APENAS UM MENINO

Ele era apenas um menino, vivia apaixonado.

Não resistia a nenhum sorriso, até os olhares deixavam ele bobo.

Enfim, tolice seria se ele ignorasse tamanha maravilha, como são as mulheres.

Ele saia pelas ruas de sua cidade, se encantando com as belezas diversas que via, era morena, loira, alta, baixa, gordinha, magrinha, e o menino ficava paralisado, escrevendo poesias para cada uma delas.

Todas com seus erros e defeitos, como também, todas com seu olhar de perfeição, afinal, mulher é mulher, querendo ou não, sempre acaba conquistando um coração.

Em seu caderno de sonhos e palavras infinitas, ele ficava lá, sentado, sorrindo a cada frase feita, feliz, feliz e feliz.

Era tão jovem, cuidadoso com o que dizia, cuidadoso com o que sentia, mas em toda madrugada, quando empunhava seu lápis e seu caderno, nada o parava.

Um belo dia, seu coração inocente não se aguentou, logo se apaixonou no primeiro instante que viu aquela menina caminhando, em uma ruazinha próximo a sua casa. Os olhos dele brilhavam, seu peito quase explodindo, as mãos dele suavam, ele precisava colocar a emoção, a sensação, a paixão, no papel.

Ele ficou horas delirando com o que saia de sua alma e ia parar naquelas linhas, era como se as palavras levasse um pouco do seu sorriso bobo para as folhas, cada frase se tornava um pedaço dele mesmo, e pouco a pouco ele colocou praticamente, toda a alma naqueles versos.

Ele não acreditava no que tinha feito, no que tinha criado, ele pensava que tão novo, tão moleque, não teria capacidade pra fazer o que tinha feito, mas o amor provou ao contrário, provou que tudo é capaz, e ele pegava aquele texto, aqueles versos, aquela poesia e mostrava para sua família, mostrava para os professores na escola, ele estava tão orgulhoso com o que tinha feito.

Ele estava se tornando um poeta de verdade, ele estava viciado, espremia o coração, torcia e retorcia a alma, até sair uma poesia nova, até que ele pensou:

“Se aquela menina, de longe, passeando na rua, me inspirou, o que será que eu não sou capaz de fazer se eu conseguir conquista-la?”

Ah, mas ele não sonhava alto, ele costumava chegar nas alturas pra sonhar, e como um jovem garoto que era, pegou aquela folha e não pensou duas vezes em ir até aquela menina, entregar o que de fato, ela havia ajudado ele a criar.

Felicidade não descrevia o que se passava no coração daquele menino, ele estava tão determinado a impressionar aquela menina com o que ele fez, que não percebeu o quanto ela era esnobe.

Simplesmente, ela achou que talvez ele fosse como os outros meninos, que só querem se aproveitar, mas ela achou errado, ela nem se quer deu uma chance pra descobrir o quão magnifico aquele menino era.

Tola, por se achar esperta, perdeu um menino esperto, rasgou a folha com aquela poesia que ela havia pensando que nem foi ele que escreveu.

Sem perceber, ela rasgou toda a credibilidade que ele tinha no que fazia, ele se sentiu inútil, ele não se imaginava sem a poesia, e em questão de segundos, o que ele levou horas pra fazer, pra ajeitar e aperfeiçoar, só para agradar uma garota, foi por água a baixo.

Não acreditou no que viu, voltou para casa cabisbaixo, se trancou no seu quarto e se pôs a chorar.

Não queria mais escrever, ficou com medo de se dedicar por horas, por simples versos, e perder seu trabalho em poucos segundos.

Aguentou tantos insultos, tantas coisas por ser daquele jeito, gostar de escrever, mesmo que fosse um pouco “meloso”, ele só queria ser um daqueles caras românticos que ele assistia na tv, ele só achou que de algum modo, com suas palavras, poderia mudar o mundo, ou simplesmente fazer uma menina se sentir especial, ou pelo menos, alegre.

Mas então, foi quando ele percebeu, que mesmo com todo aquele rancor e raiva, ele viu que é assim que se fazia uma poesia de verdade, após juntar toda a alegria em uma folha de papel e ela se tornar uma mera lembrança em sua alma, ele viu que o sofrimento, era o maior combustível para o que ele mais gostava de fazer.

Afinal, mesmo com todo aquele esforço, com toda aquela inspiração, felicidade, e sede de escrever, ele viu que não havia nada melhor, do que chegar nas nuvens, ter um momento inesquecível ao atingir o esperado, e cair de cara no chão, podendo contar somente com o seu lápis de tabuada e o seu caderno velho, mas mesmo assim, se levantar, e olhar para aquelas linhas novamente, e dizer:

“Pois é, eu vou alcançar as nuvens de novo..."

Vinicius Afonso
Enviado por Vinicius Afonso em 29/10/2013
Reeditado em 30/10/2013
Código do texto: T4546477
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