UM CASO DE MORTE
Silêncio total.
A escuridão, além de sufocar a respiração do coronel, causa-lhe extremo pavor. Ele não ousa se mexer. Vem-lhe à mente o terror de ser enterrado vivo. Não se mexe para não constatar o fato.
O tempo está passando e ele ali remoendo seus pensamentos. Quanta coisa fizera de ruim! Relembra as torturas e as mortes de seus desafetos – e para ser seu desafeto bastava-lhe um pequeno desagrado.
O ar está rareando, e vem-lhe a agonia. Poderia tentar sair dali. Até agora não se mexera - a incerteza do fato lhe confortava. Mas agora a situação estava piorando. O corpo doía e o suor empapava-lhe as vestes.
Sentiu vontade de gritar, pedir socorro. Um coronel gritando e pedindo socorro... Era só o que faltava! Havia de se conter, afinal... Mas afinal o quê? Ele queria morrer de verdade?
Mas... gritar como uma mulherzinha? Ah, não! Jamais!
E o tempo passando...
Coronel Gumercindo mexe o “mindinho” da mão direita que sobre o peito descansava no rito fúnebre. Um frio percorre a sua espinha. Há um espaço vazio, pois caixão de coronel tem que ser espaçoso. Insidioso, o terror vai tomando conta do valentão. O grito de socorro está por sair, mesmo que em vão...
- Vovô, a vovó tá chamando pra jantar!