Homem juiz.

São Paulo, julho, eu tinha dinheiro que eu estava guardando para alguma coisa, mas eu decidi gastar com alguma outra coisa, eu comprei uma arma, uma pistola com silenciador e munição, eu não tinha licença para aquilo, mas era fácil, o dinheiro falava mais alto.

Então eu vim para casa e comecei a brincar com meu novo brinquedo letal, na frente do espelho e andando pela minha casa, em meio a brincadeira, eu parei na frente da janela e eu olhei em volta e vi em um beco escuro e sujo, com três caras usando drogas, oh meu Deus, que porra que eles estavam fazendo com eles mesmos.

Eu estava assistindo aquela cena, dia após dia, até eu ficar cansado daquilo, eu estava entupido de café, me vesti de preto com um chapéu cobrindo meu rosto, peguei minha arma e fui até aquele beco imundo, olhando as vadias ao longo da rua, então eu cheguei, encontrei os caras, eu olhei nos olhos deles e com um rosto sem expressão, atirei neles, três tiros em silêncio.

Realmente cara, eu me senti bem, ninguém me viu saindo, voltei para casa e me sentei na cadeira na cozinha, segurei minha cabeça e pensei no que eu fiz; eu matei três caras, eles estavam usando drogas, eles estavam em uma jaula pobre e o que eu fiz sobre isso? Apenas matei eles?

Após passar a noite pensando e pensando, eu cheguei a uma conclusão, "eu salvei eles!"

Assim eu dediquei meus dias para salvar mais vidas, eu puxo minha cadeira para frente da janela e esperei, no meio da minha espera, eu vi aquele cara suspeito e eu sabia, aquele era o maldito traficante, assistindo tudo friamente, eu notei cada movimento de cada um, e aguardei ansiosamente pelo dia seguinte, para agir...

Eu repeti a mesma cena de meu primeiro ato, eu fiquei de pé, na frente do beco e apenas esperei e do nada, eu vi vindo lá, o carinha entregador de drogas e eu aguardei, a rua estava deserta, nem aquelas vadias daquela noite, depois de cinco minutos olhando, eu puxei minha arma e apertei o gatilho rápido, sim, eu fiz de novo.

Eu estava gostando mesmo daquilo, a sensação era muito boa, e eu não vou parar, cara.

Eu repetia aquilo todas as noites desde a morte do traficante, toda vez que eu adicionava uma vitima a minha carga, eu sentia que estava perdendo o controle de mim mesmo, querendo algo mais e mais, eu estava virando uma besta, uma besta sagrada, alimentado pelo meu trabalho paralelo.

Um dia, eu sabia que eu tinha que agir aquela noite, eu saí do meu quarto, deixei minha casa e procurei alguém, eu encontrei um garoto fumando maconha, eu ri e apontei minha arma para ele e ele me olhou e me perguntou...

-O que você vai fazer?

Eu respondi...

-Eu salvarei você...

E aí ele começou a falar um monte de coisas sobre Deus e seu julgamento, que eu estava brincando de Deus.

Ele disse que ninguém nunca disse para ele que isso era errado, eu sabia que ninguém poderia ser julgado por um pecado se ele não soubesse que aquilo era pecado.

Eu não sabia como, como aquele moleque sabia todas aquelas coisas e ainda tentando me dar lição de moral, ah cara, eu sabia que o que eu estava fazendo era errado, então pensando por esse lado, quer dizer que se eu matar ele agora, eu serei julgado e provavelmente vou para o inferno e todos os seus erros não serão?

Isso é hilário não é?

Eu perco meu tempo limpando o mundo de pedaços de lixo igual você e essa é a minha recompensa, pagar pelos meus "pecados", ok, então aconteça o que tem que acontecer.

Eu olhei direto para o garoto, sorri e disse, que Deus tenha piedade de você e de mim.

Apertei o gatilho bem devagar, eu podia sentir a bala correndo e acertando o garoto, eu me senti bem, como se fosse um ultimo prazer, apontei a arma para minha cabeça e disse para eu mesmo ouvir, vamos lá Deus, faça o seu trabalho...

E atirei em mim mesmo...

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 15/04/2013
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T4241279
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.