Em um Natal qualquer...

Era o quinto Papai-Noel que era assassinado naquele mês. Os jornais só falavam nisso. “Serial-killer natalino ataca outra vez!”, “Violência não poupa nem o bom velhinho”. Rodrigo Silveira lia impassível as manchetes, enquanto escutava levemente o rumor da televisão que exibia uma novela.

Rodrigo havia chegado ao outono de sua vida com uma rapidez que ele não havia previsto. A carreira bem-sucedida em uma das maiores instituições financeiras do país fez com que sua vida se limitasse a transações e negócios. Ele não via o tempo passar. Somente em uma época do ano.

“Um incêndio misterioso destruiu a decoração natalina de um Shopping Center na Zona Norte, as autoridades atribuíram o fato a uma falha no sistema elétrico, mas abriram um inquérito para averiguar as causas”. Isso era o que uma repórter falava em uma chamada para o telejornal que logo começaria. Rodrigo não escutou.

Ele estava pensando em como o ano tinha se escoado rapidamente, só sobravam alguns dias de Dezembro. Ele sabia que logo Dezembro passaria. Assim como os próximos Dezembros passariam da mesma maneira como os Dezembros antecedentes passaram.

Rodrigo não gostava de Dezembros. Definitivamente odiava Dezembros. Apesar de ele já ter passado quarenta e cinco vezes por esse mês, ele o abominava. Desde o seu décimo Dezembro, ele riscou esse mês do seu calendário. Infelizmente só do calendário.

Olhando para a televisão, Rodrigo fechou as páginas do jornal a uma página de ler sobre o estranho roubo de um caminhão carregado de luzes de natal que havia ocorrido na noite anterior. Estavam passando os comerciais na televisão. O que chamou a atenção de Rodrigo era uma propaganda de uma grande rede de supermercados, em que um menininho corria desesperadamente para ocupar o seu lugar em um coral natalino. Era uma propaganda realmente muito bela. Rodrigo desligou o televisor.

Propagandas natalinas eram realmente muito belas, mas não para Rodrigo. Após desligar a televisão, ele foi até a sacada de sua cobertura modernamente decorada e imensamente vazia. A cidade parecia uma grande nebulosa de estrelas, que brilhavam muito mais nessa época do ano. A bela visão que ele teve não o reconfortou. Poderia ligar para alguém. Então ele pensou: para quem? Os amigos do banco? O irmão? Um de seus casos? Ninguém valia a ligação.

Rodrigo ligou o seu moderno aparelho de som. “... mas quando vão pegar esse criminoso? Como pode matar cinco pessoas em um mês e continuar livre? E foram crimes premeditados, não levaram dinheiro, só as fantasias! Algum maníaco que odeia...” O som estava sintonizado em uma estação de notícias que Rodrigo ouvia. Ele colocou sua seleção de álbuns em MP3. A música era uma boa companhia. A única real companhia de Rodrigo ultimamente.

Ele sentou-se no sofá e ficou fitando o bonito teto de gesso. Por quê o ano chegava ao fim? O Natal é uma época cruel para quem é sozinho, e o Ano-Novo só traz tédio aos que venceram na vida. Esses pensamentos passavam pela milionésima vez na cabeça de Rodrigo. Quando essas besteiras vão sair de moda? Quando?

O toque da campainha interrompeu os pensamentos de Rodrigo. Ele levantou do sofá e dirigiu-se à porta, achando estranho não ter recebido ligação nenhuma do porteiro. Então Rodrigo ouviu o estrondo da porta sendo arrombada. Imediatamente ele tinha sete policiais civis apontando suas armas e lhe dizendo para por as mãos na cabeça.

Ele nem resistiu e foi algemado por um policial que lhe dizia:

–Rodrigo Silveira! Você está preso acusado da morte de cinco atores amadores, é suspeito como mandante de um roubo a um caminhão de luzes natalinas, e suspeito de um incêndio criminoso em um Shopping Center.

-Queira nos acompanhar até a delegacia.

Rodrigo olhou inexpressivamente para os policiais, levantou os braços e falou que iria pegar os documentos na carteira que estava no sofá. Ele encaminhou-se lentamente para a direita, rapidamente para a janela que estava aberta e muito mais do que rapidamente para a calçada, em uma queda que durou 8 segundos.

O policiais olharam pela janela e começaram uma busca pela cobertura de Rodrigo. No quarto de Rodrigo foram encontradas cinco fantasias completas de Papai-Noel, várias fotos dele utilizando as fantasias e uma grande quantidade de decoração natalina.