Insone

Eu não quero dormir. Não agora, não com tanta coisa na cabeça, não com essa necessidade de botar pra fora, nem que seja nessas mal formadas linhas, uma coisa ou outra que tem me incomodado. Não digo que tenham me tirado o sono. Não digo que seja um problema irreparável. A bem da verdade, nem sei o que eu digo. Talvez seja apenas uma válvula de escape para ideias corrosivas que tem me incomodado. Eu não quero dormir, tanta coisa ainda há de ser feita, tanto o que ler, ver e ouvir. Não, eu queria ser uma máquina, queria que as minhas necessidades básicas fossem restituídas via energia elétrica, ou até mesmo via USB.

Ou talvez eu queira dormir. Afinal de contas, eu não sou mesmo um aparelho. E essas necessidades chegam a ser prazerosas quando realizadas, como por exemplo dormir (bem), comer (o que se gosta), respirar (um ar puro), urinar (quando estiver com a bexiga muito cheia). Necessidades que se tornam prazeres na base do porém. Do parêntese. De uma condição específica. Não seria então melhor ser uma máquina?

Máquina insone, que não para, mas tem uma vida útil. Muito curta, se comparadas com algumas tecnologias existentes algumas décadas atrás. Principalmente pelo fato de haver muita reposição, sempre existe algo melhor sendo lançado. A concorrência é deveras acirrada, e os produtos já estão obsoletos antes mesmo de sair da caixa, por mais novos que sejam.

Esse papo não vai chegar a lugar nenhum, é só uma divagação. Vou continuar acordado podendo estar dormindo, porém, mesmo que eu quisesse, talvez eu não pudesse. Eu precisaria de algo ou alguém para regular o meu relógio biológico. E invejo pessoas que encostam-se a qualquer canto e dali pouquíssimo tempo já pega no sono. Eu posso estar cansado, deitado, e ainda assim acordado. Não sou o único, sei que existem muitos outros que são assim também, pra não dizer piores. Para mais ou para menos. Como em pessoas que dormem demais ou de menos, a ponto de isso lhes fazer mal. Assim como pessoas, nessas mesmas condições, que conseguem ficar bem com poucas horas de sono.

Não estou aqui pra me explicar. E sim que precisei perder esses minutos em que eu poderia estar na cama, talvez lendo algo ou zapeando a tv, para vir a esse texto. Para dizer que me incomodei a ponto de incomodar um possível leitor desses parágrafos. Não necessariamente para dizer que, sob determinado ponto de vista, a vida pode ser uma droga, assim como pode ser excelente. Repito, é um ponto de vista. O meu pode ser diferente do seu. Eu posso me inquietar numa condição que seria perfeita para qualquer outro. Olha, quer saber? Nem eu sei por que vim. Sei que sei usar os porquês. Por quê? Porque sim. Porque sem nem ter um por que. Vai entender.

Aliás. Bom dia. São 03h26.

GaP
Enviado por GaP em 08/09/2012
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