Noutro Porto!

O garoto parecia entediado, e não era de se estranhar, pois, tudo o que tinha era sua escrivaninha, telas, e pinceis. Pintava o céu de roxo desbotado com nuvens vermelhas, e o mar cobria de negro. Acima dele pôs um arco-íris de três cores, branca, Bege e marrom.

Suas lágrimas enchiam o vazio daquele mar e então seus contornos tornavam-se peixes. Piranhas devoradoras de sonhos, à espreita, camufladas em negro oceano para matar o mais pífio sinal de esperança que surgisse. Não entendo o porquê, mas, teve a ideia absurda de navegar em meio ao perigo e puxou algumas linhas e criou um barquinho de papel. Talvez não fosse um grande artista plástico, e testando suas habilidades se perdeu. O mar que ele criara continha uma forte força gravitacional ou quem sabe fantasmas, demônios, ocultos desejavam explodir seus pulmões e leva-lo para um limbo ainda maior.

As piranhas se aproveitaram de sua fragilidade e vieram tratar de retalhar ainda mais sua carcaça. Era só o que lhes restava, pois, a alma do garoto havia sido pescada por um artista certamente mais talentoso e com vasta experiência de vida. Ao abrir os olhos, não vira escrivaninha, telas nem pinceis. O outro pescador havia jogado fora tudo que lembrava ao fraco garoto entediado de viver. O outro pescador, também havia retocado sua própria carcaça. O céu não era mais desbotado nem tampouco o mar era negro. Depois que entendeu, partiu, foi aportar noutra vida, qual soubesse compreender.

E enquanto a caravela sumia na imensidão, ouvi algumas palavras ecoando no infinito, era o garoto que gritava:_ Nunca mais limbo... Nunca mais limbo... Nunca mais limbo!

Héryton Machado Barbosa
Enviado por Héryton Machado Barbosa em 29/08/2013
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