Mesa de Botequim

O telefone toca enquanto prepara o arquivo para ser enviado para a apresentação, número sem identificação. Sabe que quando esse número aparece só pode ser cobrança ou trote de traficante em busca de cartão telefônico. Como já pagou a dívida que tinha e o nome já saiu do SPC e Serasa, ainda tem uma que pode entrar mas ainda está no prazo de 'carência', o trote de traficante ele já tem uma estratégia, então só pode ser: ..Hamilton, seu parceiro e o homem dos 7 celulares e que não consegue fazer nenhum deles tocar com identificação da chamada.

Edson atende. Do outro lado da linha aquele refrão conhecido: ' Fala rapaz, como tá tu?'.

- Você come? É bom?

- Hein? - Retruca Hamilton..

- Esquece! Fala aê, que que você manda?

- Tudo bem só liguei pra saber se você tá livre hoje à noite? Tá a fim de tomar uma cervejinha? Tenho um negócio ótimo pra te mostrar. É uma parada pra ganhar uma graninha boa!

- É pra abrir puteiro?

- Não

- Boca de fumo em condomínio classe média -média, média-alta?

-Pô, tô falando sério!

- Eu também! Pra ganhar dinheiro hoje em dia do jeito que você quer só assim ou se for político..é pra lançar candidatura?

- Não rapaz! Tô falando sério. Tá a fim de abrir um negócio não?

- Então é pra abrir financeira? - Acertei? Já viu o Setúbal reclamar do Taii? Nem eu! -Até a GE abriu financeira nessa terra! Tá todo mundo ferrado no especial... responde Edson em tom jocoso.

- Ihh, caralh...bom, tá a fim de falar sério ou não? -

- Ta bom, cara, diga-me, qual é a idéia?

- Pô, vamos começar pequeno, devagar, junta uma graninha pra crescer, legalizar, coisa e tal..

- a e ainda vai na informalidade?

- Po, todo mundo começa assim cara! Retruca Hamilton

-Sei, sei...

- Então, a gente conversa hoje, tenho que te contar ao vivo. Tá a fim de tomar aquela cervejinha ou não.

- Tá cara, que horas?

- Quando você sair. Lá pelas sete, oito da noite , tá tranquilo?

- Tudo bem então.

- Falou então.

-Abração.

Edson sai apressado do trabalho. Desce do edifício e resolve passar na galeria ali perto. No caminho encontra um menino saindo de uma loja de departamento apressado, correndo que nem um tri-atleta. Esse tá se preparando pro Rio 2007! Sacana como sempre, grita ' corre atleta'. O menino não dá bola. Continua correndo. Edson segue para o bar em que havia combinado e encontra Hamilton. Os dois começam a conversar.

-Fala Hamilton. Qual a sangria desatada dessa vez?

- Po rapaz, tava aqui pensando depois de encontrar com um amigo. Você ainda mexe com essas paradas de site ne?

- Mexo sim com essas 'paradas' de site sim.

- Então, não tá a fim de criar site não?

- Hmmm, pode ser, é por isso que você falou aquela parada de negócio próprio?

- É sim, então eu sei escrever..

- Ainda bem ne, senão coitada da sua professora - corta Edson em tom jocoso.

- Porra! Eu sou Jornalista, cacete! -

Edson ri - Eu sei, só tava te pilhando!

-Então - continua Hamilton - encontrei com um amigo de faculdade que entrou nessa e se deu bem. Então fiquei pensando se de repente não dá pra fazer uma coisa dessas. Começa tranqulo, com estrutura pequena, pouco gasto...

-Tá, entendi, mas quem vai ser o contato, captar cliente, essas coisas?

- Ah, isso eu faço, e a gente acerta o percentual..

Depois de algumas batidas de cabeça os dois finalmente acertam alguns pontos e quando estavam tranqüilos bebendo chega à mesa uma mulher sorriso aberto e senta sem ser convidada.

- Oi, vocês querem bala amendoim..

Edson responde automaticamente - não obrigado. - Hamilton, metido a repórter investigativo, puxa conversa.

- Mas que bala você tem ai?

-Ah, tem de tudo!

- Edson olha para o alto, em seguida para Hamilton e para a criatura e começa seu exercício de observação. Na realidade Edson via muito filme investigação e séries como CSI e tinha uma certa fixação nessas coisas - A mulher de 30, 35 anos, mas com cara de 40 a.. melhor nem adivinhar, segundo Edson com uma caixa na mão cheia de bugigangas, com uma pequena bolsa cruzada, com camisa colante rosa deixando 3 dos 5 pneus à mostra, com uma mini-saia que mostrava todo o excesso de estrias que aquela criatura já tinha.

Enquanto Hamilton puxava papo veio um garotão e parou para falar com a mulher.

- Fala aê tia!

Ela sorriu.

Algum tempo depois um homem que havia comprado umas cervejas saía do bar e voltou.

- Fala minha tia, como tá a força? - E beija a mão da mulher. Ela sorri novamente, e o homem vai embora. Algum tempo depois um grupo de homens passa e novamente fala com a mulher.

Edson aquela altura queria se mandar, e Hamilton estava curioso. Começa a puxar papo, falar sobre o pessoal e nada dela falar. Ele então resolve ser engraçado e pede

- O viagra natural Tem um amendoim aí?

-Ih, ta animadinho hein - retruca a mulher.

Hamilton ri e olha para Edson. Edson apenas resmunga - drogas tô fora!.

- Edson, pega mais um copo! A ..qual seu nome mesmo hein? - Pergunta a mulher

- Clara.

- A clara vai tomar uma cervejinha com a gente...

- Ih....qual é cara! - Responde Edson que pede pro Aderbal (como ele chamava todos os atendentes) um copo.

- Eu não bebo...diz a mulher - Ah, só um copinho vai, insiste Hamilton.

Clara faz um sorriso meio Mona Lisa, e os olhos brilham aquele brllho de mulher vivida, cheia de ódio e louca pra fazer maldade...- pensa Edson, que observa os dois animados demais..

Depois de algum tempo, copos e alguns petiscos, Clara vai ao banheiro depois de fazer muito doce e muito charme, e Edson aproveita pra enquadrar Hamilton.

- Cara, você tá com a cabeça aonde? O que é que você está pretendendo? A mulé é o capeta! Eu sou de família de militar, tenho formação militar, e portanto sou chegado num canhão, nunca escondi de ninguém, mas isso, é demais! Caraca maluco!!!

- Que isso, rapaz, uma coisa diferente nunca é demais! Afinal, o liberal aqui não é você? Vai que você nunca quis ter uma aventura assim, uma coisa difernte?

-Pô, coisa diferente é uma coisa, agora sexo animal é outra história. Além do mais, você acha que ela vai voltar, é ruim hein! Já 'carcou' o pé!

-Ah é, olha ali..

Quando Edson vira Clara estava atrás dele, com sorriso largo, olhos brilhando e a famigerada caixa na mão...Edson abaixa a cabeça e suspira. Hamilton bate na cadeira indicando para que

Clara sentasse. Ela senta e Hamilton puxa a cadeira pra perto dela, passa o braço pelo encosto da cadeira e começa a falar com Clara, enquanto Edson sentia aquele calafrio do fio de cabelo até o dedo do pé. Clara pára de sorrir e olha sério para Hamilton. Edson apenas vê, e solta um sorriso amarelo, sem saber por que.. Hamilton meneia acabeça e olha para Clara, que fala alguma coisa mais alto que Edson prefere não ouvir. Hamilton aponto para Edson, e Clara olha para ele. Agora o olhar sério dela está menos sério. Edson gela ainda mais.

Hamilton chama Edson para o centro da mesa e fala com e,e.

- Cara, seguinte. Cantei a pedra pra ela e ela tá a fim.

- Que pedra?! Agora eu sei que você está maluco.

. Seguinte. A mulher tá com o sorriso franco e dedo no grelo pra dar um pulinho ali e fazer uma paradinha a três..

- Hmn, você ela e mais quem cara-pálida??

- Você.

- Po, pergunta se a outra parte tem interesse também.

- Ué, vai fugir agora?

- Po! Eu nunca quis! Olha esse treco! Qualé, me achei no lixo não.

- Qualé cara, a gente filma, joga na internet, aquele teu celular bom ta aí?

- Tá, quer emprestado? Bom proveit!

- Qualé, tu vai junto?

- Vou pro inferno, mas não vou lá! Retruca Edson.

- Qualé nada! Isso é pior que baranga! Só ex-prisioneiro há 15 anos sem pegar uma mulher dá uns trancos nisso aí. Qualé!

- Po, cara tu tem que beber mais. Dá uns goles aí, vira umas garrafas a mais e tá limpo.

- Limpo uma pinóia, e depois quem vai lembrar disso? E minha consciência?

- Po, Napoleão só falava das vitórias...

- Problema dele! Isso é derrota pra uma vida!

- Qualé, a mulher tá cheia de fogo!

- Fogo nada! Ela tá é querendo levar uma grana...rampeira braba! Se é assim então prefiro ir pra Centauros!

- Pra onde..?

- Esquece vai!

- Até na VM tem coisa melhor que essa bucha ai!

- A qualé, vai ser baratinho...tu vai se divertir bastante..

- Toma, o cartão ta aqui, o celular, o dinheiro também. Divirta-se. Eu não vou..não me achei no lixo e tenho uma reputação a zelar...

- Que reputação?

- Ah, tenho ética!

- Hm, e aquela gaúcha que você namorou??

- Eu não namorei, peguei.

- Gordinha pacas..

- Era durinha e bonitinha! Ela não era gorda. Era cheinha.. e tinha um equilíbrio entre as partes e o todo! E tinha os olhos lindos!

- Aham...sei..filho dos outros é boiola, quando é na família é homossexual...legal!

- E ...

- Cara, não adianta!

Depois de tanta conversa e debate quando Hamilton se vira, Clara não estava mais na mesa. Havia ido embora. Olha para um lado, para o outro, e nada. Ele volta para Edson, e olhar furioso.

- Hm, cara feia é fome. E não adianta ,se olhar matasse você teria que pegar a senha pra me fuzilar. Tem gente na sua frente.

Edson pede a conta, paga e ambos vão.

- Cara, fica frio. Aquilo ali era derrota...

- Você mesmo diz que a gente tem que ter história pra contar e não faz! Pratique o que você prega!

- Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...já ouviu falar em critério de seleção.

- Não vem com essa não vacilão. Tu mijou fora do penico feio!

Edson ri apenas e continua caminhando.

- Hamilton sai de seu mau-humor temporário..

- Eu não comi carne de tatu...