NINGUÉM ENGANA A MORTE!!!

Este conto quem inventou eu não sei, mas quem me contou foi o meu avô.

Dizia o meu avô, que na época em que se amarrava cachorro com lingüiça, a morte vinha buscar as pessoas pessoalmente. É isso mesmo. Não mandava nenhum aviso; nada de doenças, nada de acidentes, nada que pudesse causar a morte; simplesmente a pessoa morria.

Mas, naquela época, também existiu o João Sabichão. – Êta cabra enganador. Enganava a todos com muita facilidade e sempre queria levar vantagens em tudo e sempre dizia que a morte tão cedo, não o levaria.

Pois bem. O tempo passou e não me pergunte como, mas João Sabichão descobriu que a morte andava à sua procura. Então, quando ela batia à sua porta, João perguntava:

– Quem é?

- É a morte. Respondia ela.

- Passe amanhã que hoje estou forte. Respondia João.

E assim, a morte sem entender nada ia embora, voltando no dia seguinte. E a história se repetia. Quando ela batia à sua porta, João vinha com o mesmo discurso. E novamente a morte ia embora.

Até que um dia, a morte se irritou com João e lhe disse:

- Amanhã lhe levarei de qualquer jeito. E foi embora resmungando.

João ficou apavorado, mas logo colocou a cabeça para funcionar. Olhou dentro do guarda-roupa e achou fácil demais. Em baixo da cama, em cima do telhado, em baixo da mesa, na casinha do cachorro, na estante e em todos os lugares. Até que olhou com muita calma para sala e encontrou um lugar que julgava difícil, secreto e caberia o corpo dele inteirinho. Isso mesmo, ele encontrou um baú de madeira, empoeirado, que ficava em um dos cantos de sua varanda.

João dormiu todo contente, rindo da vitória que teria sobre a morte. No dia seguinte, levantou-se cedo foi à barbearia e rapou o seu cabelo e voltou correndo para se esconder dentro do baú. E lá ficou tão quieto, mas tão quieto que ninguém conseguia ouvir a sua respiração.

Minutos depois chegou à morte. Bateu à porta, bateu, bateu e como ninguém respondeu, ela entrou sem ser convidada. Procurou João por todos os cantos. Em baixo da mesa, em cima e embaixo da cama, dentro do guarda-roupa, na casa da vizinha, na casa do cachorrinho, no chiqueiro dos porcos, no curral dos bois, etc. Procurou tanto, que ficou cansada, e achou que a melhor alternativa seria voltar para casa dele para descansar um pouco. Quem sabe, em algum momento, ele apareceria lá.

Contam que desta vez João não teve a mesma sorte das vezes anteriores. Não é que a morte achou de sentar-se justamente em cima do baú onde ele estava escondido. Ficou ali sentadinha, descansando por algum tempo. E João, coitado, não podia sair para comer, atender suas necessidades fisiológicas e muito menos respirar direito.

Depois de algum tempo de espera, para alívio dele, a morte decidiu ir embora. Meio pesarosa, ela murmurou por alguns segundos que tinha vindo para levá-lo e que era muito chato para ela ter de voltar de mãos abanando. Contudo, como ele não estava em casa naquele momento, ela não gostaria de perder a viagem. Então, ela iria levar aquele homem careca que estava dormindo dentro daquele baú velho. E foi assim que aconteceu. Nem o João Sabichão conseguiu enganar a morte.