Noite de Chuva

Está anoitecendo, o céu nublado deixa tudo um pouco mais escuro. Não se ouvem vozes, nem há pessoas perambulando pelas ruas.

Escuto quando a primeira gota de chuva cai e se desmancha ao chocar-se com uma folha. O galho estava frágil, quebra e cai.

Eu apenas observo.

O silêncio desaparece em um instante, o barulho repentino de gotas se quebrando no solo, todas de uma vez, predomina sobre qualquer outro som que a noite pudesse libertar.

E eu apenas observo.

A monotonia de uma mesma sinfonia de ruidos é quebrada quando o grito agudo e desesperado de um miudo pardal se faz ouvir. Ele está apavorado, perdido, e agora por culpa de uma ferimento irreparável, moribundo.

Tomba no chão de uma maneira tristemente brusca. Seus quase impercebíveis olhos demonstram uma dor que parece ser maior do que uma alma tão pequena seria capaz de suportar.

Sinto pena por ele, mas apenas observo.

Seus gritos vão perdendo a força, mas mesmo assim não abandonam aquela melodia dolorida. A chuva, com sua completa ausência de sentimento acelera a morte certa daquela criatura tão pura.

Eu, observo e penso.

Um animal, deixa de existir, e quando parte, não carrega a culpa de uma vida mundana, nem as marcas de um passado cheio de erros. Ele nem sequer sabe o que é sentir culpa, e nem sequer imagina que quando morrer não deixara saudades. Mas mesmo assim ele luta, mesmo assim sinto o quanto ele deseja sobreviver.

Batalha perdida, um último gemido, um último suspiro. Morre uma criatura, cuja existencia foi totalmente ignorada.

Chorar por ele seria como fazer de um grão de areia, algo insubistituivel. Ele nem sequer sabia o verdadeiro significado da palavra vida, e agora que nem isso ele possue, porque se importar?

Fecho a janela, ligo a televisão. E esqueço completamente que um dia eu vi um pardal morrer.

M.M.

13/04/07

AnaAlice
Enviado por AnaAlice em 13/04/2007
Reeditado em 24/06/2009
Código do texto: T448679