O ASSALTADO

Andava torto, encurvado, sentia o morto que estava querendo saltar boca a fora, o gosto de sangue e vômito, a lucidez cada vez mais longe, as idéias cada vez mais embaralhando e pesando, empurrando a cabeça pra mais perto do chão.

Nem sabia de onde havia partido o primeiro soco, nem sabia porque logo ele escolhido entre tantos outros. Agora não tinha mais tempo pra se preocupar com isso. Precisava de ajuda. Alguém pra segurar sua alma no colo e embalar cantando as antigas cantigas da mãe, que se fora quando ele ainda precisava tanto.

E aí, longe, veio se aproximando o primeiro acorde:

-Dorme criança que a dor não alcança quem o sono acalanta.

Mais alto um pouquinho:

-Dorme criança que a dor não alcança quem o sono acalanta.

Agora cada vez mais perto, cada vez mais perto,

até que a viu, abriu os braços e caiu.

Dormiu enquanto a canção continuava, pro resto da eternidade,

enfim a paz.

(Elza Fraga)

Elza Fraga
Enviado por Elza Fraga em 07/01/2013
Código do texto: T4072099
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.