Como João perdeu Maria e sofreu

João era o tipo de pessoa que todo mundo adorava. Simpático, atencioso, bonito, estudioso e bom filho. Tinha 28 anos de idade, quatro de formado e bom emprego. Andava pela cidade de cabeça erguida, pois tudo o que havia conquistado até hoje, pouco, havia sido com muita luta e estudo. Sempre dizia para seus amigos que era importante que estudassem e, sem tal possibilidade, que pudessem fazer bem aquilo que lhes era proposto.

Maria era uma mulher muito bonita. Havia estudado, porém não atuava em sua área. Havia conquistado muito pouco em sua vida. Não aceitava deixar alguns prazeres de lado em prol de buscar algo melhor. Não era preguiçosa, trabalhava bastante, mas preferia o imediatismo das coisas como roupas caras, jóias e status.

João saía pouco. Quando sim, uma festa na casa de amigos mais próximos ou uma balada aqui outra acolá. Gostava de estar entre os amigos, muitos dos quais conhecia há anos, mas preferia tê-los em um ambiente mais íntimo, onde podia conversar e reforçar os laços de amizade. Em casa, recebia-os de portas abertas e sempre se divertia com eles.

Maria saía muito. Gostava de festas, de badalação e fotos nos jornais. Cada noite estava com um rapaz diferente. Dizia-se uma mulher que gostava da noite e de homens bonitos, simpáticos e outros nem tanto. Com alguns até ficava por algum tempo, mas depois deixava-os para curtir mais noites e mais rapazes.

Eis que um dia João encontrou Maria. Embora muito diferentes, João simpatizou-se com Maria, que ficou empolgada, mas não muito. João se sentiu diferente quando a encontrou e passou a pensar nela boa parte do dia. Embora reservado, João buscava algo que nunca havia tido: um amor verdadeiro. Não contava para os amigos, mas sonhava em um dia ter uma pessoa ao seu lado, alguém que pudesse lhe dar conforto e carinho.

Tímido, João a chamou para sair. Saíram e conversaram bastante. Cada um falando de suas experiências, passaram boa parte da noite trocando as mais variadas impressões. João sentiu-se um pouco perdido porque Maria tinha certa vivência, mas às vezes mostrava-se um pouco fútil, ou pelo menos passava esta impressão. Dentro do carro, beijaram-se. Gastaram boa hora em beijos e carícias.

No dia seguinte, João acordou com um olhar diferente, mais brilhante e radiante. Passou o dia feliz, contando os minutos para o encontro marcado para mais tarde. Saíram novamente. Embora tivessem assunto para conversar, preferiram se beijar quase que o tempo todo. João se sentia muito bem. Para Maria, aquele momento era mais um em sua vida, afinal ela gostava muito de estar com rapazes diferentes e João era um deles. Ele estava curtindo cada minuto, cada segundo daquele momento. Ela curtia o momento, sim, mas no dia seguinte já havia esquecido e levava a sua vida.

João se apaixonou. Os momentos que viveu com Maria ficaram colados em sua lembrança. Lembrava-se de tudo, inclusive do que conversaram, das expressões de Maria, dos beijos e dos abraços. Maria estava começando a enjoar de João, mas não dizia nada a ele. Esperava que ele percebesse, preferindo deixa-lo desistir por conta própria. Mas João estava cada dia mais apaixonado e fazia planos para estar mais tempo com Maria.

Antes, saíam quase todos os dias. Agora, Maria está sem tempo e saem uma vez por semana, quando muito. João ligava, mandava flores e tratava Maria como uma deusa. Mas ela o ignorava. João, então, começou a perceber que algo estava errado e conversou com ela. Maria lhe disse que não queria mais vê-lo e que pretendia seguir seu ritmo normal.

João desabou. Passava noites acordado, chorando e pensando no porquê de seu sofrimento. Na sua cabeça, bastava que ele fosse um homem cordial, cavalheiro, apaixonado e leal para que Maria também se apaixonasse por ele. Porém, João se esqueceu de um detalhe: Maria não sabia valorizar as pessoas que gostavam dela de verdade. Acostumada a ser pretendida por muitos e amada por poucos, na cabeça de Maria o que valia era apenas “um” momento que lhe desse prazer, e não vários momentos que pudessem ser divididos com outra pessoa. Os sonhos de João eram bem diferentes dos sonhos de Maria.

Hoje, João deixou de ser aquele rapaz alegre. Não anda mais de cabeça erguida nem tem seus amigos como grandes companheiros. Ele aprendeu, a duras penas, que o amor dói e muitas vezes é injusto, desconstruindo os planos mais belos que se pode fazer. Para ele, seguir em frente agora é questão em aberto, porque ele não sabe como fazer para esquecer Maria. Depois de tudo, passou a sentir menor, como alguém que não serve para amar.

Havia a necessidade do sofrimento para que João sentisse que, às vezes, a vida nos ensina certas lições de maneira muito dolorosa. No sofrimento, João amargou dias de reclusão e escuridão, mas aprendeu que, no amor, dar e receber têm o mesmo significado.