ESCRAVIZEI MEU CORAÇÃO
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Billy Brasil – 06-10-2012 – 15,56 hs – sábado
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Corre o ano de 1748. Brasil efervescente, com a escravatura. Procuro ser uma pessoa justa e amável com todas as pessoas dos arredores de minha fazenda, e da cidade de Passos-RJ. Meu nome Cel. Zambrósio. Nunca fui militar, mas o dinheiro e poder deram-me esse titulo e essa posição. Minha família é pequena, esposa Maria e duas filhas, Arminda e Glória (desde pequena a chamamos de Glorinha). Tenho muitas terras a perder de vista. Muitos escravos e perdi a conta, quem sabe é o guarda livros Josué. Rapaz mirradinho, com 23 anos de idade, estudou na fazenda onde moro, pois pago uma professora todo mês pra vir ensinar os peões e escravos. Tem um rapaz filho de escravos já falecidos, criado em casa com certo carinho. Três anos mais velho que minha filha Arminda. Deram a ele o nome de Tião, ou melhor, Sebastião. Esperto, dono de um sorriso bonito e dentes branquinhos. Tenho um revolver que trago na cinta, mas nunca precisei dar um tiro. Sou alto 1,90 de altura, 95 quilos um pouquinho acima do peso segundo o médico. Minha esposa a Maria, é uma pessoa nervosa e impaciente. Minha filha Arminda um encanto, moça recatada e tímida. Se parece com o avô D. Gregório que Deus o tenha. Era bravo, parecia um boi xucro do mato. Glorinha meu xodó, parecia uma cabritinha correndo por essa campina, era espoleta corria pra cá e pra lá. Semana passada fez 17 aninhos foi uma festança de tirar o chapéu. Mandei matar muitos bois enchi a barriga de gente que nunca vi. Um dia a passeio meu cavalo assustou-se com uma cascavel, empinou-se para trás e saiu a galope, fui jogado em uma vala longe da fazenda, onde quebrei minha perna direita. Naquele local só havia e assim mesmo longe, uma velha casinha abandonada com dois cômodos. Rapidamente anoiteceu, a dor era intensa não conseguia ficar de pé. Adormeci de cansaço e acordei com barulhos na ponta da vala eram vozes. Tochas iluminaram a borda da vala, e ouvi uma voz conhecida. Cel. Amarre essa corda em sua cintura vamos puxá-lo. Fiz o que me pediram e logo estava a salvo daquele lugar. Perguntei como descobriram e disseram que foi Tião que desconfiara depois do cavalo ter chego à fazenda ofegante. Perguntei a ele como conhecia aquele lugar, ele respondeu que brincava com os meninos ali quando criança. Recuperei-me da fratura e, um belo dia Glorinha a galope com seu cavalo, perdeu o controle e embrenhou-se pela mata. Horas depois de procurarem ela aparece com um filete de sangue em suas vestes menstruara. Era mês de setembro o dia amanheceu lindo o sol esbanjava energia mandando seus raios como pequenos vulcões. Resolvi passar na casinha abandonada e dessa vez não apareceu nenhuma cobra para assustar meu cavalo. Descobri vestígios humanos, fogão a lenha com cinzas recentes, algumas espigas de milho e arroz. Uma cama de ferro e colchão de palha, panelas algumas de barro. Evidente que estavam usando a casinha e sem minha autorização, pois essas terras são minhas, portanto. Fui dormir com isso na cabeça. Coloquei meu capataz pra ficar de olho e comunicar alguma atividade fora do normal. Passado alguns dias o capataz ofegante dirigiu-se a minha pessoa dizendo que descobrira quem usava a casinha o Tião. Em minha presença ele desculpou-se dizendo que não mais usaria aquela casinha, pedi apenas que me avisasse percebi que o rapaz devia estar levando umas negrinhas para se divertir. Quatro meses depois o capataz numa tarde um pouco nublada já passando das 16 horas, aproximou-se pedindo que eu fosse com ele na casinha, pois estava ocorrendo algo errado. Rapidamente montamos nossos cavalos desci em frente à porta que abri aos pontapés. Nus, fazendo amor naquela cama com colchão de palha, minha filha Glorinha e Tião. Fiquei em choque!
Demorei alguns segundos pra me recuperar, em seguida senti um ódio subir pela espinha. Aproximei de minha filha e esbofeteei seu rosto, onde rolaram lágrimas que nunca esqueci, pois quase se misturaram as minhas. Pedi pra sair chamando-a de vagabunda. Vestiu-se montou em seu cavalo e voltou para a fazenda. Ordenei dêem uma coça nele. O capataz de imediato obedeceu e, a cada chibatada mais aumentava meu ódio, pois ele não chorava, não gritava, não implorava pela vida. Todo ensangüentado algum resquício de pena compadeceu-se momentaneamente de minha alma, em seguida sem forças no chão tive o ímpeto de um pai ofendido e humilhado e o esbofeteei violentamente que até quebrei meu pulso. Exausto olhou para dentro de meus olhos e disse: Cel. morro feliz, mas nada vai mudar o amor que eu e sua filha sentimos um pelo outro. Quando ia esmurrá-lo novamente deu seu ultimo suspiro. Ficou essa marca em minha vida. Hoje estou com 98 anos de idade, cansado, doente e na cama. Deus me deu vida longa pra pagar cada segundo de meu ódio, covardia e vergonha. Nunca mais falei com minha filha. Maria é morta há muitos anos pelo sofrimento. Arminda casou-se e foi morar em São Paulo com o marido. Glorinha nunca mais teve outro homem, teve o filho na senzala. Rapaz fino e educado, forte, estuda medicina e cuida de mim afirmando que será dessa forma até o dia de minha morte. É meu neto, filho de Tião e minha filha Glorinha.
Nota do autor: História, local e personagens fictícios. Se alguém souber de alguma história parecida ou semelhante é mera coincidência. O único detalhe curioso e talvez relevante seja que esse conto foi escrito após um sonho com nuances parecido. Obrigado a todos pela atenção e carinho. Billy Brasil.
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