VIDA DE GREGOS

MAR-RABA¹... Raquel, esse era seu nome de batismo. Filha de família de Turcos. Possuía cinco irmãos, sendo apenas um do sexo masculino.

Ela, Raquel, era a mais revoltada de todas as irmãs, por não achar justo o filho homem ter mais poder do que elas, as mulheres. Não compreendia por que tinha que ser assim o que acontecia nesta cultura

Mesmo agora morando no Brasil, apenas seus avôs nasceram na Turquia, seus pais e todos os filhos aqui no Brasil. Mas a ordem era severa. Tinham que cumprir tudo que era estabelecido pelo patriarca da família, muito usual nesta cultura.

As peças de tecidos que a mãe e a avó compravam, de linho puro, primeiro eram usados para confeccionar os ternos e camisas para o filho homem. As sobras eram divididas entre elas, as irmãs. Não eram muito, o que as deixavam tristes, mesmo recebendo o carinho e a explicação da avó e da mãe, que faziam de tudo com o maior zelo e capricho, aplicando fitas e enfeites.

Assim os anos passaram. O filho homem namorou, noivou e se casou. Foi a primeira festa entre eles, linda demais, um marco nas redondezas, que não conheciam uma festa deste porte, unindo árabes e brasileiros.

As irmãs, todas elas, curtiram demais, pois no final da conta amavam seu mano, apesar de ele ser seu segundo pai conforme a tradição. Já tinham que se virar com os olhares do pai quando arrumavam um pretendente, imaginem dois! Vigilância severa e dobrada! Contudo, todas se casaram com bons partidos, e todas foram felizes na medida do possível.

Em qualquer cultura, sempre existem conflitos. Todas se casaram com partidos brasileiros, para que o avô chorasse de tristeza, mas aceitou e os abençoou. Foi o primeiro a mudar de esfera.

Rubens, Maria, Mara, Marta e Raquel; cinco irmãos que sempre, no final do ano, passavam as festas na casa de Rubens, por ter um poder aquisitivo maior; era fiscal do imposto de renda.

As festas eram incríveis, comidas árabes e brasileiras. A música era apenas árabe, com belíssimas dançarinas do ventre, com espada e tudo. Apesar do ciúme das irmãs, no fundo elas se divertiam muito.

Só que a esposa dele, que se chamava Malvina, era intragável. Só causava mal estar, mas a união de todos a deixava para trás.

Rubens não se separava dela por isso ser inadmissível na cultura.

Principalmente maltratar os convidados. Mas ele dava seu troco; era o maior boêmio das noitadas paulistanas.

Raquel era a mais humilde e sofrida. Citarei apenas ela, porque se faz relevante. Era a maior doceira de trufas, mas tinha um marido muito machão que além de não dar-lhe muito dinheiro, ainda ficava com algumas de suas trufas.

A coitada, além de usar aparelho para audição, era muito magra. Sua dentadura ficou larga e seus lábios mudaram, o que a deixou com um aspecto desagradável. Ela correu atrás de tudo, mesmo sem ter muito dinheiro. Queria fazer na própria dentadura um enxerto para aumentar o volume dos lábios, mas na época que foi feita a dentadura isso já havia sido feito, e o dentista recomendou botox; um tratamento com três sessões ajudaria demais! Porém, o valor estimado seria de mais ou menos dois mil reais.

Raquel então foi falar com o marido. Ele virou para ela e simplesmente disse:

- Nós precisando de um carro e você quer gastar os dois mil reais de entrada para encher a boca, da qual eu nunca reclamei. É feia, mas eu não ligo. Vá fazer suas trufas e fale menos, assim disfarça sua boca. Aasef ²! – prosseguiu - Tive uma idéia fenomenal, vamos fazer uma massa leve e colar com super bonder! O que você acha da minha idéia, amorzinho?

Ela simplesmente retrucou:

- Masnune³... Vá colar essa massa imunda na sua... Cara! E essa parte não rimou porque sou educada...

As-salaam-alaykum4

Nota da Autora:

1. Saudação

2. Desculpe

3. Maluco

4. A paz esteja contigo

Luamor
Enviado por Luamor em 05/10/2012
Reeditado em 05/10/2012
Código do texto: T3917688
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