Chambord, eu não era apenas um tomador de conta daquele rancho — fez uma pausa —, eu comprava gado, negociava gado e, além disso, ajudava a vistoriar os ranchos inadimplentes com o Banco Chambord e avaliava os ranchos para uma penhora! — frisou, dando a ela uma deixa, pois sabia dos problemas do Rancho MacGreen com o Chambord Bank. — Conheço os negócios dele...

— Interessante... não sabia que era tão capaz assim! — disse ela com uma voz suave e menos autoritária. — Não sabia que Chambord tinha um espião entre nós. Por isso, ele sempre sai lucrando, não é?

— Não sou um espião, senhorita, não me interprete mal. Sei ler e escrever muito bem e já trabalhei no escritório da Union Pacific. Não sou apenas um capataz, sou um administrador e ganho porcentagem nos negócios com gado e gosto da vida selvagem. Já morei no Leste, Nova Iorque e em outras cidades grandes, mas o Oeste é minha paixão! É uma vida excitante...

— Chambord não perderia uma pessoa assim por motivos tão banais...

— Bem, eu não tenho o costume de sair por aí falando mal das pessoas, mas realmente o motivo é outro. Descobri que Chambord não tem agido com lisura em relação aos negócios com os rancheiros, coitados... não coaduno com tal tipo de conduta. Ele me usava.

— Como assim! — exclamou MacGreen, quase sem querer.

— Eu vou lhe explicar... Posso entrar?

— Oh, claro!

George Benedict ouvia toda a conversa do lado de fora da casa. Imaginou não ser o momento ideal para tratar sobre seus planos com a senhorita MacGreen e aquela conversa estava muito interessante. Sorrateiramente, voltou ao seu cavalo e rumou para a cidade. Pelo caminho arquitetou um bom plano. E, então, parou em frente ao Chambord Bank.

— Senhor Chambord... — disse com certo cavalheirismo, pois sabia que Chambord jamais lhe receberia para tratar de assuntos financeiros.

— Acho que deve ter entrado na porta errada, senhor Ben! Aqui não jogamos cartas — foi logo dizendo Chambord, sem lhe dar muita atenção e demonstrando total desapontamento em vê-lo em seu banco.

— Bem, como sou um cavalheiro, relevarei tais sugestões e ainda mais vinda de um homem honesto como o senhor — retrucou George Benedict.

— Senhor George Benedict... — tentou falar Chambord.

— Pode me chamar de Ben... — e sorriu levemente.

— Pois, bem, senhor Ben, eu estou muito ocupado agora para ouvir insinuações baratas e ainda mais vinda de um tipo como o senhor!

— Pode perder um minuto do seu precioso tempo comigo? Estou vindo do rancho de Helen MacGreen e ouvi uma conversa dela com seu ex-capataz, talvez, queria saber o conteúdo... O senhor não é o que todos pensam que é, segundo ele, claro! E, algumas coisas que acontecem na região, ele crê que o senhor esta envolvido. Segundo seu capataz, claro, no seu banco há muita inadimplência e nunca vai à bancarrota, pois o dinheiro acaba voltando intacto aos seus cofres e a pessoa que pede o empréstimo continua lhe devendo e tem o rancho penhorado!

— Isso é uma acusação muito séria, senhor Ben... Tem certeza que ouviu mesmo isso dele!

— Há outros detalhes também... e se os rancheiros souberem ninguém irá pagar mesmo o senhor e talvez o senhor possa ter uma... bem, não queria dizer isso, mas pode ter uma corda no pescoço pelo que faz por aí!

Chambord o olhou fulo de raiva, mas tentou não demonstrar. Aquilo não poderia estar acontecendo. Talvez, Peter Simon estivesse mudando de lado encantado pela beleza e pela herança da senhorita MacGreen — pensou Chambord.

— Eu não acredito que o senhor veio até aqui apenas para me dizer estas insinuações, senhor Ben. Não precisa de desculpas, se porventura deseja um empréstimo e quem sabe esteja constrangido em pedi-lo, não precisa de subterfúgios, gosto de ajudar os amigos — brincou Chambord tentando fazer com que ele parasse de comentar aquelas coisas dentro de seu banco. Alguém poderia ouvir. Sorriu para George Benedict esperando sua resposta.

— O segundo motivo é este, senhor Chambord. Estou precisando de um bom empréstimo! — frisou Benedict aproveitando a deixa.

— De quanto! — indagou Chambord remexendo alguns papéis.

— Talvez, vinte mil dólares, por enquanto, em dinheiro e agora...

Chambord olhou para ele com tanta raiva que custou a soltar um sorriso frouxo. Mesmo assim, apesar todo o ódio que sentia naquele momento, teve um instante de lucidez... Aquele idiota teria o que merecia!

— Deve tão pouco assim! Pelo que ouço falar a quantia é maior!

— Trinta... então!

— Por que não resolve todos os seus problemas de uma vez por todas, senhor Benedict — disse em voz baixa, não desejando ser ouvido.

— Como assim!

— Por que não leva uns cinqüenta mil dólares, ora! Se, claro, esta conversa ficar apenas entre nós dois — e lhe sorriu forçosamente. — Sei que o senhor saberá guardar certos segredos, não é mesmo!

— Claro... que sim! Sou um homem de princípios.

— Entendo... Pode preencher estes papéis — pediu o banqueiro. — Vou à tesouraria. Espere um minuto!

George Benedict sorriu para si. Estava começando a dar um pontapé no traseiro daquela maré de má sorte. O próximo passo, se casar com Helen MacGreen e herdar todo aquele rancho. Havia descoberto uma mina de ouro.

Chambord voltou da tesouraria com um embrulho. Olhou para seu cliente indesejável. Não sabia se lhe dava um tiro ou... bem, ele não perderia por esperar. Abriu levemente o embrulho. Não queria que ninguém visse aquela transação. Vários maços de cédulas de dólares apareceram na frente de George Benedict. E, então, disse a ele:

— Se quiser conferir... há cinqüenta mil dólares aqui!

— Creio que não será necessário. Confio nos homens de negócios desta cidade. Eu também não gostaria que a notícia se espalhasse pela cidade — tomando para si o pacote e entregando as folhas preenchidas a Chambord. Levantou-se.

— O que significa isso! — exclamou Chambord ao olhar rapidamente as folhas. Todas estavam preenchidas corretamente, porém, em seu próprio nome e com o endereço do seu banco.

— Senhor Chambord... o senhor não vai querer que eu preencha todos os papéis corretamente, e se quiser podemos preenchê-los na delegacia e preencherei esses e outros que o xerife me der — e saiu.

Chambord o seguiu com os olhos. E sem perceber caminhou até a rua, mas George Benedict já se ia ao longe.

O xerife vinha pela rua a cavalo. Chambord acenou a ele, sutilmente.

— O que deseja senhor Chambord? — perguntou o xerife.

— O senhor sabe que apenas quatro pessoas, fora o velho MacGreen, sabiam o que ele levava, não é? — instigando a mente do xerife.

— Sim! O senhor, seu tesoureiro, o namorado da senhorita MacGreen, ela mesma — respondeu o xerife.

— Bem, então, ouça o que eu tenho a lhe dizer... George Benedict acabou de sair do meu banco... queria depositar cinqüenta mil dólares e eu...

*****

— Bem, senhorita MacGreen — dizia Simon, num tom de galanteio aproximando-se mais dela junto à mesa da sala —, creio que poderemos juntar nossas forças e enfrentar Chambord. Ele não a molestará sabendo que estou do lado da senhorita.

— Espero que sim — sentindo a respiração dele bem próxima. — Se realmente me ajudar, senhor Simon — esquivando-se de um beijo iminente —, seremos namorados de fachada, não se esqueça disso! Será apenas para provocar algumas pessoas e deixar Chambord quieto.

— Eu jogo limpo, senhorita. Portanto, não me decepcione! Quero apenas um beijo para selar nosso acordo!

— Apenas... um beijo! Eu ainda tenho lá minhas dúvidas quanto à sua fidelidade a Chambord — cedendo aos encantos de Simon.

Depois de beijá-la ardentemente, Peter Simon, parou. Percebeu que ela gostaria que continuasse, mas queria ganhar a confiança dela.

— Sou um homem de palavra, senhorita. Apenas, um beijo.

— É bom lidar com homens assim — tentando esconder seu desapontamento. — O que pretende fazer de imediato?

— Vamos começar por eliminação... não podemos enfrentar logo de cara o senhor Chambord. Devemos esperar que ele venha até nós e como você mesmo disse, somente Chambord, o tesoureiro, Ben e a senhorita sabiam que seu pai levava aquele dinheiro...

— Certo!

— O idiota do tesoureiro de Chambord não faria isso! Ele sabe o que lhe aconteceria se fizesse algo semelhante. Resta-nos, então, o próprio Chambord, Ben e a senhorita.

— Ora, esta! Estou lutando para recuperar esse dinheiro.

— Resta-nos, então, senhorita, dois! E, desses dois, ou o senhor Chambord ou então, George Benedict!

— Ben... ele tem medo da própria sombra. Não faria isso.

— Vamos visitá-lo! Ele sempre anda meio endividado. Dizem que Timoty Jacob e outros não estão lhe dando sossego.

— Vou trocar minhas roupas. Irei com você ao rancho dele — falou MacGreen retirando-se. Pelo caminho rumo ao quarto passou a mão pelos lábios ainda úmidos e sorriu para si.

*****

George Benedict não se continha de satisfação. Sozinho em seu rancho contava aquele monte de dinheiro espalhado em cima de sua cama, coisa que havia feito já várias vezes. Estava em estado de graça. Riu para si da idéia brilhante que havia tido: cinqüenta mil dólares! Nunca mais iria levar aquela vida miserável e cheia de cobradores à sua volta. Sairia da cidade e que se danassem os outros credores seu... já que a senhorita MacGreen estava mesmo lhe descartando.

Faria duas coisas ao mesmo tempo: ficaria livre daquele rancho imprestável e mandaria sua má sorte para o inferno. Pensando assim, escondeu bem todo o seu dinheiro, montou em seu cavalo e rumou para a cidade. Diria a Timoty Jacob que ficasse com o rancho. Iria embora!

*****

— Ele esta saindo do rancho — disse MacGreen.

— É melhor assim! Depois iremos à cidade. Ele esta sempre naquele saloon imundo.

Esperaram alguns minutos até que George Benedict sumisse pela estrada. Magistralmente, Simon, abriu uma das janelas com uma faca. MacGreen e Simon, então, começaram a fazer uma varredura dentro da cabana fazendo o possível para deixar tudo no mesmo lugar. Helen MacGreen revirava cuidadosamente um dos cômodos removendo estritamente o necessário. Simon fazia o mesmo em outro cômodo.

— Encontrou alguma coisa, senhorita? — perguntou Simon.

— Não! Acho que não há nada por aqui — respondeu ela indo ao encontro dele. Passou a mão pela cabeça como se sentisse uma dor.

— O que foi? — indagou Simon.

— Não estou me sentindo bem, estou muito tensa esses dias e, não achamos nada aqui. É melhor irmos embora — lamentou-se MacGreen.

— O que foi?

— Eu estava indisposta o dia todo, esta piorando. O senhor se importa de ir sozinho para a cidade? Eu vou voltar ao meu rancho.

— Eu a levarei até lá, senhorita. Vamos! — frisou Simon, condoído.

— Não precisa. Daqui até lá é um pulo – disse ela saltando a janela.

— Faço questão...

— Não precisa senhor Simon. Não é um caso de vida ou morte. Acho que estou muito tensa com tudo isso. Não quero indispor com Ben sem um motivo justo. Ele poderá não ter nada com isto. Vá sozinho!

— Se prefere assim...

— Não estou bem... Até mais tarde — disse rumo ao seu rancho.

Lucas Durand
Enviado por Lucas Durand em 19/02/2007
Reeditado em 21/12/2009
Código do texto: T386394
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