Não sou Fernando!

Antes de sair do prédio, coloquei a bateria e liguei o celular, que tocou imediatamente, dois toques, e desligou. Número desconhecido. Parecia que alguém me olhava de algum lugar. Atravessei a rua e entrei numa praça gigantesca, onde fiquei fumando um cigarro e olhando para os lados com receio dos trombadinhas. Alguns ficavam nas esquinas como felinos esperando o momento do bote. Saí logo dali e fiquei esperando o taxi na calçada, próximo ao meio fio. Um carro veio e se aproximou, com uma senhora que nunca vi na vida me chamando: “Fernando! Fernando!”, e gesticulando para o meu lado, “ô Fernando! Fernando! Olhei pra trás e não vi ninguém. Apontei o dedo pra mim mesmo e gesticulei com a cabeça como quem indaga: você está falando comigo? E a senhora loura e gorda, voz rouca e aparentemente nervosa, confirmou: “É, Fernando! É claro que é com você! Anda logo!

Não me chamo Fernando, respondi.

Ela mesmo assim insistia: “larga de ser besta, Fernando, antes que eu chame seu pai e o pessoal do ‘ambulatório’, aí você vai ver!”.

Logo em seguida um gol branco com rodas pretas, gol dos antigos, passou por nós sem condutor. Achei estranho aquilo. Seria pegadinha? Estaria sonhando? Olhei do outro lado da avenida e um cara estava recostado na parede, óculos escuro, segurando uma pasta e fumando. Olhava para os lados, mas bem que podia estar me vigiando. Mas porque alguém se preocuparia em me vigiar? Não sou ninguém e nunca atentei contra o que quer que seja. Sou um pacifista, um solitário, para não dizer quase que um otário, que leva calote e deixa pra lá.

A mulher estacionou o carro e vinha em minha direção. O taxi demorara... Fui andando na direção contrária, olhando pra trás... A Mulher quase que se esgoelava: Fernando! Fernando, seu desgraçado! Quebrei a esquina e adentrei no Z Carniceria, onde fui logo para o banheiro. Saí, pedi uma cerveja e agora estou escrevendo esses... Fernando!

21.9.13.