Em Tempo

Já não temos tempo para pensar antes de falar, antes de atirar, antes de perceber que estamos errados. Pensamos que não temos tempo para ver, para apreciar, para abstrair. Não temos tempo para ter tempo, para sentir o prazer de não fazer nada, nem que seja só por alguns minutos. Tempo se tornou precioso, raro, um remédio para diversos males, da mente e do coração, do corpo e da alma. Não ter tempo mata mais rápido, encurta o já curto tempo que temos. Sem tempo, os amores são passageiros, os Sois e as Luas de cada dia vêm e vão sem serem lembrados; enquanto as estrelas passeiam pelo céu brilhando sem rumo seu brilho quase eterno, mas finito. E só no fim do nosso tempo é que percebemos o tempo que desperdiçamos, tornando-nos um pouco mais infelizes a cada dia de trabalho repetitivo, um pouco menos sensíveis às dores dos outros. Desistimos dos nossos sonhos com uma facilidade imperceptível, ficando reféns de circunstâncias criadas por nós mesmos. Fingimos que tempo é dinheiro, e nos escravizamos a ele. Não existe, porém, dinheiro que compre um tempo perdido, uma chance desperdiçada, uma palavra não dita a uma pessoa amada. O tempo é único e infinito, embora exista apenas por um instante; um instante que nunca mais poderá ser vivido.