Olha uma manga!
 

Para saborear este conto é necessário antes, ler outro:
O milagre da Acácia Amarela, por que acreditamos, esta que escreve e a prima, que também foi um dos milagres diários que o Soberano faz com que aconteça e os pretensiosos humanos não acreditam, por ser comum uma flor brotar no monturo, uma aurora boreal, o nascimento de uma estrela ou a caída de um meteoro. Desta vez algo caiu, mas não foi uma “estrela cadente” ou um meteorito galaxial.

 
Na casa perto do mar há cajueiros, seriguela, mangueira e coqueiros. Cada uma delas tem o seu tempo fértil, como  são as  mulheres; todas o possuem. 
As árvores frutificam na estação adequada e os frutos começam a desenvolverem-se quando Gaia determina; ficam bons para serem degustados não em sete ou nove meses, mas em determinado tempo contado em dias.

 
Certa vez, estávamos, lá na casa perto do mar e, na chegada corremos para o quintal a fim de ver a mangueira. “Não é tempo de mangas”  gritou alguém que foi conosco; é,  não era tempo mesmo. Verificamos, galho por galho; afastamos os mais altos com uma vara, sacudimos os mais leves. Subimos em uma escada, quem sabe teria uma única para satisfazer o desejo de uma mulher...Nada...não havia nem uma manguinha do tamanho de uma castanha no pé. Nem flores. Só folhas, muitas folhas.
 
Essa mangueira também era amada por ele ( um dos protagonistas do conto citado acima); o que não seria nenhuma novidade, pois ele amava a Mãe Natureza de tal forma que só admirava a florzinha da beirada da estrada. Ficava lá parado, mãos para trás, olhar em um só ponto, como se em prece de gratidão.
– Yara!  Vem ver que coisa mais linda! 
Eu, um pouco mais à frente, ou atrás, respondia:
- tira para eu ver! 
E ele retrucava: - Nã nã ninha. Tiro não, venha ver você.
 
[...]
Para pensar e continuar

 
- Ah! Que vontade de chupar uma manga! Disse minha prima (filha do fã da Acácia)
- Vamos ter que esperar; nem no supermercado vamos encontrar, falei.
Passamos então às atividades de tirar bagagem do carro, colocar colchões no sol, varrer e lavar a casa, guardar a roupa, arrumar cozinha, limpar armários e ir às compras. Tudo feito, tudo pronto. Som na caixa, corpos na rede, vento dançando na varanda. Queijo, azeitonas, ovos do codornas e cerveja em lata branquinha, com véu de gêlo, que ninguém é de ferro, o sol escaldava e o Supremo gosta de alegria.

De repente, a prima vai ao quintal pegar o ancinho e grita:
- vem cá, corre, vem ver uma coisa!  Saí da rede apressada...curiosa, epreensiva... o que seria?
- Olha para isto! E apontou uma linda manga como que “pousada” na areia à volta do tronco. Lisinha, sem um machucado todinha de um só amarelo que apenas as mangas Carlota possuem. Descansando em um declive, como feito à mão.
- Ele trouxe para mim ! não vou lhe dar nem um pedacinho! (falava com a saliva aos lados dos lábios)
– Quero não, é sua, ele materializou para você.

 
Milagres? Acontecem todos os dias; pessoas não encontram tempo para apreciá-los e agradecer. É isto. Não acredita?  Um dia talvez você presencie um e sinta-se tão convicto como nós. Viver já é o maior milagre. Outros acontecem diariamente.




Imagem: Literatas da terceira Idade