Muladeiro (capítulo I)

Recantistas que leem meus textos e os que vão chegar. Postarei textos baseados em fatos, e em memória póstuma de meu avô paterno.

Tenho imenso orgulho da pesquisa que fiz com meus pais, com tios, pois não conheci o meu avô.

Espero que acompanhem a narrativa, comentem e que gostem.

Boa leitura!

Abraços *-*

Alguns acreditavam que Muladeiro era um homem que nascera para chefiar; outros, entretanto, quase se borravam nas calças só de escutar seu nome.

Antonio Du Pont Soares era mais conhecido como Muladeiro. O codinome surgiu quando, ainda criança, brincava com a tropa do pai, dando sempre preferência às mulas. Domava-as com tanto rigor, que as pobres fêmeas obedeciam-no a fim de não ser chicoteadas até o couro sangrar.

___ Vai, mula imprestável! Me obedece logo, antes que eu lhe arranque a crina num único puxão. – e com apenas treze anos, sentia a força e a aptidão para domar os mais bravos e xucros animais da fazenda.

O pai orgulhava-se, quando via seu único filho seguindo às instruções que lhe dera para a vida na fazenda. A mãe, que não teria outros filhos, vivia sua vida entre o fogão e a escutar os choramingos do marido.

___ Por que não me deu mais filhos, mulher? Sempre quis ver essa casa cheia desses pirralhos, gritando e fazendo o nome da família. Por quê? Por quê?

Teodoro era implacável nesse assunto. Acusava Ernestina pela curta prole, esquecendo-se de que quem não mais poderia ter filhos era ele. Um coice traiçoeiro de uma de suas mulas deixou-o estéril, naquele domingo chuvoso, que anunciava a chegada do verão.

Saiu às pressas para salvar alguns animais, que pastavam no período vespertino, quando a chuva veio sem avisar, deixando alguns animais ilhados.

___ Corre lá, Téo! Chame o Israel e o Minduim pra te ajudar. As mulas e os cavalos tão ficando atolados na lama. Parece que o mundo vai acabar em água, de novo! Êta chuvarada forte! – disse-lhe Ernestina, segurando o pequeno Antonio em seus braços.

Os dois funcionários da fazenda eram devotados e não se aborreciam com o excesso de ordens dadas pelo patrão, mesmo em seus dias de descanso.

Israel e Minduim moravam na fazenda, porque não tinham para onde ir. Eram irmãos que fugiram da tirania do pai, e andaram sem rumo, até chegar à fazenda do “Seu Téo”.

___ Vocês podem ficar aqui, mas não quero saber de desordem, nem de mulherada à toa. Também não quero gracejos com a patroa. Temos uma criança de colo; ela anda muito cansada. Dizem que é doença de pós parto. O trabalho é pesado, mas é pago. Funcionário meu não trabalha de graça. Não posso lhes pagar um bom salário, mas garanto comida e abrigo. Querem ficar?

Sem pensar duas vezes, os irmãos disseram “sim, patrão, já estamos prontos pro trabalho”; e, após a aceitação, o fazendeiro cedeu-lhes um quartinho com pouca luminosidade, do lado de fora da casa, mas com conforto suficiente para quem, antes, abrigava-se ao relento.

Silvana Goes
Enviado por Silvana Goes em 01/11/2012
Código do texto: T3964016
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