MINHAS QUERIDAS MULHERES

Minhas queridas mulheres

(Cenário é uma sala com um sofá grande, televisão, etc. Tem uma velha imóvel numa cadeira de rodas e tem uma cozinha conjugada à sala, com uma geladeira, etc).

- Alô!

- Alô, mãe, sou eu... Escuta... Você não vai acreditar...

- Que foi???!

- Eu to uma pilha de nervos, escuta só essa, acabei de encontrar uma caixa de calcinhas nas coisas do Adauto...

- Quê???

- Uma caixa de calcinhas...

- Era só o que me faltava, esse homem usando calcinhas. Olha, eu falei que esse casamento não ia prestar...

- Mãe...

- Filha, você não merece um marido gay...

- Escuta...

- É o cúmulo... Por que esse desgraçado casou se sabia que não gostava de mulheres...

- Mãe, quer me ouvir, por favor, você está me deixando mais nervosa...

- Também não é para menos... Adauto, quem diria...

- Pára (voz exaltada). Deixe-me falar, eu não estou dizendo que o Adauto é gay, de onde você tirou essa ideia. Ah, você tem cada uma! Ta vendo, não dá para a gente conversar... Eu vou desligar...

- Amélia, calma! Não desliga! Você está nervosa, quer que eu vá aí?

- Não, mãe! Lógico que não!

- Não sei por quê?

- Por causa dessas coisas... Você odeia o Adauto!

- Confesso que não morro de amores...

- Mãe, essas calcinhas são de mulheres...

- Eu entendi...

- Não entendeu não! Você está achando que ele está usando...

- Explique-se então, você acha calcinhas de seu marido e quer que eu pense o que?

- Que são calcinhas de mulheres... Mulheres que usaram e deram para ele...

- Deram o que???!

- As calcinhas mãe...

- Ah... Então é isso...

- Sim...

- Ah...

- Você não vai falar nada...

- O que você quer que eu fale?

- Sei lá, fale alguma coisa...

- Cachorro, desgraçado, sem vergonha...

- Mãe (voz exaltada novamente). Eu não mandei você xingar ele. Ele é meu marido...

- Não dá para falar outra coisa...

- Você está é aproveitando, sempre quis xingar ele, e está aproveitando... (iniciando choro)

- Ta bom, eu não vou mais xingar o desgraçado, cachorro... Escuta, você está muito nervosa... Conta esta história direito...

- Eu estava arrumando as coisas dele no armário e encontrei uma caixa e quando abri, estavam lá, todas... Foi horrível...

- Não seriam calcinhas que ele comprou para lhe dar?

- Usadas? E tem vários tamanhos...

- Usadas? Como você sabe? Você cheirou? Que nojo...

- Eu não cheirei , mas estou vendo que são usadas...

- Será que ele é maníaco?

- Será que ele está me traindo? (chorando)

- Olha, tenha calma, espere para tirar essa história a limpo. Não vá falar com ele nervosa do jeito que você está, é perigoso, vai dar briga feia...

- E você acha que vou conseguir ficar calada?

- É necessário! Primeiro você tem que verificar se realmente é isso. Pode ser que sejam antes de você conhecê-lo.

- Será? Mas mesmo assim é estranho ele guardar essas coisas...

- Sim, mas menos mal... Apesar de eu nunca ter confiado nele... Presta atenção, você não vai falar nada com ele... Deixa passar esse nervoso, depois vocês conversam com calma.

- Não sei se vou conseguir...

- Você tem que conseguir. Entendeu? E a velha?

- O que tem ela?

- Continua na mesma?

- Sim, coitadinha, ela é um amor... Eu continuo ouvindo ela falar comigo...

- Mas ela está falando com você?

- Não, ela está imóvel desde o derrame, mas às vezes parece que eu ouço ela me xingar...

- Filha, será que você está bem? Não é melhor eu adiar minha viagem e ficar uns dias aí com você?

- Não, mãe! Vá viajar sossegada com o papai... Eu estou bem...

- Não parece... Estou preocupada...

- Mãe, são 5:53, o Adauto já está chegando, vou desligar...

- Filha não toque no assunto, me entendeu? Depois com calma você conversa com ele...

- Tá bom, tá bom... Deixe-me agora...

- Posso confiar que você não vai tocar no assunto, pelo menos hoje não, não enquanto você estiver nervosa...

- Mãe! (exaltada). Eu já disse que está bom, tchau...

- Tchau, um beijo.

- Outro, te amo...

(O marido entra, tranca a porta, dá um beijo na esposa e outro na velha, põe a pasta em cima da cômoda, abre a geladeira, olha tudo, bebe água, senta na poltrona, tira o sapato e pega o jornal e coloca-o no colo).

- Mamãe está bem?

- Sim, ela não comeu muito bem hoje.

- E você? Ta com uma cara, parece que chorou...

- Não é nada, é mamãe que conta umas coisas que me faz chorar...

- Vocês brigaram?

- Não, e quem consegue brigar com ela?

- Eu...

- Não seja cruel! (Num tom irritado). Ela lhe quer muito bem!

- Sim, muito bem... Longe...Brincadeirinha!

- (Com ares de não muita amizade). Eu estou muito cansada para piadinhas...

- Desculpe... Só estou de bom humor...

- Pois eu não! Estou com dor de cabeça!

(Ele imediatamente tira um comprimido do bolso)

- Tome esse comprimido que já melhora...

(Ela pega o comprimido e olha para ele com uma cara de mau humor, vai até a cozinha e toma o remédio, vem com um prato e começa a dar comida para a velha)

- Deixa que eu dou a comida.

(A velha come desesperada)

- Nossa como mamãe está com fome, coitada...

- A hora que eu dei comida ela não quis pegar...

- Comeu tudo... Você precisa insistir mais para ela comer, está magrinha...

- É eu sei, eu vou insistir mais da próxima vez...

Ele se aproxima dela carinhosamente

- Você sabe que eu te amo...

- Será mesmo?

- Dúvida minha cocadinha?

- Duvido... (ela num ímpeto pega a caixa e apresenta a ele). Se você me ama o que significa isso então?

- O que é isso?

- Vai dizer que você não sabe o que é isso?

- Não, mas poderei saber se você me disser...

- Isso é isso (ela fala abrindo a caixa e tirando as calcinhas de dentro)

- Não entendi! (ele fala meio irritado)

- Eu não entendi! (voz alterada e com autoritarismo) uma caixa de calcinhas nas suas coisas...

- Quê?!!! Você está doida?!!!

- Eu não. Estou bem lúcida e isso aqui é bem concreto...

- Onde você quer chegar? Explique por favor, daqui a pouco serei obrigado a achar que casei com uma doida...Cada hora você vem com uma briga diferente...

- Ah é isso, agora sou doida... Acho uma caixa de calcinhas nas suas coisas e agora sou doida...

- Espera um pouquinho, você quer insinuar que eu uso isso... Você ficou doida mesmo... Não foi com essa mulher que me casei...

- Minha mãe acha que você usa, mas eu não...

- Ah, mas sua mãe tinha que estar no meio, o que vocês duas estão armando heim?

- Adauto , eu achei essa caixa nas suas coisas. O que você quer que eu pense?

E eu não estou pensando que você usa, eu acho que essas calcinhas são de mulheres...

- Ah! Que conclusão fantástica... São calcinhas de mulheres... É lógico, se fossem de homem seriam cuecas...

- Que explicação você me dá disso...

- Eu não tenho explicação para lhe dar... Nem poderia! Isso é uma insanidade sua...

- Você acha que eu estou inventando?

- Acho! Não sei por que motivo! Gostaria de descobrir o que você e sua mãe estão tramando. Agora não posso confiar nem na minha esposa mais...

- Não mude de assunto Adauto! Por favor, só me diga o que isso estava fazendo nas suas coisas? Por favor, me responda... Não aguento mais essa situação...

- E você acha que eu aguento, chego em casa sossegado e você vem me despejar essas coisas. Isso não é meu, entendeu? Eu nunca usei. Eu uso cueca, você quer ver? Ou acha que estou de calcinhas?

- Não, eu não acho! Não me confunda! Eu acho que são calcinhas de mulheres que você saiu (num tom mais calmo)

- Minha querida, veja bem, essas coisas não são minhas, eu nunca peguei calcinhas de mulheres que eu sai, se assim o fosse eu teria pego uma sua também, sumiu alguma sua? Tem alguma sua aí?

- Não...

- Então! Eu estou falando que essas coisas não são minhas, não sei de onde surgiu. Se foi alguma brincadeira de alguém, foi de muito mau gosto...

- Você acha?

- Eu tenho certeza, se isso não partiu de você, de mim também que não foi. Entendeu sua bobinha? Achar que seu marido guarda calcinhas, bobinha mesmo...

(já mais carinhoso).

- Eu não sei o que pensar (falando docemente)

- Pois não pense nada, você está me saindo muito ciumenta, fica procurando chifre na cabeça de vaca. Que tal acreditar mais em mim?

- Tem razão...

- Eu vou descobrir quem fez essa brincadeira de mau gosto.

- Deixa pra lá, já esqueci, sei que você não faria isso.

- Lógico que não. (diz isso abraçando ela) (Uma pausa)

- Querido você acredita que continuo ouvindo sua mãe me xingar?

- Coitada da mamãe...

- É, eu sei... Alguém deve estar fazendo alguma brincadeira...

- Você tem olhado na janela, às vezes algum moleque tirando um sarro...

- Mas quem faria isso? Já olhei em tudo, não vejo ninguém e nada...

- Mas você tem certeza, não seria um gato miando, um cachorro latindo, ou a televisão?

- É estranho, estou confusa...

- Você já teve esses problemas quando era criança?

- Não, eu não estou ficando louca...Eu ouço com muita nitidez...

- Eu heim! Não seria melhor você ir ao médico, será que você não está ouvindo coisas, olha eu já ouvi falar de alguns casos de loucura que começam assim...(risos discretos)

- Você não está falando sério né?

- Lógico que não...Deve ser algum som lá de fora e você pensa estar ouvindo coisas, não esquenta a cabecinha com isso.

- Vou levar sua mãe para dormir...

- Eu vou tomar um banho para jantarmos...

(ela sai com a velha e ele entra num dos quartos, a luz se apaga)

(Amélia retorna ao palco com a velha na cadeira de roda, já é a tarde do dia seguinte, ela arruma a sala e recolhe algumas revistas, a velha esta meio que de costas para o palco. Ela senta no sofá com uma vasilha de pipocas e está distraída vendo tv)

- Sua ordinária. Vadia. Despacho de macumba...

(No ímpeto do susto a vasilha de pipocas voa de sua mão, ela procura de um lado ao outro, corre na janela e não vê absolutamente nada) Obs:” esse som deverá estar gravado quando vier ao palco”

- Dim Dom (campainha).

(Amélia meio atordoada recolhe a pipoca do chão imediatamente antes de atender a porta e continua a tocar a campainha insistentemente).

- Mamãe, é você...(afirmação)

- Sim, quem mais poderia ser, mal dormi essa noite preocupada...

- Eu estou muito bem, poderia ter ligado.

- Se eu ligasse você diria para eu não vir, te conheço...

- Não precisava vir, mas tudo bem entre, mas não comece a me encher e nem a falar mal de meu marido...

- Por que eu falaria mal dele? Porque ele usa calcinhas (risos)

(Amélia nada responde, só fica de mau humor e recomeça a catar as pipocas no chão)

- Que são essas pipocas no chão?

- Caiu, você acredita que agora pouco ouvi a Dona Ernestina me xingar de novo...

- Credo! (Diz isso fazendo o sinal da cruz)

- Eu olhei para todos os lados para ver se via alguma coisa e não vi nada, olhei na janela, é muito estranho...

- Será que ela está lhe xingado? (Diz isso observando a velha)

- Mãe, lógica que não, isso não tem cabimento, ela está numa cadeira de rodas, imóvel desde o derrame...

- Ah, não sei não! Essa velha não me engana, é só olhar para o filho.

- O que tem o filho?

- Não vou nem dizer que filhinho “pá” só pode ter mãe o quê?

- Mãe o quê?(furiosa)

- Mãe o quê? (desentendida)

- Filhinho o quê?(voz alterada)

- Mãe e filhinho nada. Pronto. Não posso falar nada mesmo...

- Se for para insultar meu marido não pode dizer mesmo.

- É, mas nada me tira da cabeça que essa velha está falando ou você está ficando doida...

- É disso que tenho medo...

- Disso o quê?

- Disso (abaixando os olhos). De estar ficando louca...

- Credo menina para com isso...

- Nós temos algum caso de gente louca na nossa família?

- Não que eu saiba...Pensando bem, seu avô tinha umas manias estranhas, não, mas não era loucura...

- O que ele fazia, ele ouvia vozes?

- Não que eu saiba, as manias dele eram outras...

- Tipo o quê?

- Ficar procurando sujeira pela casa, trancar a casa com mil fechaduras, desconfiar de todos. Essas coisas...

- Mas isso é normal...

- Não era muito não, se você o conhecesse saberia...

- É, ele morreu muito cedo... Mas eu estou falando de muito mais que isso...

- Não, você não está louca, deve ser algum som vindo lá de fora...

- É o que o Adauto acha, mas eu já não tenho tanta certeza assim...

- Puxa, você está me deixando preocupada...

- Tem mais, essas coisas que ando encontrando nos pertences do Adauto? E se for eu mesma quem estiver colocando num súbito de loucura. Eu li alguma coisa sobre isso na Internet. O louco faz e não lembra que o fez.

- Querida você está de brincadeira né?

- Eu estou com medo...

- Acho melhor a gente marcar um médico para você. Mas acha realmente possível isso?

- Mamãe, veja bem. Aquela história do bilhete na camisa dele. Eu briguei muito por causa disso e ele sempre jurou não saber de nada, depois os quartos que aparecem desarrumados e eu lembro de tê-los arrumados, a história da caixa de calcinhas. Você precisava ver a cara dele, não é possível que ele esteja mentindo para mim...

- Também o fato de você ouvir vozes...

- É mãe, e eu penso que dou a comida para a minha sogra e na verdade não estou dando, porque quando o Adauto chega ela está faminta...

- Quê?? Ainda tem essa...

- É eu não lhe contei, está acontecendo isso também...

- Isso é muito estranho...

- Eu acho que estou louca...

- Não vamos pensar assim, pode ser algum stress... E se for alguma conspiração?

- Não é mais fácil achar que estou louca?

- É talvez... Mas e se for alguma pessoa que não gosta de você e está armando isso tudo...

- Isso é tão mórbido que ainda prefiro achar que estou ficando louca...

- Olha, eu preciso viajar, mas já não sei se vou ficar em paz...

- Pode ir, está na hora de eu começar a resolver meus problemas sozinha.

- Eu não comentei nada com seu pai.

- Melhor! Assim ele não fica de cabeça cheia. Vamos lá para o quarto que quero mostrar umas roupas que comprei.

(Amélia entra no quarto empurrando a cadeira de roda da velha e sua mãe a acompanha)

(As luzes se apagam, inicia um novo ato).

(Amélia está sentada assistindo televisão, novamente a velha a xinga, ela levanta num súbito e corre na janela para ver se o som vem de lá. Procura intrigada pela porta, etc, senta-se novamente, a cena se repete. Chega Adauto. O marido entra, tranca a porta, dá um beijo na esposa e outro na velha, põe a pasta em cima da cômoda, abre a geladeira, olha tudo, bebe água, senta na poltrona, tira o sapato e pega o jornal e coloca-o no colo)

- Você parece pálida?

- Devo estar mesmo...

- O que houve?

- Aconteceu de novo.

- O quê?

- Ouvi novamente sua mãe me xingar...

- Não é possível. Esse assunto de novo, você não está inventando não?

- Por que eu inventaria isso?

- Não sei, parece que tudo nessa casa ultimamente não tem motivo para ser...

- Eu não devia ter falado nada.

- Desculpa, fui eu que perguntei.

- Tudo bem (engolindo o choro)

- Estou muito nervoso. Aconteceu uma coisa no meu trabalho e estou fora de mim.

- Mas o que houve?

- Eu deixei meu relógio cair no tonel de queijo, revirei tudo, mas não encontrei. Ai meu Deus! Eu estou ferrado!

- Nossa! Mas e agora? O que você vai fazer?

- Não sei, não vou nem conseguir dormir...

- Ninguém precisa saber que foi você quem deixou cair...

- Eu uso aquele relógio há mais de dez anos, você acha que as pessoas não conhecem?

- Puxa, eu não sei nem o que dizer...

- Nem eu, estou tão desesperado. Amanhã vou procurar novamente, chego mais cedo e reviro o tonel de ponta a ponta... Tenho que achá-lo...

- Você vai encontrar. Tenho certeza! Vai dar tudo certo!

- Como está mamãe? Ela está bem?

- Está sim, só que não quis comer.

- Mas você insistiu?

- Insisti e muito. Ela só quer comer com você, o que posso fazer?

- Pegue a comida lá, experimente dar agora.

(Amélia vai até a cozinha pega o prato e dá a comida para a velha que come desesperadamente)

- Olha aí, ela está comendo, você disse que ela só queria comer comigo...

- Não sei o que está acontecendo, ela não quis comer... Agora a pouco eu dei comida a ela, o prato está até quente, veja...

- Você não deve estar fazendo direito.

- Estou me esforçando o máximo, acredite.

- Será mesmo? Nos últimos dias você só vem com esse papo que está ficando louca, ouvindo vozes, diz que faz as coisas e não faz, ontem mesmo o quarto estava uma bagunça e você disse que arrumou, será que você está dando mesmo a comida pra mamãe, coitada. Vai ver ela está passando fome na sua mão.

- Não me faça essas acusações, você está sendo injusto, eu dou a comida, ela que não come.

- Eu já não sei de mais nada... (Diz isso entrando em um dos quartos). Veja isso, olha a bagunça que está esse quarto, roupa para todo o lado...

- (Ela corre na direção do quarto também) Nossa! O que é isso!

- Eu pergunto o que é isso? Não me diga que você surtou de vez? Você sabe que odeio bagunça.

- Esse quarto estava arrumado eu juro. Antes de tomar banho vim e peguei minhas roupas e ele estava arrumado, meu Deus, o que está acontecendo?

- Eu estou cansado disso, não tem sido fácil pra mim essa situação, confesso que não nasci pra isso.

- O que você quer? Separar?

- Olha, já nem sei mais o que quero, quem sabe é melhor mesmo, não dá para viver com uma pessoa que nem sabe o que faz.

- (Amélia em prantos) Eu juro que não sei o que está acontecendo, eu não fiz nada , procuro fazer o melhor possível. Eu dou a comida para sua mãe, eu arrumo a casa... Não sei nem o que dizer...

- (Adauto áspero) Pois então não diga nada, fique calada que já tenho problemas demais.

(Adauto entra com sua mãe em um dos quartos Amélia fica chorando, escurece o palco, ao clarear ela está adormecida na sala, já é madrugada. Adauto vem com um cobertor e a cobre, olhando-a com muita ternura, levanta e volta para o quarto, retorna a sala em seguida e a chama com ternura, ela olha para ele meio sonolenta)

- Me desculpa. (Diz ele).

- (Amélia com lágrimas nos olhos o abraça)

- Eu estava nervoso, me desculpa.

(Os dois se abraçam, ele a levanta e a conduz ao quarto, num gesto sublime).

Novo ato. (Amélia está na sala lendo uma revista, o telefone toca)

- Mãe, que saudades...

- Eu também estou com saudades, como vão as coisas por aí?

- Não está nada bem. Mas e aí? Conta da sua viagem.

- Seu pai está um verdadeiro cavalheiro, estamos nos divertindo muito... Mas não sei se devia ter deixado você num momento tão difícil...

- Quanto ao meu casamento está tudo bem, eu e o Adauto nos acertamos, sabe o que eu fiz mãe? Eu simplesmente não falo mais nada para ele das vozes que ouço, ele está vindo na hora do almoço e dá comida para a mãe dele, e fico o tempo todo vigiando os quartos e se aparecem desarrumados eu os arrumo, antes mesmo dele chegar, assim que tomo banho corro e verifico todos os cômodos.

-E aparecem desarrumados?

- Sim, mas eu os arrumo rapidinhos...

- A hora que eu chegar aí, vou levar um padre para te visitar, às vezes é algum encosto de demônios, só pode ser isso, peço para o padre exorcizar.

- O importante é que agora nós não estamos brigando mais, e se acho alguma coisa suspeita de mulheres na roupa dele, nem ligo. Decidi mãe, não brigo mais com meu marido, se ele tiver outra eu só vou brigar se eu ver, não vou ficar enchendo ele com briguinhas...

- Isso mesmo. É assim que se fala, fico mais aliviada sabendo que você amadureceu.

- Mãe por que não me ligou antes, nossa faz uma semana que vocês estão aí e nem um telefonema. Aconteceu um problema no trabalho do Adauto. Ele deixou o relógio cair dentro do tonel de fazer queijo. Já procurou e não achou. Mãe dá até dó! Coitado! Ele não consegue nem dormir direito. O problema é que agora já fizeram os queijos. São peças enormes, e ele está com medo de alguém encontrar e processar a empresa e ele perder o emprego.

- Coitado! Mas ninguém precisa saber que o relógio é dele.

- Foi o que eu disse, só que ele usa esse relógio há mais de dez anos, com certeza alguém vai reconhecer. Mãe, estou morrendo de dó. Ele não come direito. Está arrasado. Ainda mais ele que faz tudo certinho, imagina como não está a cabeça dele...

- Ele procurou direito?

- Sim, passou três dias procurando, indo mais cedo ao trabalho e remexendo no tonel, mas não conseguiu achar, Agora já deve estar em alguma peça de queijo. Sumiu! Misteriosamente!

- Eu to falando que tem um encosto de demônio. É o demo... Está decidido, quando eu chegar aí vamos exorcizar tudo.

- Ta bom mãe. O que o pai está reclamando aí?

- Seu pai, ele fica aqui ó, já está todo nervoso que vai ter que pagar a conta desse telefonema, mas eu não ligo para ele. Quer falar com ela bem?(pequena pausa) Ele mandou um beijo. Disse que conversa pessoalmente, ele vai “surtar” se eu continuar nesse telefone.

- Mãe então ta, um beijo.

- Um beijo, querida, mais uma semana e estou aí de volta, se cuida ta. Vou torcer para que o Adauto encontre o relógio. Vou acender velas. Muitas velas.

- Ta bom, tchau.

(Desliga o telefone, busca a velha do quarto e a coloca na sala).

- Dona Ernestina, vou tomar um banho e já volto. Fica aí boazinha.

(Amélia entra no quarto e para surpresa de todos, a velha levanta da cadeira de rodas, estica se toda e faz uma dancinha engraçada alongando os ossos.)

- Capeta de mulherzinha, agora essa, (imitando voz mais fina).”Não brigo mais com Adauto”. Era só o que me faltava, eu aqui toda dolorida nessa cadeira de rodas pra nada, não to podendo, Eu vou aprontar uma que vai ser definitivo, deixa essa lambisgóia azeda comigo.

(A velha senta-se espalhada no sofá com uma caixa de chocolates, come bastante, dança novamente e pula na sala, fazendo alguns exercícios, indo sempre olhar se Amélia ainda está tomando banho. Vai à geladeira e come alguma coisa. Amélia sai do quarto e vê a velha em pé).

- Dona Ernestina a senhora sarou!!! Que surpresa!!!

(A velha corre e senta na cadeira)

- Dona Ernestina?!

- O que você quer, sua intolerável?

- A senhora está falando e andando?!

- Sim, você também está falando e andando, “dããã”.

- Mas a senhora...

- Eu o que?

- A senhora estava imóvel... Isso é um milagre!

- Milagre o quê? Sua lambisgóia...

- Eu não entendo...

- É lerda mesmo...

- A senhora nunca esteve doente?

- “Dã!” Aleluia!

- Meu Deus, como a senhora pode?

- “Adivinhaaaa”...

- O Adauto vai ficar chocado.

- O Adauto não vai ficar nada. Acha mesmo que ele vai acreditar em você.

- Como assim?

- Assim ó (fazendo careta). Acha que vou assumir que não estou doente. Fala para ele e vamos ver se ele acredita. Você é meio louca mesmo: ouve vozes, vê coisas... Agora essa, há, há, há...Imaginando que estou bem há, há, há... Você precisa mesmo é ser internada, e logo...

- Espera aí, eu não estou louca. A senhora está aí, falando comigo, eu estou vendo. Eu não consigo acreditar... Será que eu não estou bem... (diz isso se sentando). Mas se eu não estou louca a senhora é uma megera? É a senhora que desarruma os quartos?

- Não vou perder meu tempo com você, sua louca de pedra...

- (fazendo cara de total desentendida, tentando raciocinar) É a senhora que faz aquelas coisas para provocar as brigas entre mim e o Adauto?

- Aliás, você é tão inútil que não é capaz nem de ajudar seu marido. Se você fosse esperta diria a ele para comprar os queijos com a economia que tem no banco. Pelo menos ele garante o emprego, E o queijo vocês podem vender.

- Sabe que a senhora tem razão. Ta aí, uma boa ideia, tenho certeza que ele vai gostar...O coitado está tão nervoso...

- Lógico que eu tenho razão, ao contrário de você, eu uso a cachola...Aliás, eu vou é tomar meu banho, estou cansada de olhar para sua cara amassada.

(A velha sai empurrando a cadeira e Amélia por um tempo fica imóvel olhando a cara de pau da sogra. Totalmente chocada, de repente ela se recobra da situação e começa a arrumar a sala e a cantarolar e faz um pequeno monólogo entre uma cantoria e outra)

- Eu heim, depois sou eu a maluca....

- (cantando) quando acabar o maluco sou eu...

- (falando) Meu Deus que inacreditável...Será que eu sonhei?

(Corre na porta do quarto para se certificar que não fantasiou nada)

- Poxa, nem sei o que pensar... Devo ser maluca mesmo, de pedra...

(A luz se apaga e ao acender Amélia entra no quarto e trás a velha na cadeira de rodas. A maçaneta da porta se mexe, Adauto entra, tranca a porta, dá um beijo na esposa e outro na velha, põe a pasta em cima da cômoda, abre a geladeira, olha tudo, bebe água, senta na poltrona, tira o sapato e pega o jornal e coloca-o no colo).

- Eu não sei mais o que fazer, acho que envelheci uns dez anos com esse problema no meu trabalho, veja se não apareceram alguns fios de cabelo branco na minha cabeça? (diz isso se inclinando para que Amélia olhe sua cabeça)

- Não querido, você está com os mesmos fios brancos de antes. Nada de achar o relógio?

- Eu não consigo entender, procurei tanto... O duro é ficar com isso na cabeça, cada telefone que toca, eu estremeço, acho que vem vindo a notícia que alguém achou...

- Sabe o que eu estava pensando, querido... E se você comprasse as peças de queijo?... Nós temos um dinheiro guardado... Pelo menos você garante seu emprego...

(Faz se um silêncio... Adauto pensa...).

- Talvez seja uma boa ideia. Tudo que não posso é perder esse emprego. O lote desses queijos está intacto, eu posso comprar tudo!

- Isso!...

(O rosto do Adauto se ilumina na esperança que surge).

- Querida, você me deu uma grande ideia! (Ele beija Amélia e a velha geme de raiva).

- Ué, parece que mamãe gemeu... Será que ela está com dor?

- Eu não ouvi, querido. Deve ser só impressão...

- Coitadinha da minha mãe, tenho certeza que ela vai melhorar...

- Torço tanto por isso, Adauto...

- Tenho certeza que sim.

- O que tem para jantar? Estou com fome! Olha, voltou meu apetite!

- Fiz lasanha.

- Vou tomar um banho rapidinho. (Adauto sai levando a mãe para o quarto, Amélia vai até a cozinha e cantarola feliz).

- Adauto, eu te amo (Ela grita da cozinha).

- Eu também te amo (Ele grita do quarto e ela sorri. As luzes se apagam).

(As luzes se acendem iniciando outro dia).

(Amélia sai do quarto com a velha).

- Não precisa ficar me empurrando nessa cadeira, não sou aleijada...O Adauto já saiu para o trabalho. (diz isso se levantando da cadeira).

- É sogrinha, estou vendo que a senhora está mais saudável que mim e o Adauto juntos.

- Eu gozo de boa saúde... Para atormentar você. Não pense que vai ficar casada com meu filho, porque não vai.

- Ah, mas vou mesmo. Não tem ninguém nesse mundo que vai nos separar.

- Será? Vamos ver então. Vou fazer de tudo para acabar com sua alegria de casada, vamos ver quem aguenta mais...

- É ruim, heim! Eu estou aqui livre e solta, agora a senhora que eu quero ver quanto tempo vai aguentar ficar nessa cadeira sentada. Vai doer a bunda há, há, há.

- Pois eu aguento. Se for para acabar com seu casamento com certeza.

- Não se preocupe sogrinha, eu suportarei suas investidas de cobra peçonhenta.

- Você é folgada, deu a ideia para o Adauto comprar os queijos como se fosse ideia sua...

- E a senhora queria o quê? Que a ideia fosse da minha sogrinha que não fala e não anda.

- Você de boba não tem nada...

- Vivendo e aprendendo...

- Vamos ver quem é mais esperta.

- Tudo bem, mas uma coisa foi muito legal, ver a senhora gemendo de raiva, há, há, há...

- Você está muito engraçadinha, sua hiena desdentada e fedida. Não fale mais comigo...

(A velha entra no quarto, levando a cadeira de rodas. Amélia começa a arrumar a sala).

- Gente, eu não estou podendo com essa mulher, mas ela não vai me tirar do sério, não vai mesmo.

(Pausa, Amélia continua arrumando a sala)

- Não vou nem esquentar minha cabeça, faz de conta que ela é uma sombra. É isso mesmo, vou fingir que ela é uma sombra.

(A campainha toca, chega o Adauto).

- Me ajude aqui, estou cheio de caixas de queijo. Comprei todo o lote.

(Amélia vai até a porta e começa a pegar as caixas junto com o Adauto. Enche a sala de caixas).

- Será que o relógio está aqui, querido?

- Claro que está, vamos espetar os queijos com um garfo e acabar com esse pesadelo.

(Amélia e Adauto pegam cada um, um garfo e começam a abrir as caixas e espetar os queijos).

(As luzes se apagam e voltam. Amélia e Adauto mudam de caixa cada vez que a luz se apaga, dando a impressão do tempo que passa, isso ocorre várias vezes).

- Ufa! Acho que verificamos todas.

- Não é possível. O relógio tinha que estar em um desses queijos. Amélia, você tem certeza que olhou direito nas caixas, espetou bem?

- Esmigalhei os queijos. Veja...

- Vamos de novo, às vezes está em algum canto que não furou.

(Novamente as luzes se apagam e acendem, por várias vezes, estando o casal, cada vez em uma caixa diferente).

- Meu Deus! Eu comprei todos os queijos do lote, não é possível (fala isso desesperado).

- Não tem relógio nenhum nesses queijos, será que alguém tirou alguma peça...

- Não, elas são numeradas, eu saberia...

- Você tem certeza que deixou esse relógio cair no queijo?

- Sim, eu tenho certeza, eu vi caindo... Ou melhor, eu não vi caindo, eu só vi que não estava no meu pulso.

- Querido, será que você deixou cair mesmo?

- Tenho certeza que sim.

- Será?

- Ou melhor, acho que sim. Ou não...

- Aqui pelo menos não tem nada...

- Todos os queijos estão aí...

- Não foi vendido nenhum queijo desse lote? Às vezes você se enganou com a numeração.

- Eu verifiquei tudo, estão todos aqui...

(Adauto senta desolado).

- Ai, agora eu me lembrei.

- O que, Adauto?

- Nossa!

- Que foi? (Pergunta Amélia aflita).

- O relógio...

- O que?

- Eu levei no conserto!

- Meu Deus! (Amélia faz uma cara chocada). Nossas economias...

- Eu não acredito que fiz isso. Esqueci que levei o relógio ao conserto.

- Tudo bem, querido, o importante é que você não vai perder o emprego.

(O telefone toca e Amélia atende, Adauto está lá, arrasado).

- Alô (Pausa)

- Está bem, vou resolver isso. (Pausa)

- Tudo bem, tudo bem.

- Que foi Amélia?

- Os vizinhos, eles estão reclamando do cheiro forte dos queijos em nosso apartamento.

- Mande esses vizinhos para o quinto dos infernos.

(Apagam as luzes).

(As luzes se acendem e Amélia está na sala arrumando algumas caixas).

- Dona Ernestina, quer que eu vá buscar a senhora aí no quarto, com a cadeira de rodas? (pergunta ironicamente).

- Eu não sou aleijada (ela grita do quarto).

- Ah, desculpa, eu não sabia (dá uma risadinha).

- Você é mesmo uma lambisgóia (a velha sai do quarto resmungando). Fez o coitado do meu filho comprar esse monte de queijos, gostou todo o dinheiro dele e ainda enche o apartamento com esse cheiro insuportável.

- A ideia foi sua.

- Mas eu não disse isso a ele. Aliás, era o caso dele se separar de você, dar uma ideia dessas ao coitado. Você só o leva ao fundo do poço, mulherzinha encardida!

- Eu só quis ajudar... E ele não reclamou.

- Porque é um bocó. Um capacho seu. Deixa eu me recuperar e vou dizer umas poucas e boas para ele...

- Você se recuperar?... Esquece-se que não está doente?

- Vou falar para ele das suas idéias de girino, que não servem para nada a não ser para atrapalhar.

- Dona Ernestina, foi a senhora que deu essa ideia de comprar os queijos.

- E você toda fogosa foi lá dizer a ele. Se fosse minha a ideia eu teria dito a ele.

- A senhora não teria dito a ele porque está aí fingindo de aleijada.

- Eu não estou fingindo de aleijada. Como você é usurpadora, cobra, naja...

(Ao dizer isso Dona Ernestina vai para cima da Amélia que nesse momento está próxima à cozinha enrolando macarrão com o rolo na mão).

- Vou acabar com sua raça sua cobra peçonhenta...

(Ao ir a direção da moça, Amélia num susto bate com o rolo do macarrão na cabeça da velha (o rolo pode ser de borracha) A velha cai imóvel).

- Dona Ernestina, dona Ernestina? Meu Deus o que foi que eu fiz?

(Desesperada Amélia tenta acordá-la)

(Pega o telefone e liga)

- Adauto (chorando) Adauto sua mãe...

- O que foi?

- Ela caiu da cadeira de rodas...

- Como assim?

- Ela caiu. Venha para cá logo, por favor, ela está muito mal. Está desacordada.

- Ela está respirando?

(Amélia observa a respiração).

- Sim, ela está respirando. Parece que ela está tendo um derrame. Ela está virando os olhos...

- Chame o médico, já estou indo para aí.

- Dona Ernestina, por favor, fale comigo...

(Amélia tenta reanimá-la, as luzes se apagam).

Quando as luzes retornam Amélia está sentada no sofá. Triste, com as mãos no queixo, as caixas de queijos continuam lá. Ela levanta e começa a arrumar a sala. O telefone toca:

- Alô.

- Amélia, tudo bem?

- Mãe, que bom que você ligou.

- A velha melhorou?

- Não, ela está muito mal. O que vou dizer para o Adauto? Ele nunca vai me perdoar. Eu não podia ter feito isso. Eu devia ter contado que ela estava andando e falando.

- Não foi culpa sua. Essa velha só fez maldades. Você não fez nada, só se defendeu...

- É mãe, mas não justifica. O Adauto nunca vai me perdoar.

- O que você disse a ele?

- Não disse nada, só disse que ela caiu da cadeira. Ele acha que ela teve outro derrame. O coitado nem sabe que ela nunca teve nenhum derrame...

- E será que ela realmente teve derrame agora?

- Ela está diferente, está mais mole. E outra, já falei um monte com ela quando estamos sozinhas, ela só move os olhos, parece que quer falar e não consegue. E o médico falou que ela está muito doente. E dessa vez não aparece mais nada fora do lugar, está tudo arrumadinho, e olha que já faz uma semana.

- Então fique quieta, não fale nada. Você vai ver, tudo vai se ajeitar.

(A porta faz barulho).

- O Adauto chegou, eu vou desligar, depois nos falamos, beijo.

- Um beijo.

(Adauto chega com a velha na cadeira de rodas. Amélia corre ao seu encontro).

- Como ela está, querido?

(Ele beija Amélia na testa com um sorriso).

- Ela está ótima.

- Como assim?

- Mamãe está ótima, veja. O médico disse que ela não vai andar e nem falar por causa do derrame. Mas ele não sabia que ela já estava assim por causa do outro derrame. Desse derrame não houve nada com ela, está igualzinha. Que maravilha. Veja como ela está muito bem. Né mamãe?

- É verdade querido, não houve nenhuma sequela dessa vez, fico muito feliz.

- Isso merece uma comemoraçãozinha.

- Que bom que você está feliz Adauto.

- Estou. Não perdi o emprego, achei meu relógio, mamãe não piorou... Tudo certo, então vamos comemorar...

- Com o quê?

- Queijos e vinhos, vamos fazer uma festa!

FIM.

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Raquel Delvaje
Enviado por Raquel Delvaje em 09/06/2013
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