O vaso Chinês

O VASO CHINÊS

Berná Fiuza

Desde a mais tenra idade, Catarina sonhava com aquele vaso chinês, sempre que passava na vitrine da loja de souvenir ficava lhe admirando e suspirando fundo.

Um dia ele seria dela.

Os anos passaram-se... Catarina tornou-se uma bela moça, casara-se tivera filhos, mas ainda não conseguira possuir o tal vazo que parecia a sua espera estagnado na vitrine. O desejo de tê-lo ia ficando mais distante. Envolta com os filhos, os afazeres do lar, marido, as despesas mensais e os imprevistos, acabou fazendo-lhe esquecer.

Os filhos cresceram, casaram-se e vieram os netos... Quando Catarina completou setenta anos, Letícia, sua neta mais velha, resolveu presenteá-la com o tal vaso chinês. Sua comoção fora intensa, finalmente o teve em suas mãos. Segurava-lhe com cuidado observando suas formas, suas cores, seus desenhos. Ficou cuidadosa e ciumenta do objeto, não queria ninguém lhe pondo as mãos. Decidiu colocá-lo sobre um console no início da escada, assim ficaria bem visível e distante de ser alcançado, além do que daria um toque especial ao canto. Não se cansava de admirá-lo as vezes que subia e descia a escada.

A família de Catarina tem por hábito reunirem-se em sua casa todos os domingos. Foi num desses domingos que aconteceu o inesperado: Aninha a neta caçula de sete anos, descia a escada correndo, quando tropeçou no próprio pé perdeu o equilíbrio e rolou escada abaixo, na queda bateu no console dando um profundo corte na cabeça, levando ao chão o vaso chinês que se partiu em dezenas de pedaços. O tumulto foi grande, todos queriam socorrer a criança que chorava coberta de sangue; foi levado ás pressa ao hospital e todos foram juntos.

A casa ficou vazia, somente os cacos do vaso chinês espalhados pelo chão indicavam que houvera presença ali; ninguém se lembrou de catá-los, nem mesmo Catarina.

Aninha teve algumas escoriações leves e doze pontos na cabeça. Após exames, e uma noite em observação foi constado que tudo estava bem, recebeu alta. Tudo voltara à normalidade. Quando Catarina abriu a porta de sua casa, á manhã já ia alta, se deu conta do vaso chinês... Por um momento olhou os cacos coloridos espalhados ao chão, seu coração apertou e seus olhos marejaram rolando lágrimas pelas faces. Apanhou-os com cuidado um por um, deu um suspiro profundo e, pois o lugar em ordem. Tocou sua vida naturalmente.

Passado uma semana do acontecimento, a família reuniu-se novamente. Letícia aproveitou um momento às sós com avó lamentando sua perda. – Perda! Que perda que eu tive minha filha? – Vó seu querido vaso! Não sei se poderei lhe dá outro.

– Quem lhe disse que eu quero outro? – Vó, sempre foi seu desejo desde criança!

- Sim, mas ele foi realizado. Quantos desejos e sonhos morrem conosco sem serem realizados. O meu foi! Eu o tive em minhas mãos, enfeitou minha casa e durou o tempo que teve para durar. O que é relevante minha neta não é aprisionar o sonho depois de realizado e sim o deixar fluir para outros corações que também sonham o mesmo sonho. O que lhe importa mais o bem-estar de sua irmã ou o meu vaso chinês? – Ora vó, os dois! – Filha, nem sempre temos opções de escolhas. – Neste caso vovó, a saúde da Aninha é claro! Vó como você é sábia! - Filha são os anos de vivência que nos ensinam que nem sempre o que desejamos é o que realmente precisamos e devemos ter.

Berná Fiuza
Enviado por Berná Fiuza em 25/08/2013
Código do texto: T4451280
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