Pôr-do-sol

Lembro-me o dia em que a pedi em casamento. Nós estávamos vendo o pôr-do-sol debaixo de uma árvore em um campo longe de tudo. Ali só tínhamos nós dois e o belo pôr-do-sol, só não mais belo que ela. Peguei a caixinha do anel e abri-a na frente dela, não disse nada apenas fiquei olhando em seus olhos, ela olhou para o anel e depois nossos olhos se encontraram, não foi preciso sequer uma palavra naquele momento, nos beijamos e fizemos amor.

A minha vida estava muito boa, a minha mulher me amava e eu a ela, tinha um bom emprego, trivialidades necessárias e outras não tão necessárias assim, mas que convinha.

Mas um dia tudo isso começou a mudar, no dia em que ela morreu.

Acho que daquele momento até agora nunca me senti vivo, passei apenas a existir, como disse Oscar Wilde:

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”

Não demorou muito para que eu perdesse o emprego que tinha e como ainda existia precisava de um. Por atos de outras pessoas consegui um que exija apenas o que eu poderia oferecer.

Por muito tempo eu fiquei apenas existindo, ate que redescobri vida em mim, até agora.

Estou aqui no lugar que a pedi em casamento, sentindo-a, vendo um outro pôr-do-sol, conversando com você, uma flor que cresceu no lugar onde ela se sentou tempos atrás, sentindo o vendo que talvez leve essas palavras até outras vidas.

Estou amando-a, estou vivo outra vez. E como não é preciso de palavras para mostrar quando a amo vou apenas olhar, olhar o pôr-do-sol...