Coisas de um Dia de Campanha.

A disputa é acirrada. Na esquina o “pede voto” equivale à caça de predadores carniceiros contra suas presas populares, trancafiadas em seus lares de dores, televisores, labores e computadores.

Ao lado da via pública, uma senhora lasciva, mais velha que o Papa, ergue sua saia devido ao forte calor, enquanto o candidato transpira a testa e mantém o olhar vítreo em cumprimentos autômatos. Sente nojo do nariz de uma pobre criança parda, mas mesma assim, a contragosto, franzindo o cenho, beija sua face com uma amabilidade celestial; em seguida, virando o rosto abruptamente, olha para seu assessor e solta um leve peido seguida da expressão “puta que pariu!”, limpando o suor da testa com a costa da “mão esquerda de Deus”, que o arrasta para mais um “pede voto”.

O Manduca morreu ontem.

O Manduca era eleitor assíduo do Zé Roberto. Na verdade o Manduca estava morrendo há um bom tempo; definhava e as pessoas, quando este lhes pedia dois reais para comprar a seringa da injeção para sua falta de ar decorrente do enfisema, ou davam ou negavam, como é óbvio, mas eram unânimes os comentários no sentido de que “o Manduca pedia dinheiro para comprar drogas”. Agora que morreu talvez acreditem no que dizia... Usou drogas sim no decorrer de seus dias, mas nunca aquela mais devastadora de todas, a famigerada “mentira”. Morreu também a Hebe, o Cock Astral de Lótus e o Autran Dourado, mas quanto a estes o tempo é curto demais para tecer agora considerações a respeito.

Os políticos trabalham três meses a cada quatro anos, nos períodos de campanhas, e em suas mentes doentias isso faz com que sejam merecedores de parte da verba pública. E travam batalhas sangrentas... É Tudo tão impudico e vulgar que muitos eleitores, delirantes, riem para não chorar, tamanho seus esgotamentos físicos e mentais na hora do jantar, na hora do descanso, da novela, já que sem armas e sem forças sequer para argumentar dentro da tragicômica realidade pátria, o melhor mesmo é baixar a cabeça e seguir em frente, sem pestanejar...

Passado o vendaval de desilusões, os garis limpam a sujeira lançada

nas ruas e comentam entre si o ocorrido, observando estupefatos que tudo, tudo vai sempre igual... , que o tempo urge e que a necessidade continua premente, e que, por outro lado, a momentânea satisfação de prazer dos beneficiários do sistema eleitoreiro equipara-se mil vezes mais a ouro de tolo do que a gloria dos serenos de coração...

E assim caminha a humanidade, como gostam de dizer os poetas sem argumentos...

SAvok OnAitsirk, 4.10.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 04/10/2012
Reeditado em 05/10/2012
Código do texto: T3916154
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