Miramores

Miramores conversava com suas amigas quando ele chegou. Safábio tinha fama de namorador. Era um jovem rico e bonito, a quem todas as meninas morriam de amores. Miramores, sua prima, era uma delas. Vivia de suspiros por ele.

Safábio chegou na rodinha das meninas, puxou Miramores de lado e lhe deu um ardente beijo na boca a pedindo em namoro logo a seguir. Começou assim uma forte paixão entre os dois que namoravam, separavam, namoravam de novo e se separavam de novo. Essa era a rotina dos apaixonados adolescentes de doze anos.

Safábio, enquanto namorava Miramores, namorava também a Rosinha, a Anita, a Fernanda... Todas se cansaram do ciclo amoroso do garanhão, exceto a besta de Miramores que continuou a perdoá-lo das chifradas que levava. Até que um dia o destino separou os pombinhos. Ambas as famílias dos jovens se mudaram, e para locais bem afastados um do outro. Miramores aos poucos foi perdendo contato com seu amado e precisou esquecê-lo para poder viver feliz. Safábio a esqueceu depressa, mas Miramores teimava em acender a paixão.

Com o tempo, Miramores voltou a gostar de alguém. Era uma pessoa bem mais velha, tinha o dobro de sua idade. Seu novo amado se chamava Josimar. Josimar era rude, grosso e estúpido, mas a apaixonada e iludida Miramores o amava mesmo assim.

Miramores casou-se com Josimar aos dezesseis anos, e aos dezoito anos teve sua primeira e única filha: Miradores.

Mas como acontece com todos que tomam decisões precipitadas, o que era sonho se tornou pesadelo. Miramores sofria com o mau humor e a raiva de seu marido e descobriu que não o amava. Descobriu que Josimar não gostava de sua família, de seus gostos e de suas crenças. Após sete anos casados veio a separação. Josimar não se conformava em perder a esposa e principalmente a filha. Jurou matar Miramores que ficou com a guarda da criança.

Miramores, porém, descobriu em um policial a sua proteção. Depois de muitos anos separados pelo destino, Miramores, nas voltas do mundo, reencontrou seu amado primo Safábio, agora de farda. Seu antigo amor adolescente reacendeu e ela passou a viver um dia melhor que o outro.

Mas seu mundo caiu. Safábio, mesmo depois de tanto tempo, continuava o mesmo safado de sempre e trocou Miramores por uma coroa rica. Miramores ficou arrasada. Em um único ano perdeu as duas pessoas que realmente amou: Josimar e Safábio. Por perder Josimar ela nem se importava, afinal ela quem não o quis mais. Mas Safábio não saia de sua cabeça, ela precisava esquecê-lo e sua salvação veio nas palavras de um amigo de trabalho: Josibem

Josibem era um rapaz convicto em suas palavras. Dava conselhos como ninguém e tirou Miramores do buraco. Josibem era o amigo dos amigos, aquele que não da as costas nas dificuldades.

Em seu emprego, Miramores também conheceu Rex. Um rapaz ótimo e de boa família. Rex vivia babando por Miramores. Era pontual nos encontros e fazia tudo o que ela pedia. Realizava todos os seus desejos de consumo. Rex se apaixonou por Miramores que só queria sua amizade, então Rex andava triste nos cantos a chorar pelo amor que Miramores não correspondia.

Miramores começou a se sentir sozinha e mal-amada, mas o destino colocou um novo personagem em sua vida: Barnabé.

Foi através da computação que ele conheceu Miramores. Com o computador quebrado, Miramores chamou um técnico para concertá-lo, eis que surge Barnabé: um jovem moço caipira no linguajar e no vestir, e Miramores apaixonou-se outra vez. Não era como sua enorme paixão por Safábio, mas era alguma coisa. Miramores, então, ficou uma semana com Barnabé, ficou mais uma semana com Barnabé, ficou mais outra semana com

Barnabé e refletiu sobre seus amores:

Safábio foi a única pessoa que ela realmente havia amado, no entanto não foi correspondida.

Josimar só pensava em suas vontades, não dava o braço a torcer mesmo quando errado. Quando bebia se tornava agressivo e o sentimento de Miramores por ele não passou de ilusão.

Josibem pensava em todos. Dava conselhos precisos e idéias confortantes. Porém, eram só amigos.

Rex era o tipo de cara que iria até a lua pela mulher amada, e se não fosse correspondido iria quantas vezes mais fossem necessárias. Miramores só queria sua amizade, mas sabia que o amor de Rex lhe traria maravilhas na vida. Sabia que ele era capaz de fazer tudo por ela.

Barnabé era esquisito. Hora era acanhado, hora extrovertido. Hora era assanhado, hora era tímido.

Bateu uma duvida em Miramores: Rex ou Barnabé? Ela escolheu Dudu. Rex ficou deprimido e Barnabé teve que ficar noivo de uma caipira que ele havia engravidado.

Dudu era um cara sinistro. Um belo rapaz, porém muito esquisito. Miramores viu nele a possibilidade de um grande amor. Porém, seu mundo caiu novamente.

No dia de finados, Miramores e Dudu andavam pelo cemitério quando deram de cara com uma cova aberta. Dudu olhou para a morta e exclamou:

- Nossa! que defunta gostosa! Estou apaixonado pela morta!

Miramores se desesperou, ergueu os braços e correu como louca. Quem diria! Seu novo amor é necrófilo.

Ao atravessar a rua, Miramores se esqueceu de olhar para os dois lados e um ônibus a pegou em cheio. Ela morreu na hora. No velório se reuniram, além dos familiares e amigos, todos os seus amores.

Miradores desesperada chorava:

- Minha mãe morreu, e agora? Com quem eu vou morar?

Safábio chorando disse:

- Eu a amava e não sabia! Por que a magoei?

Josimar sorrindo disse:

- Agora eu não preciso matá-la e posso criar Miradores do meu jeito.

Josibem em desespero gritou:

- Porque logo minha melhor amiga?

Rex não foi ao enterro, pois preferiu se matar para ficar ao lado da amada.

Barnabé também não foi. Estava em lua de mel, casara-se um dia antes da morte de Miramores.

Dudu chegou atrasado e com um sorriso no rosto disse em alto e bom som:

- Ninguém toque nessa difunta. Eu vou me casar com ela.

Dito e feito! Dudu mandou empalhar Miramores e se casaram no dia seguinte. Dudu viveu feliz para sempre e Miramores, depois de morta, encontrou quem realmente a amava: em corpo Dudu e em alma o coitado do Rex.

E você! Escolheria qual dos amores de Miramores?

ICC Junior
Enviado por ICC Junior em 24/08/2005
Reeditado em 24/08/2005
Código do texto: T44884