Diário da ceifadora

Diário da ceifadora

Querido folgário, é formidável revê-lo! Ou seria reescrevê-lo, já que você é um folgário…bem, não importa, acho. Aconteceram muitas coisas, transportei muitas almas de humanos de um lado pra outro durante esse tempo - não que eu me importe com eles, é o meu trabalho - mas não é um humano que merece o espaço dessa folga. É um “parente distante”, digamos assim. Ou um “colega transferido pra outro departamento”? Difícil definir pra mim, e difícil era a definição da criatura. Cabelos negros nos ombros, olhos brancos, pele pálida, e se dizia ceifador. Mas não era ceifador de almas. Era ceifador de orgasmos. Não faço ideia do que um desses faz, nem prestei muita atenção nisso…estava eu espantada demais com tudo aquilo pra gravar tudo. E se eu, que carreguei todo tipo de gente me espantei, digo os motivos para isso agora: estava morto, mas estava “vivo”, e se apresentou dizendo que era o tesão, “o prazer é todo seu”, etc e tal, perguntou se eu gostei/gozei da foice grande e dura dele e sugeriu que eu caísse de boca na…história dele, ou algo do tipo. Pode? Enfim, folgário, era um folgado. Gostava de apertar bundas, tava muito “vivo” e esquentadinho pra um morto. Mas definitivamente morto. E estranhamente…”vivo”, se era o tesão mesmo, como fazia questão de afirmar. Espantoso mesmo foi o que disse quando finalmente falou sério: “o criador acabou minha jornada, então morri, mas fiquei vivo por aí em quem acompanhou ela, sabe…esquisito, né?”. Sim, esquisito. O que ele era, por acaso? Algum tipo de personagem? E se fosse, tinha sido muito ruim pro “criador” desistir ou muito boa pro “criador” não querer estragar forçando uma continuação? E se ele era um personagem, eu também era? Todos os ceifadores, incluindo eu, esse, aqueles três e os que nunca vi são todos personagens com “criadores” que encerram nossas jornadas quando bem entender? Concorde que é muito esquisito, folgário, e que demonstro aqui estar espantada com essa história, mas que não liguei muito conforme o tempo for passando. Se um dia for encerrada por ser uma personagem, tenho certeza que fui uma personagem que cumpriu seu papel pra amadurecer o aprendizado do “criador” e tal, alguma coisa assim. Ao menos, foi o que eu vi na alma daquele ceifador que carreguei pro meu quar- ahn…quadro de lições importantes. Enfim, por enquanto…é isso. Até a próxima folga, ou a do “criador”, vai saber. Não sei de mais nada, só que carrego humanos - e que isso não significa que eu me importe com eles.

A Ceifadora

Transcrito por Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 09/10/2012
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