Aprontando na casa da Tia

Reminiscências 22

Minha infância foi marcada por muitos fatos curiosos e pitorescos. E é sobre um desses fatos que pretendo narrar aqui.

Certo dia, nas férias do mês de julho, eu e meu primo Valdo, resolvemos visitar nossos avós maternos, que moraram bem distante da nossa cidade, Delfim Moreira.

Eram aproximadamente 40 km que tínhamos que percorrer a pé.

Após obter a autorização e bênçãos de nossas mães, saímos estrada afora, rumo ao distante bairro São Bernardo, o qual ficaria estabelecido como a primeira etapa de nossa aventura.

A alegria estampada no rosto de cada um era enorme e tinha, entre vários motivos, um em especial: Minha avó Sebastiana era famosa por manter uma cristaleira repleta de guloseimas de fabricação própria. Eram doces, balas, sequilhos, bolachas e tudo mais.

Eu, com apenas 10 e meu primo com 11 anos, não tínhamos noção de tempo e gastamos boa parte dele nessa primeira etapa. Sabem como é: Tem sempre quintais com frutas se oferecendo para serem colhidas, não é mesmo?

Enfim, chegamos próximo a São Bernardo, onde morava minha tia Jovenita, por volta das 5 h. da tarde, já bem cansados. Resolvemos fazer parada.

Ela ficou surpresa, e assim que contamos a ela o nosso destino, disse que era melhor a gente pousar em sua casa e no outro dia seguíssemos nossa jornada.

Concordamos, mesmo porque faltavam uns 10 km de caminhada.

Então fomos brincar com nossos primos, tomar banho, jantar, contar histórias e em seguida dormir.

Minha tia preparou uma confortável cama para cada um, com colchão de palha e lençol branquinho que era uma maravilha! Era só deitar que a gente afundava.

Acontece que lembrei de que eu invariavelmente, mijava na cama. Assim como a maioria de meus irmãos, tinha a chamada urina solta. Uma tragédia!

Em casa, minha precavida mãe até preparava uns forros extras para nós.

Nesse caso, pedi ao Valdo que me acordasse a noite a fim de que eu não estragasse o lençol e colchão de minha tia e dormi sobre a promessa de que ele assim o faria.

Que nada! Depois daquela longa caminhada, brincar e comer do bom e melhor quem acordaria no meio da noite?

O Resultado não poderia ser pior: Acordei por volta das 6 h. encharcado até o pescoço e ao levantar constatei que a linda cama da tia tinha se transformado num brejo. Com uma roda amarela enorme e cheirando mal, evidentemente.

Apesar do frio, o desespero falou mais alto. Acordei meu primo e disse:

- Valdoooo levanta... Mijei na cama da tia, temos que sair daqui antes que ela acorde.

Muito a contragosto e sonolento ele levantou e reclamou com razão:

- Seu mijão de uma figa!!

- É que você...

Bem, não havia tempo nem pra discussão. Calçamos os sapatos e saímos “de fininho” em direção a casa de nossos avós.

Por termos dormido de camiseta e calção (ainda não usávamos calças compridas), imaginem a minha situação. Com frio, somado a roupa totalmente molhada.

Somente quando o sol começou a despontar mais forte é que arrumei coragem de tirar a roupa e lavar num riacho, e secar no corpo mesmo.

Mas a recompensa foi grande quando finalmente lá chegamos.

Fomos muito bem recepcionados, comemos tudo o que “tínhamos direito”, brincamos até não agüentar e só retornamos à tarde de carona em uma charrete que um de meus tios, por felicidade, estava indo pra cidade.

E o que era melhor, passava longe da casa de nossa querida tia Jovenita. Coitada!

Também se não acontecesse lá, aconteceria na casa de minha avó, e esta sim tadinha, não merecia mesmo!

Evidentemente que isso veio à tona quando minha tia e minha mãe se encontraram.

Como já se passara alguns meses, não sofri maiores conseqüências, a não ser a gozação de irmãos, amigos e demais primos.

Mas também quem já não mijou na cama, né não?

Bons tempos!

Paulo Kostella
Enviado por Paulo Kostella em 20/05/2013
Código do texto: T4299501
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