Curupira e Fiona Louca e as suas discussões filosóficas

Curupira, antiga Pigmeu, andava deprimida, e inclusive a algum tempo atrás havia sido internada e foi levada até ao nosocômio pelo carroção público. No dia, houve inclusive reclamação por atraso da carroça, pois Curu se achava muito importante, mesmo não tendo nada que pudesse justificar a sua importância.

Por orientação de seu curandeiro, xamã, resolveu retomar a sua amizade com a ogra da localidade conhecida como Fiona a Louca, que morava nas proximidades da Fazendinha, e que era conhecida por ser uma gentinha da mais baixa qualidade.

Estava se tornando uma rotina, chegava o final da tarde, Curupira e Fiona Louca, após uma ligar para a outra, começavam as suas discussões filosóficas. A primeira que era uma semianalfabeta preferia sentar no chão enquanto que a segunda que era do mesmo nível sociocultural acompanhava o exemplo do espírito de porco da área.

O único assunto das duas malucas era o Urubu, morador da região, e somente mesmo a Fiona Louca para aturar os devaneios de Curupira, que contava sempre a mesma história, a mesma choradeira. O disco de Curu havia furado a muito tempo, e por causa disto muitos se afastaram de Curu, mesmo esta sendo moradora veia das redondezas.

Curupira costumava dizer, apenas para Inglês ver, que acreditava muito em Deus, mas era a primeira a esperar a encruzilha para ficar fazendo pedidinhos. Batia no peito, dizendo ser cristã mas gostava mesmo era de falar mal dos outros, e era adepta aos pecados capitais, aliás os costumava praticar com frequência.

Mas, não era só isso que Curupira fazia, esta também era dada a contar vantagem, de dizer que tinha um grupo perfeito a sua volta, quando na verdade esquecia de contar que havia se envolvido com um traste, que foi pressionado a deixar os seus conhecidos para cair na sua teia. Curupira já havia feito muitas maldades, mas a Divina Providência aos poucos estava lhe apresentando a fatura.

E assim as discussões iam tarde afora. Cada uma das individuas sentada na sarjeta, meio fio, contando as suas tristezas, as suas decepções, e ainda não se deve esquecer a vida do Urubu. Um universo bem limitado, pois não viajavam, em especial Curu, que somente sabia ir da Fazendinha para o Mato Dentro, onde a sua Ogra, mais feia do que a bruxa do filme João e Maria, frequentava seu programa vago de aprendizado.

Na real, o que Curupira gostava mesmo era de falar mal do Urubu, dizer que no grupo de Urubu tinha um patinho feio, mas Curu se esquecia de contar de sua ogra que tava perdida nas quebradas, que de donzela não tinha mais nada. Já era bem conhecida nas paradas.

Havia ainda o hipopótamo de Curupira que por pouco não chegou a ficar perto de ser um deficiente mental, mas a cara era de doido. Mas, aos olhos de Curupira tudo era bom. Afinal a coruja gaba o topo, mesmo sabendo de suas limitações.

Quanto a Fiona Louca que não falava na conversa, se limitando apenas a mexer a cabeça, e não podia ser diferente, pois a ogra da Fiona não conseguia nem mesmo falar direito de analfabeta que era, pois esta não falava, grunhava, e de Fiona também não podia sair nada de bom.

Mas, como a vida é a vida, as duas varridas da Fazendinha não perdiam a oportunidade de sentarem na sarjeta no final da tarde para as suas reflexões. Na verdade, as duas ogras estavam no local certo do qual nunca deveriam sair, a sarjeta, pois ali era o seu verdadeiro habitat.

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