PISTILO E ESTAME

“Oi, tudo bom?”.

E entre esses dois recursos fáticos, treze, doze anos e um gole de água de coco. Eu entendi seu olhar soberbo, carregado de uma petulância pueril e de uma segurança adulta, bem próprio das mulheres filhas de Atena, sábias, que conhecem mente, corpo e espírito de nós, pobres escravos, que só sabemos lidar com as descendentes de Eva, submissa, cujo Deus nós não conseguimos controlar.

Então ela pôs seus olhos em mim, indo e vindo com a meninice das suas pupilas cas-tanho-esverdeadas, e os pôs tão profundamente que eu enrubesci. Ela, treze, doze anos, me fez enrubescer. Com apenas três palavras, me deixou sem palavra alguma, pois em situa-ções extremas eu não consigo ser trivial, não conseguiria, naquele momento, responder: “Oi, tudo bom”. E situações de meninas que desabotoam para o mundo no meio do inv(f)erno da minha vida é uma situação extrema. Ela cresceu. A natureza foi competente, mas me privou de notar seu trabalho passo a passo, fui pego de surpresa. De trás daquele carro vermelho ela surgiu para me dizer… ora dizer, não importa o que ela disse… para me olhar daquele jeito, para sugar a água de coco tão lubricamente, fazendo-me engolir seco e desviar o olhar. Sim, ela me fez desviar o olhar.

Humbert Humbert esqueceria sua Lolita no mesmo instante em que ouvisse o baru-lhinho da água de coco tomando o lugar do ar da boca daquela menina, mais ainda, no mo-mento em que ela enxugasse com o indicador direito uma gota da água que, por afobação ou descuido, escorreu pelo seu lábio. Este, úmido, abriu-se num sorriso pela falta da minha fala, posto que era humanamente impossível articular palavra naquele instante, e ela não era humana, pelo menos não durante aqueles segundos.