Latifa

Desengonçada, sozinha e desanimada, seu mundo era aquele quarto onde, a duras penas, pagava o aluguel. Sem pai, sem mãe, ou irmãos, foi criada por uma tia sovina, mal amada, solitária e vazia, que negou à pobre sobrinha até o pão. Desde os quatro anos, quando foi parar nas mãos da tia, a pedido da sua avó em seu leito de morte, a menina Latifa já tinha os seus afazeres (que não era brincar como toda criança na sua idade) e a tia a cada dia mais rabugenta, enchia a pobrezinha de tarefas. Aos nove anos mandou-a para a escola porque um padre amigo da senhora a intimou, dizendo que manter a pobre órfã sem a leitura era sacrilégio, mas durou somente o tempo de aprender a escrever o seu nome, porque com 10 anos a menina já tomava conta do casarão e dos netos mimados da velhota arrogante.

Nessa época, Latifa dormia no quartinho fora da casa, onde guardavam coisas velhas, nunca adoeceu, mas quando tinha gripe, a megera já gritava: “quem não trabalha não come!”

Foi entre os doze e os quatorze anos que conheceu dona Olga, uma costureira de mão cheia, que costurava para as filhas da senhora sovina e a mulher, vendo o árduo trabalho de Latifa, resolveu interceder por ela, convencendo a senhora a deixar a menina aprender a costurar e a tia, achando ser um bom negócio, visto que não gastaria mais com costuras, não só deixou a menina ir, como deu a ela uma máquina, que sabe Deus lá quantos anos tinha. Latifa deu pulos de alegria, pois sempre teve interesse em aprender, então levantava de madrugada, fazia toda a sua tarefa e lá pelo meio dia, já cansada e muitas vezes sem comer nada, ia para sua aula, onde dona Olga lhe dava de comer e a tratava como um ser humano, coisa que ela não tinha lembrança de ter sido tratada por

ninguém, exceto por sua professora, dona Catarina, que também se desmanchava de pena da menina.

O tempo foi passando e a tia ficou muito doente, as filhas não quiseram cuidar da mãe que veio a ficar numa cama, então Latifa teve que se ausentar de suas aulas e cuidar da tia que nunca havia cuidado dela.

Assim foi até os seus 20 anos, quando a velha veio a falecer e as filhas puseram Latifa na rua, sem nenhum pagamento sequer, somente pegou seus trapos, vestidos surrados, que a tia lhe dava para que não andasse nua pela sua casa. Quando se viu sem um teto, correu para dona Olga e pediu emprego, pois mesmo cuidando da doente, ela havia treinado bastante, refazendo a mesma roupa várias vezes. Quando dona Olga deu uma peça para ver do que ela seria capaz, surpreendeu-se e deu o emprego a ela. Latifa alugou um quartinho, onde só havia sua cama, uma corda em cima da mesma para pendurar seus trapos, uma mesa com uma cadeira, uma bacia onde tomava seu banho de canequinha e no cantinho um fogareiro de barro, mas ali era seu mundo agora, até que enfim possuía um lugar que podia chamar de seu. Na casa de dona Olga, uma italiana de sangue quente, a vida era um mar de rosas, porque Latifa tinha apenas que se concentrar na costura, coisa que para ela não era trabalho e sim diversão, como fazia tudo muito bem, dona Olga a tratava com carinho e ao menos o café da manhã e almoço ela tinha garantido. Dona Olga tinha cinco filhas, mas nenhuma quis aprender o oficio da mãe, filhas de um pai boêmio, viam a mãe sofrer calada e nunca tomaram partido, o pai trabalhava durante o dia numa barbearia e de noite ninguém sabia onde se enfiava. E Latifa foi seguindo sua vidinha sofrida, digo sofrida porque trabalhava o dia inteiro e a noite chegava tão cansada que nem tomava banho, deitava-se e dormia feito boba, largada naquela cama dura, muitas vezes sem sequer um cobertor, tamanha era a sua canseira para alcançá-lo.

Levantava-se aleatoriamente, tomava seu banho com sabão caseiro, lavava os cabelos sem um xampu e saia com a cabeleira seca, quase esturricada, pelo caminho andando apressada, como se fosse pegar o trem, já atrasada.

O tempo ia passando e com o dinheiro que ganhava, pagava o aluguel, o restante guardava a sete chaves, para uma necessidade.

Amarela, muito magra e maltrapilha, era sempre humilhada pelas filhas de dona Olga, principalmente por Ephigênia, uma solteirona que trabalhava num escritório, ganhava bem e vivia se emperiquitando, tinha também Amália, que se casara muito bem e nas raras vezes em que ia à sua mãe, seu alvo era Latifa, a ponto de sua mãe chamar-lhe a atenção, pedindo-lhe respeito. Laura, também casada, pouco falava e preferia ignorar a pobre, Joana, a mais soberba, não permitia nem que Latifa se sentasse à mesa para o almoço em família e nas vezes que dona Olga impôs, a filha saiu da mesa. Ainda tinha Rita, a caçula, essa questionava a mãe sempre que podia, alegando que ela poderia ter uma ajudante mais apresentável, pois além de Latifa, dona Olga também contava com a ajuda de Rosa e Maria, essas até ajudavam nas medidas mas Latifa não, muito tímida, preferia ficar somente no seu ofício.

Certa manhã, Latifa, que nunca havia faltado ao trabalho, não apareceu e dona Olga foi à casa da moça para ver o que havia acontecido, chegando lá se deparou com uma semimorta, jogada numa cama, queimando em febre e delirando, falando coisas do tipo: “Vão me pegar!”

Dona Olga, para o desdém das filhas, levou-a para sua casa e cuidou dela, que estava muito fraca e mesmo assim, fazia questão de encarar árdua batalha na máquina o dia todo, mas logo voltou para o seu mundo, aquele quarto sombrio, chamuscado de solidão.

Latifa não possuía sonhos, não possuía nada, para ela a vida era

aquela copiosa desventura que vivia e achava até normal, pois nunca teve ninguém com quem conversar, nunca teve uma amiga, nem um namorado, nunca olhou para moço algum, se julgava a pior das pessoas, aquela que não merecia sequer ser notada, sua alma era triste, então ela adoeceu. Adoeceu porque não sonhava, não tinha fé e nem tampouco esperanças, adoeceu porque todos aqueles que não têm um objetivo adoecem, mas Latifa não sabia disso e nem sabia que havia adoecido. Para ela era tudo normal, não sabia nem questionar a si mesma, não entendia que a vida só vale a pena quando somos livres e que a liberdade está em nós, apenas precisamos saltar, sim, saltar! Saltar de algum lugar e continuar voando.

Sempre cansada e sempre trabalhando muito, na hora da sua refeição, comia rápido, não mastigava e com os olhos arregalados, como se comer fosse o único regalo da sua vida, comia como uma demente e voltava com a sua fadiga para a máquina, como se fosse um robô programado para aquilo, até enquanto aguentasse.

Dona Olga a observava de longe e um dia resolveu ter com ela um dedo de prosa, começou por perguntar por que corria tanto, nunca sorria e sempre estava isolada. Latifa, mais uma vez, nada respondeu, para ela permanecer em silêncio não era uma opção, mas uma forma de gastar menos energia, no fundo ela tinha desânimo de falar, medo de não ser entendida, de ser renegada e deixada mais uma vez. Sentia por dona Olga um carinho enorme, talvez o carinho que sentiria pela mãe que não conheceu, percebia que as filhas da mulher não gostavam dela, então se mantinha a distância, com medo que a proximidade, provocasse ainda mais a ira das filhas. Latifa tinha muitas dores, dores no corpo todo, uma dor que, por vezes, a fazia gemer enquanto respirava e sempre calada ia levando. Era domingo e como sempre, foi terminar algumas bainhas, logo depois da costumeira missa e chegando lá, ouviu o falatório, a

família falando alto sobre o namorado de Ephigênia e pela primeira vez na vida, Latifa se furtou a ouvir a conversa alheia, uma voz forte chamou-lhe a atenção e olhando por uma fresta, pode ver o homem de porte elegante, muito refinado, trajando um terno cinza e gentilmente segurando a mão da megera.

Terminou o seu serviço, pegou uma marmita e como era de costume foi embora, ao sair pelos fundos deu de cara com o casal rindo, aliás, ela ria muito e ele apenas olhava para ela, tentando entender o porquê de tantos risos, mas Latifa sabia, Ephigênia deveria ter feito algum comentário maldoso sobre sua pessoa para aquele homem que, sendo de um coração bom, sorriu, mas depois caiu em reflexão.

Chegando em casa, não foi dormir como de costume, resolveu comprar um xampu e um sabonete bem cheiroso, contou e recontou algum dinheiro e se foi, comprou também uma chita nova, queria fazer um vestido mais apresentável e ao se deitar, se pegou lembrando do semblante daquele homem, da bondade dos seus olhos, do seu cheiro e adormeceu.

No dia seguinte, levantou-se, tomou seu banho, mas, desta vez, bem mais caprichado, penteou os cabelos e os prendeu, Latifa não era feia, tinha os dentes bonitos, uma pele clara, magra, bem magra e ela só não tinha, até então, encontrado um motivo para se cuidar e talvez agora o tivesse. Chegou à oficina e foi pra máquina, sempre eficiente, começou seu trabalho, porém não podia deixar de ouvir as boas novas, afinal Ephigênia, com quarenta anos, estava prestes a desencalhar e dona Olga, muito orgulhosa, contava às outras companheiras, que o moço era de família importante, tinha bens, casa, automóvel e que dessa vez a filha havia escolhido o homem perfeito.

Latifa, pensativa no seu canto, quis saber o nome do moço, mas não perguntou, era assim mesmo que ela agia, não se pronunciava, não se manifestava, nada fazia ao seu favor, até que uma outra perguntou e dona Olga respondeu, de boca

cheia, que o nome do futuro genro era Albertinho Fortes e por incrível que pareça, Latifa conhecia esses Fortes da casa da sua tia, era uma família de muitas posses que, quando visitavam a tia, tudo tinha que funcionar com perfeição, ela até achava graça nos tempos de criança, dizia para uma senhora que por um tempo trabalhou com a tia, que tudo parecia uma música e que a tia valsava até para servir o chá. Lembrou-se, mas nada disse, silenciou e buscou em sua memória vestígios do menino, mas não encontrou. Na época, Latifa era muito atarefada para se entreter com visitas, nunca se aproximava das mesmas e quando tinha que fazê-lo, nem os olhava nos olhos, pensou nisso durante muito tempo, a tarde toda, chegou a furar o dedo, algo quer nunca havia acontecido antes.

Na hora de ir embora, mostrou a chita nova à dona Olga e pediu se podia costurá-la no dia seguinte, se justificou que seria rápido e que precisava, pois estava sem roupas, vendo o ânimo da moça, dona Olga subiu as escadas correndo e voltou com mais dois cortes, mas esses não eram chita, eram tecidos dos bons, cores alegres e os entregou a Latifa, dizendo ser um agrado por ela ser tão prestativa, a senhora também lhe deu um par de sapatos, os primeiros da sua vida.

Latifa se emocionou e chorando disse que sempre teve vontade de calçar sapatos, que chegou a achar que nunca o faria, ela estava com seus vinte e sete anos e foi embora, pela primeira vez na sua vida, com um fio de felicidade começando a ser tecido na sua alma. Chegando em casa, abraçou-se ao sapato e dormiu, sem comer, sem pensar, sem tomar seu banho, sem se cobrir, apenas desmaiou, diante do cansaço somado à emoção, alguma coisa dentro dela havia mudado e ela ainda não sabia explicar, mas sabia sentir e sentir aquilo estava sendo muito bom, estava pela primeira vez na vida sonhando.

No dia seguinte, começou a fazer o vestido rosa de um tecido maravilhoso e o fez lindo, com um corte bem feito e um

acabamento de primeira. Dona Olga fez questão de chamar a atenção de uma das filhas, quando questionou o porquê de Latifa querer um vestido daqueles, mas ela estava feliz, não que em algum dia tivesse se importado com elas (as filhas da patroa), é que hoje, principalmente hoje, se importava menos ainda. Passaram-se alguns dias e Ephigênia veio pessoalmente convidar Latifa para o seu noivado que seria no próximo sábado, ela agradeceu e voltou para o seu mundo, aquele quarto onde ela era a mesma Latifa de outros lugares, mas lá podia pensar sem ter uma máquina na sua frente e então, mesmo pensando em como uma solteirona tão cruel, pode arrumar um noivo tão bonito e gentil, soltou um risinho ao lembrar-se que ia vê-lo novamente.

Nessa noite passou claras de ovos nos cabelos e encheu o rosto de pepinos, não pintou as unhas porque seu dinheiro havia acabado, sim, possuía algumas reservas, mas quanto a isso, nem gostava de pensar, acreditava que um dia poderia precisar e não ter ninguém a quem pedir ajuda.

Deitou-se e não se entregou ao sono de imediato, queria pensar, sonhar, queria se imaginar com o vestido novo. E os sapatos? Correu para eles! Aqueles sapatos enchiam-lhe os olhos de um jeito que nem ela entendia ao certo, era como se eles fossem uma espécie de portal que a transportaria para uma dimensão nunca sentida e nem tocada.

Pensando que logo seria amanhã e à noite estaria pela primeira vez de vestidos novos e sapatos de couro, adormeceu e dessa vez com um semblante descansado como se viver não fosse mais um fardo árduo, como fora todos aqueles anos.

Chegou a hora, Latifa tomou o seu banho e nunca havia demorado tanto, estava animada, por vezes arriscava uma risada, coisa rara de ser vista. Se arrumava com perfeição, o tempo todo olhando num pedaço de espelho que achou na rua, em um dia que, desanimada da vida e debaixo de chuva,

voltava para casa. O vestido rosa lhe caiu muito bem e os sapatos também, de pouco em pouco se ajeitava como se fosse uma noiva, prestes a adentrar a nave mãe (igreja), que de braços abertos lhe esperava ansiosa.

Foi pelo caminho como se pisasse nas nuvens, olhava para as pessoas e certamente as mesmas a olhavam também, pois nunca, depois de tantos anos, vendo-a fazer aquele percurso a viram tão arrumada, tão feliz. Poucos acreditaram ser a mesma pessoa e ela sentia-se como um passarinho que, pela primeira vez voava e lá do alto podia perceber como era bom esse voo, como era necessário e preciso, não sentia medo e disse baixinho que certamente voaria sempre, agora que descobriu o vento no rosto. Espere, Latifa parecia nunca ter sentido o vento, o sol e nem mesmo as chuvas que já havia tomado pela vida, era como se, naquele momento e somente naquele momento, ela descobrisse o mundo e estava gostando.

Na casa de dona Olga, todos estavam polvorosos, afinal, a chata da Ephigênia ia desencalhar e logo com um boa praça.

Latifa, sempre muito tímida, chegou e ficou no seu canto, quase que começou a costurar, precisou dona Olga pedir que ela esquecesse a máquina por algumas horas. O noivo já estava lá, mesmo sem vê-lo, Latifa já podia sentir a sua presença e aconchegar-se no seu perfume.

De repente ouviu sua voz (ah, que deleite maravilhoso!), mas quando Ephigênia bateu os olhos em Latifa, fez questão de puxá-la para o centro e menosprezá-la ali, diante de todos, dizendo coisas fúteis, sendo grosseira e a moça quase desfaleceu nos seus braços de cobra, se não fosse a mãe intervir e deixar claro que fora brincadeira e que as duas tinham amizade o suficiente para isso.

No entanto, Albertinho que sem dúvida, fora um cavalheiro, se aproximou de Latifa e a elogiou de um jeito tão elegante e raro num homem, que deixou não só a noiva bufando, mas também

preocupou dona Olga, que daria um braço pra que Ephigênia se casasse e deixasse-a em paz finalmente.

Naquele momento em que o moço segurou suas mãozinhas pálidas, trêmulas e geladas com tanto carinho, Latifa sentiu que tudo que havia passado naquela vida, que antes foi tão ingrata, valeu a pena só para chegar naquele momento que ela jamais esqueceria.

Pronto, Ephigênia com sua mania de perseguição à pobre moça, colocou-a na mira dos olhos de Albertinho que, mesmo tentando esconder, sentiu-se diferente, tocado. Para ele, naqueles olhos negros, tão negros como a noite, havia algo que ele desconhecia, mas adoraria saber, adoraria entender como aquela pele tão clarinha e aquele corpinho tão frágil, suportou a humilhação da filha demente da patroa, foi assim que ele se referiu com o olhar para a futura noiva, desaprovando totalmente seu gesto e Ephigênia, por sua vez, ficou desconsertada, percebendo enfim, que foi longe demais, quis que o chão se abrisse e quando caiu em si, não por um ato de bondade, mas por ter colocado diante do noivo a nova Latifa, perguntava a si mesma porque ela estava usando aquele vestido, porque não estava maltrapilha como era do seu feitio? Foi para cima da mãe e aos berros, longe dos convidados, quis saber por que aquela “zinha” estava com sapatos e vestido novos, todos oferecidos por sua mãe. Chegou a perguntar se era para isso que ela trabalhava o dia todo naquele inferno (nome com que chamava costumeiramente o seu trabalho), para que sua mãe vestisse a costureirazinha de donzela.

Latifa, já na cozinha e tremendo por vários motivos, saiu pelos fundos e se foi, chorando desvalida, com as pernas bambas, com os olhos arregalados, uma dor no peito descomunal e se perguntava a todo o momento porque teve que passar por aquilo, por quê? Ela que, esperançosa, achou que aquele seria o dia mais feliz de sua vida, chegou em casa as onze horas da

manhã, não esperou o almoço e nem podia lembrar-se de nada daquele lugar, jogou-se na cama e chorou alto, muito alto, como nunca havia feito, nunca mesmo, nem quando sua tia a surrava com um pedaço de fio e ficou ali, até que adormeceu, mas dessa vez adormeceu bonita, bem arrumada e como o vestido a tinha valorizado, os cabelos já não estavam como vassouras velhas, estavam sedosos, bem negros, caídos pelos ombros e nos pés os sapatos, os primeiros sapatos da sua vida.

Mesmo diante da humilhação, estava leve, sentira de perto o perfume e o calor daquele homem.

Era bem cedo quando Latifa chegou ao trabalho, nem dona Olga havia descido para a oficina, estava ajeitada, algo teria revirado essa moça por dentro a ponto de clarear seu semblante, iluminar os seus olhos, erguer a sua fronte e até arrumar a sua postura, antes tão desleixada, tão caída, tão curvada.

Como sempre, ao sentar-se à máquina, concentrou-se no seu serviço, Latifa era responsável e no fundo, sabia que precisava desesperadamente daquele ganha-pão. Quando dona Olga desceu e viu Latifa sobre a máquina tão cedo, seu colo de mãe se cobriu de afeto mais uma vez, para aquela moça que já sofreu tanto na vida e sempre estava ali, cuidando dos seus afazeres e mesmo quando parecia que não ia aguentar, aguentava.

Latifa permaneceu em silêncio, apenas respondeu ao bom dia da patroa e assim que as pessoas iam chegando para os seus afazeres, também surgiam comentários maldosos, mas ela continuava a respirar baixinho, de olhos fixos na sua costura reta, bem feita e bem talhada. Depois que todas haviam almoçado, Latifa também foi, dessa vez mais calma, mais serena, não comia apressada, ou sem mastigar, como de costume, estava comendo igual gente, parecia estar refletindo. Usava um vestido de chita, bem cortado, feito por ela mesma,os mesmos sapatos, que no começo a incomodava, mas agora já pareciam fazer parte dos seus pés.

A tardinha foi caindo e na hora de ir embora, dona Olga lhe entregou um pacote com uma marmita e um pedaço do bolo, que antes não pode provar, agradeceu a matriarca com um risinho e lá se foi. Logo à frente, numa esquina meio deserta, foi pega de surpresa por uma voz conhecida, uma voz que talvez nunca esquecesse, chamando-a pelo nome, ficou branca, sem ação, ao ver Albertinho na sua frente, descer do seu automóvel. Por alguns minutos não respirou, não conseguia abrir a boca, até que soltou um “olá”, tímido e retraído, naquele momento passou na sua mente, tudo que sentiu no dia anterior e na frente daquele moço, que lhe era tão especial, mesmo nem sabendo ao certo o que era ser especial.

O moço, gentilmente, segurou sua mão e lhe disse que ficou absolutamente perplexo com as maneiras de sua noiva e ela por sua vez, disse que tudo fora uma brincadeira da parte de Ephigênia, que sempre foi espirituosa, mas o moço sem titubear, respondeu: “a moça a quem descreves não pode ser a mesma com quem irei me casar”.

Perguntou onde Latifa morava e lhe ofereceu carona, mas a moça, vacinada pela vida, recusou e ainda deixou bem claro que se sentiu ofendida. Ele, encantado com a sua timidez, disse que a entendia perfeitamente e pediu-lhe mil desculpas. Albertinho tinha seus 42 anos, era viúvo, ficou casado pouco tempo, mas nunca havia sentido por ninguém o que estava sentindo naquele momento por aquela moça, tão simples, tão diferente das moças com quem era acostumado a passar suas noitadas, ela era tão calada, tão ignorante e ao mesmo tempo tão interessante. Latifa continuou seu trajeto, coração acelerado, boca seca, pernas moles e uma sensação oca no estômago, parecia que a visão se turvava e ao adentrar em sua casa, ficou andando de um lado para outro, pensativa, estranha,

por vezes ria, em outras chorava. Abriu a marmita, mas não conseguiu comer e quanto ao bolo, saiu na rua e entregou a uma criança (onde ela morava o que não faltavam eram crianças com fome), ela tomou banho, coisa rara de se fazer a noite, pois economizava até na água de escovar os dentes, deitou-se e pediu aos céus para sonhar com ele e foi atendida.

Era manhã do dia 26 de maio de 1962, um sábado, o tempo estava chuvoso e frio, quando ela olhou para o céu escuro, teve a sensação de estar igual por dentro, quis chorar, mas se controlou, ela sempre se controlava, aprendeu que a dor era para ser engolida, assim como se engole um comprimido, nesse momento gostaria de ter uma amiga, uma mãe, uma irmã, alguém a quem pudesse contar sobre o encontro do dia anterior, falar sobre o seu sonho e ao lembrar-se do sonho, respirou fundo, bem fundo, abriu o seu velho guarda-chuva e saiu para mais um dia de trabalho.

Chegando lá, sentou-se na sua máquina e logo dona Olga sentou-se ao seu lado, reclamando como sempre, disse que não tinha mais pique e nem saúde para tocar a oficina, que sentia muito, mas as dores nas costas estavam matando-a dia a dia, Latifa esbugalhou os olhos e perguntou como seria, pois o emprego era tudo o que ela tinha na vida, foi então que a bondosa senhora lhe segurou as mãos e disse que, a partir daquele dia, confiaria a oficina a ela, as duas seriam sócias, Latifa iria cuidar e supervisionar tudo e ambas iriam contratar outra pessoa para o lugar de Latifa. Então, a moça, que em muitos momentos não acreditou num amanhã, começou a chorar copiosamente, diante daquela senhora que sempre lhe deu um voto de confiança e muito agradecida abriu o seu coração, dizendo que queria muito ter alguém com quem falar e que só agora percebeu que tinha. Dona Olga a abraçou e pela primeira vez em toda a sua vida, Latifa se aconchegou num colo de mãe e sentiu que o amor era a coisa mais preciosa,

sentiu-se querida e até amada, foi então que contou à senhora sobre o encontro com o noivo de sua filha, assustada a senhora disse que Latifa se portou muito bem em não ter aceitado a carona, mas também ressaltou baixinho que entendia perfeitamente que ninguém mandava no coração e embora ele fosse seu futuro genro, ela gostaria muito que Latifa encontrasse a felicidade. Ela amava sua filha, mas sabia que a moça não estava noiva por amor e sim por interesse, dona Olga era uma mulher muito romântica, por vezes recitava sonetos de amor na oficina, deixando a todos de boca aberta, acreditava que o amor nascia da pureza das almas e que crescia nos corações sinceros. Desejou-lhe boa sorte, mas a advertiu de que o moço poderia estar apenas de brincadeira e Latifa respondeu-lhe que já havia pensando nisso e que seria prudente.

Passou quase um mês e Latifa trabalhava como louca, queria a todo custo render mais e pegar mais encomendas, as clientes a cada dia gostavam mais do seu trabalho e ela então pode alugar uma casinha bem perto, na rua de trás, aos fundos da casa de dona Olga. Nessa casinha de quarto, cozinha, banheiro e uma varanda na frente, Latifa fez questão de adentrar com o pé direito, não tinha mobília, até a cama em que dormia não era sua, mas já tinha juntado um dinheirinho e comprou uma cama com colchão de molas e um guarda-roupa de duas portas. Estava animada, o trabalho a estimulava, mesmo sendo esse abastado e sem horários.

Ela nunca mais viu Albertinho, mas não se queixava, viver das lembranças do seu sorriso era algo que já lhe valia a pena, para quem nunca teve sonhos, a vida estava de alguma maneira ensinando a sonhar. Nesses últimos meses, ela havia percebido que, mesmo tendo crescido sem uma gota de carinho, poderia tê-lo a qualquer momento, poderia mudar o rumo das coisas, ela estava crescendo em seus sentimentos e atitudes, isso só acontece com as pessoas fortes, corajosas, sobretudo humildes.

No dia seguinte, com as encomendas só aumentando, Latifa resolveu alugar um lugar mais apresentável, queria também costurar para as mulheres mais refinadas e tinha gabarito para isso, com toda certeza. Com dona Olga já adoentada e que quase não ia à oficina, que agora passou a chamar de “Ateliê de bom gosto”, um nome sugestivo que, no primeiro dia de inauguração, teve mais encomendas do que em um mês na antiga oficina, Latifa agora morava nos fundos do ateliê, podendo assim se jogar no trabalho, nem saia na rua, exceto para alguma compra urgente, que não poderia confiar a uma de suas costureiras. Dona Olga, por sua vez, resolveu não trabalhar mais e como eram sócias apenas no trabalho, ficou tudo certo quando Latifa propôs comprar-lhe as máquinas, dona Rosa, sua assistente mais próxima, vivia pedindo para que Latifa descansasse, mas não tinha jeito, ela era muito perfeccionista e não dava por terminada uma peça, enquanto não supervisionasse com muita atenção. Aos sábados, depois do meio dia e aos domingos, enquanto todas suas funcionárias descansavam, não largava a máquina e nem os cortes, ficava até seu corpinho franzino não suportar mais e quando se deitava, o cansaço era tanto, que apenas se lembrava de Albertinho e já dormia.Num dia chuvoso, foi visitar dona Olga, que não estava nada bem e lá chegando, encontrou todos em desespero, pois a boa senhora acabara de falecer. Sentou-se no meio fio e chorou como se também fosse uma nuvem desabando, Dona Olga foi a única pessoa que havia confiado nela, dado créditos, amor e carinho. Ficou ali sentada, ao lado do corpo a noite toda, não olhava para os lados, tinha medo de ver Albertinho, tinha medo Passou mais alguns meses e Latifa estava adentrando o portão de sua casa, quando viu aquele homem a sua espera, dessa vez não correu, estava segura de tudo que tinha a dizer-lhe e até onde podia ouvi-lo, respondeu ao seu cumprimento e o convidou a entrar, coisa que a princípio o deixou espantado. Estando dentro da sala e já sentado, pode perceber o quanto ela havia progredido e mudado, o quanto ele a admirava por isso e embora isso lhe encantasse ainda mais, ele já a havia aceitado como era, quando a conheceu, aquela moça ingênua, leiga e sem muita atitude, pelo menos aparentemente. Ela, sem mais delongas, quis saber o porquê dele viver a espionando pelos cantos da cidade e pelas esquinas, sempre pensativo e discreto, o que estava fazendo ali e o que pretendia. Ele foi curto e sincero ao lhe dizer que sua esposa estava muito doente e que nunca desejou a sua morte, no entanto, já havia pedido o divórcio por várias vezes, mas agora teria que esperar por sua recuperação. O que o incomodava era o amor imenso e a vontade que tinha em estar mais próximo dela, em pelo menos poder abraçá-la e sentir o aroma do seu perfume, disse ainda que esse sentimento nasceu desde o primeiro olhar, naquele dia do seu noivado quando quis ampará-la e pegá-la no seu colo, cuidar dela para sempre. Emocionado, continuou dizendo que sempre esteve por perto, para que nada lhe faltasse, ela não sabia, mas aquela casa era dele, por isso o aluguel era tão em conta e a venda também foi feita em condições para que pudesse pagar, também acrescentou que nunca a deixaria passar por necessidades e que estava e sempre esteve muito feliz em saber que ela se dava bem no trabalho e o quanto era esforçada. Contou da sua alegria ao ver alguém comentar do seu excelente trabalho, isso não tinha paga. Sempre esteve por perto, pois sempre a amou demais, além das suas forças e muito além de qualquer limite imposto pela natureza divina.

Latifa não conteve as lágrimas e assumiu o seu amor também, de uma maneira tão doce, tão sublime, que ele se aproximou e a abraçou como se a abraçasse por sua vida inteira, como se colasse a vida dele à vida dela para sempre. Latifa, que nunca havia sentido o amor daquela maneira e dimensão, retribuiu a sua maneira carinhosa e acariciou os seus cabelos, já meio grisalhos e ele, de súbito, a beijou demoradamente, mas Latifa afastou-se depressa, dizendo que jamais permitiria sua aproximação, sendo ele casado e pediu que ele fosse embora, chorando lhe perguntou por que tinha que ser assim.

Ele saiu e meio tonto, entrou no seu carro, ficou pensativo, já tivera tantas mulheres, mas aquela era diferente de todas, com toda certeza sua alma gêmea, irmã, sua outra metade, aquela que nasceu para fazer dele o homem mais feliz desse mundo.

Chegando em sua casa, subiu as escadas e foi direto para o seu quarto, deitou-se, não conseguia esquecer o olhar daquela mulher, a maneira com que se expressou, tudo o que viu, sentiu e ouviu sobre o amor, de repente ficou pequeno demais, ela era o próprio amor, o único amor da sua vida. Nesse momento, sua esposa entrou e disse que, por algum motivo, sabia que ele não estava ali, seu pensamento muito longe de estar conectado aos dela e que, de certa forma, sabia que ele só havia se casado pela gravidez e só hoje ela percebia o quanto foi cruel com ele e consigo mesma, quis ter um amor forçado, sem entender que isso, nem de longe, era ser feliz. Disse também, já chorando, que precisou ficar doente, para perceber muitas coisas e que, infelizmente, suas dores estavam piorando e queria que ele a

perdoasse pelo seu egoísmo, sua insistência e até por tê-lo induzido a engravidá-la quando percebeu que ele não a amava de verdade. Albertinho segurou sua mão e deu-lhe seu perdão, mas antes perguntou se ela mesma já havia se perdoado, quando ela respondeu que não sabia, ele pediu que ela se certificasse disso e sendo o homem bom que era, prometeu ficar ao seu lado enquanto eles vivessem e agradeceu pela filha linda que ela lhe deu, explicando que a menina era a sua alegria e que por ela faria tudo de novo, pois foi preciso ela nascer para ensinar-lhes algumas lições. Sendo assim, Ephigênia acalmou-se e dormiu ali nos seus braços, estava muito fraca, o tumor havia crescido demais e localizado em um lugar difícil do cérebro, era impossível ser removido.

Ao acordar, Ephigênia pediu que chamassem Latifa, o marido sem entender e muito menos questionar, pediu que um dos criados fosse buscá-la, ao chegar foi levada até o quarto daquela que sempre fora tão soberba em relação a ela, mas quando viu sua situação, se penalizou, sentou-se na cama e perguntou o que queria. Ephigênia, já fraca, disse muito baixo que sabia do amor que seu marido sentia por ela, pois quando dormia, ele sempre chamava por Latifa, mas ela nunca dissera nada a ele. Pediu então perdão por todas as maldades que um dia lhe fizera e a fez prometer que amaria e cuidaria de sua filha. Latifa ficou em silêncio por um bom tempo, depois, chorando, disse que no coração ninguém manda e que já amava a menina por ser tão parecida com o pai.

Ephigênia apertou sua mão e grata lhe disse que a admirava por tudo, que antes mesmo dela ter conseguido se superar na vida, já a admirava, talvez fosse por isso que a humilhasse, talvez quisesse ser como ela, mas nunca conseguiu e agora era grata a Deus, por estar tendo aquela chance de se redimir.

Em silêncio, Latifa ouvia com o coração apertado e se pudesse arrancaria dela toda a dor, estava penalizada, Ephigênia sempre

lhe pareceu tão forte, tão segura, como poderia ter ficado tão frágil assim? Aos poucos foi entendendo que Ephigênia sempre teve uma alma triste, ao invés de tentar curá-la, acabou por envolvê-la em rancores e maldades, o que provavelmente foi a causa da enfermidade do seu corpo, então de repente, Albertinho se aproximou e quando Latifa se levantou, percebeu que a moribunda já não estava mais ali, ali só havia ficado o seu sofrimento.

Olhando para Albertinho, avisou-o que ela havia descansado, ele abraçou Latifa bem forte e agradeceu por ter vindo e por todas as palavras de afeto que havia dito à sua esposa. Latifa saiu chorosa, levando a menina pelas mãos, com todo carinho, prometeu que cuidaria dela como se fosse sua e que, mais tarde, Albertinho poderia ir buscá-la para ver a mãe pela última vez. Cristina reconheceu em Latifa um amor descomunal, a menina era geniosa, não gostava de ficar com ninguém, mas com ela ficou feliz, sentiu-se amparada, pois sua mãe por vezes era muito nervosa, reclamava de tudo o que a menina fazia e no decorrer da doença, nem deixava a menina se aproximar, pois tinha muitas dores de cabeça.

Quando Albertinho chegou para buscá-la, disse ao pai que não queria ver sua mãe morta, que queria ficar ali com Latifa, que ali estava bom. O pai resolveu atender ao pedido da menina e a deixou ficar, explicando que sua mãe fora morar no céu, então a menina, curiosa, quis saber como era o céu e Latifa começou a lhe contar o que sabia, a menina sorria, pois ela explicava tudo com muito zelo pelos seus sentimentos, até que a menina dormiu e Latifa continuou ali, protegendo-a.

Passado alguns dias, Albertinho veio pedir que fosse morar com ele, mas a moça tinha imposições que deixaram o homem de boca aberta e porque não dizer, mais apaixonado. Disse em voz bem calma que jamais moraria na casa que foi de sua outra esposa, queria começar com ele e Cristina uma vida nova, do

zero, que se ele quisesse poderia vir morar com ela, mas isso somente depois de casados perante Deus, num ritual simples e diante do Juiz. Não tinha família, mas queria ser exemplo para Cristina e quem sabe para outros filhos, ele concordou com tudo, inclusive em esperar um tempo, pois não queria que as pessoas pensassem que ela já estava de olho no marido da moribunda, ele comprou um terreno ao lado do seu ateliê e começou a construção de um verdadeiro castelo para a sua princesa, já que era assim que ele a chamava carinhosamente.

Latifa, por sua vez, dispensava luxos, já tinha mais do que nunca pode imaginar, mas ele não poupou nem dinheiro e nem esforços para fazer daquela mulher, a mulher mais feliz desse mundo. Os pais de Albertinho, principalmente o pai, gostaram muito de Latifa e mais ainda ao saber da sua história de batalha. Por fim, a família dele inteira a recebeu como uma diva, mas ela era de uma simplicidade e amor que Abertinho nunca viu em nenhuma outra mulher e também nunca viu a filha tão feliz, parecia que ela se dava melhor com a madrasta do que com a própria mãe, Latifa fazia todos os gostos da menina, tecia vestes para ela e suas bonecas, de deixar qualquer um de queixo caído.

Passaram-se os meses e a mansão ficou pronta, logo na entrada dois imensos chafarizes, no hall um espelho com molduras douradas, na principal parede da sala de estar, uma foto de Latifa, pintada a óleo, em seu tamanho natural. Todos os lustres eram de cristal, importados e a tapeçaria era persa, embora estivesse encantada, aquilo não tinha importância, o que ela queria mesmo era o amor daquele homem para sempre e cuidar da filha dele, que agora também era sua, com todo carinho e amor.

Chegou o dia do casamento, na igreja apenas alguns convidados, tudo muito simples, enfeitada de rosas brancas, ao som da Ave Maria, Latifa entrou, segurando a mão de Cristina,com um vestido de renda puríssima, de um branco muito branco, cabelos presos por uma coroa, usando brincos e colar de pérolas, presente da sogra e nas mãos um rosário de ágata, presente de uma tia avó de Albertinho.

Quando ele a viu, tão linda e majestosa, agradeceu a Deus por tanta alegria. Depois da cerimônia se despediram dos convidados e foram para sua casa nova, Latifa era tratada como uma verdadeira princesa e essa foi a ordem que os criados receberam do patrão.

Latifa continuou com seu ateliê, mas agora ia mesmo só supervisionar as peças, gostava do que fazia e achava importante continuar, ela sempre trabalhou nessa vida, não saberia viver sem fazer nada.

Albertinho quando chegava, encontrava as duas à porta, sempre com uma surpresa, ora uma comida preparada por Latifa, ora uma travessura de Cristina, que agora era livre para por em prática todas as suas ideias, era uma menina muito engenhosa, gostava de fazer pesquisas e experiências e Latifa a ajudava e a incentivava em tudo, mas nesse dia ao chegar em casa, a surpresa foi outra, Latifa, sorrindo, veio contar ao marido que estava grávida e Cristina, por sua vez, encantada com a vinda de um irmão ou irmã, dava pulos de um lado para outro.

Tudo estava correndo bem, Latifa ficou uma grávida linda, mas começou a ter problemas, ficou acamada, o que deixou Albertinho louco e desesperado, com a chegada do médico descobriram que ela daria à luz dois bebês, o que aumentou o nervoso de Albertinho.

Passados três meses na cama, chegou a hora, primeiro veio Alberto, depois Antonio, então Latifa, sorrindo, disse para Cristina que ela continuaria sendo a única mocinha da casa.

Depois de dois anos, com os bebês já grandinhos, Albertinho, Latifa e as crianças, foram passar um tempo na Europa, ficaram por lá dois anos e quando voltaram, a felicidade era a mesma, o

amor só havia aumentado, os filhos felizes e Cristina a cada dia mais amiga de Latifa, a ponto de, em um belo dia, chamá-la de mamãe e esse foi um presente maravilhoso para aquele coração que soube entender, aprender e esperar por essa passagem.

ValquíriaCordeiro

Texto revisado pela poeta e revisora Marcia Mattoso

ValquíriaCordeiro
Enviado por ValquíriaCordeiro em 05/12/2012
Código do texto: T4021800
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