Olhos de ontem a noite...

- Foi em uma primavera a noite, no circo que nos conhecemos. Eu era criança e vi uma garotinha chorando sozinha, perdida. Me aproximei e ela disse que se perdeu dos pais e estava com medo, e eu a abracei e lhe disse que jamais a deixaria sozinha...

Desde então éramos um só, eu e ela, crescemos e brincamos juntos. Ela dizia que eu era o seu único amigo e eu concordava porque formávamos um amálgama, mas com o passar das primaveras tivemos planos diferentes. Eu gostava do meu mundo e ela gostava do mundo por isso resolveu partir.

E a vida é um eterno devir, cheio de idas e vindas, veja que ironia! Anos se passaram e hoje a reencontrei, aguardando o mesmo trem das dez que nós, eu um simples pescador e ela a dona do mundo e percebi tristeza em seus olhos...

- Papai! O senhor amava esta mulher, não amava?

- Eu amo muito sua mãe, meu filho, mas há algo na minha velha amiga que jamais esquecerei. E hoje a reencontrando percebi o quanto a vida é surpreendente! Um dia brincamos juntos na areia, hoje mal cumprimentamos na estação.

- Pai, o senhor está chorando! E eu de longe percebi que ela também chorava...

- Talvez seja, filho, porque ela também se lembrou da promessa que um dia fizemos! Quando ela decidiu partir eu, sentado na areia, frente ao mar a abracei e lhe disse, que ali eu ficaria até o momento dela ir embora e prometemos jamais dizer adeus.

Mas o tempo transforma os sentimentos e as promessas em doces e saudosas recordações, na época não nos despedimos e ela foi para outro lugar!

Hoje eu sei que ela retornou para morar aqui, poderíamos voltar a ser amigos como outrora, mas quando o trem chegou, a última coisa que fizemos foi nos olharmos então compreendi que o passado não retorna, nos despedimos e dizemos adeus...

Daniela Moura Rocha de Souza
Enviado por Daniela Moura Rocha de Souza em 25/02/2007
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