O RATO

Ao abrir a porta, lá estava o rato. O animal asqueroso e arisco correu para debaixo do sofá. Duas alternativas: fingir não tê-lo visto, ou, perseguí-lo até o fim do mundo para exterminá-lo - livrar a Humanidade de sua maligna presença!

Uma das opções era mais cômoda, afinal éramos só nós dois - eu e o rato - ali, um canto desconhecido no planeta, longe de tudo e de todos...

Eu estava cansado, necessitado de usar o vaso, aliviar a bexiga, tomar um bom banho, relaxar...

Os ratos têm fama de hábeis fugitivos e a sua captura, com certeza, tomaria tempo, muito tempo! Tive, então, uma idéia. Fui até à geladeira, peguei um pedaço de queijo e o coloquei do lado de fora da casa, deixando a porta aberta.

No dia seguinte, após um dia massacrante,retornando à casa, ao colocar a chave na fechadura, ouvi uns guinchos. Eram os guinchos baixinhos e festivos do meu amigo camundongo, de quem já havia me esquecido. Poderia, agora, pisar-lhe a cabeça, mas não o fiz. Abri a porta e entrei. Ele poderia ter entrado comigo, pelo meu descuido, mas não, ficou ali, junto à vasilha que eu não recolhera. Olhei para o ratinho e tive a impressão que ele abanava o rabinho e que seus olhos brilhavam inocentes. O que eu fiz, então?

Ali estava uma criatura indefesa, confiante e ingênua - pronta para ser abatida, como freqüentemente acontece nas relações humanas...

Ainda tinha queijo na geladeira e, junto à outra vasilha, coloquei uma com água.

Hoje, antes de chegar em casa, passarei no mercadinho da esquina, pois estou sabendo que lá tem “queijins” de Minas.

Será que o bichinho vai gostar?