Monólogo de um escritor frustrado

Cansei de escrever a tristeza alheia. As lágrimas, o luto e a falta de esperança já não me despertam interesse. Tantos personagens, tantos dramas e tragédias, tantos prêmios, por nenhuma alegria verdadeira. Mérito e honra pelo sofrimento das criaturas.

Sento à mesa; sob a luz fraca, tento escrever algo diferente. Não consigo, não é o que sinto. Em meu peito o lamento, além da dor incalculável por não ter nada bom para relatar, nem mesmo na ficção, não é possível!

Minhas idéias? Estas quando brotam em minha mente passam como eflúvios do além que se dissipam no ar. As palavras estão em constante movimento no meu cérebro, misturadas com pensamentos incessantes que aguardam a ocasião de cair em letras grafadas no meu papel.

Talvez esta minha perturbação seja conseqüência da invalidez de minha profissão, substituída pela valorização do supérfluo em nosso mundo de ilusões fúteis e assuntos superficiais. È. Acho que não faz sentido escrever; as letras irão desbotar em papéis amarelados pelo tempo.

Acendo um cigarro. A fumaça paira no ar junto com minha imaginação estéril. Meu pulmão está repleto de nicotina e minhas células paralisadas deixam minha respiração ofegante; as diversas substâncias tóxicas tomam conta de meu corpo e eu não consigo deixar o vicio que me consome aos poucos. Meus neurônios vão ficando inertes e não há nada pior – para alguém que vive pelo prazer da literatura – do que a perda dos planos e das idéias, agora efêmeras como as nuvens de fumaça suspensas em minha cabeça.

Olho a paisagem, busco inspiração em minha janela, a chuva cai levemente na calçada ... “a chuva cai levemente na calçada” ... eis aí um bom começo ... “No céu plúmbeo, as nuvens flutuam”........................ “Entre as folhas enegrecidas das árvores, vozes macabras completam passos pretos no asfalto”. Não! É mais forte do que eu! Não consigo sequer descrever a beleza de uma paisagem, sempre a transformo em lugares de temor e terror.

Temor........ Terror................Quem sabe um poema concreto?

Morte Morto Resto

Mur Mú Rio

enfiM

seM

maR!

Jucarvalho
Enviado por Jucarvalho em 08/04/2007
Código do texto: T442289