Mini-conto: Mistério
Ela é uma amiga recém reencontrada.Fomos colegas durante os três anos do antigo curso normal( 1965-1967).
Anos depois ela abriu uma livraria e eu me tornei sua cliente assídua.Me casei,me mudei,me descasei e voltei pra
cidade que me criou.A livraria agora é do filho e continuo cliente...Assim nos reencontramos e agora ela faz
parte do círculo de mulheres e da roda de leitura,dos quais faço parte também.Há menos de um mês,foi surpreendida
por um diagnóstico: câncer num dos seios.Ela fez transplante de rim anos atrás.Exames de rotina para a cirurgia
detectaram entupimento de veia e lá foi ela pro cateterismo.Um dia depois,outra anestesia geral.Acendemos velas
e rezamos por ela.Uma semana depois fui visitá-la em casa e fiquei rindo à toa: ela se recuperava muito bem.
Me emocionei quando ela voltou as nossas reuniões e quando a vi cantar no seu grupo de seresta.Isso tudo para
chegar onde quero : relatar o que aconteceu quando foi tirar o dreno,dias após a cirurgia.Sua norinha foi com ela,
entraram juntas,ela sentou-se e disse ao médico: espere um pouco.Tirou um papel da bolsa.Pronto,pode começar.
E enquanto ele puxava o dreno,ela e a norinha cantaram uma canção linda,composta por um artista local.(Quando
ela me repassar a letra,compartilho com vocês.).O médico chorou: nunca acontecera com ele: a paciente
cantando enquanto um procedimento doloroso era feito.E nós,suas amigas,ao ouvi-la contar e depois cantar,
choramos também.Para mim continua a ser um mistério: de onde vem essa força? A maioria se deprime e desiste.
Mulher forte e guerreira, eu te admiro e respeito.E agradeço por fazer parte de sua vida.
Maria Neusa em setembro de 2013