Máquina

Victor chegou ao escritório mais cedo que de costume e trancou a porta da sua sala para evitar os olhares. Só queria esquecer de tudo e mergulhar no trabalho, mas o computador se recusava a funcionar. Na tela preta, além do seu reflexo deformado, viu a imagem que o assombrava há dois dias: o rosto sorridente do seu último adversário. Sua primeira derrota. Começou a lutar para se desligar do trabalho, e agora tentava trabalhar para se desligar da luta. Mais do que o seu corpo, doía-lhe o orgulho ferido e a humilhação, o riso sarcástico do filho da puta enquanto apanhava, como se sentisse cócegas. A ousadia funcionou: Victor se distraiu, levou uma sequência de socos e foi imobilizado. A única coisa que o fazia feliz acabou pelo riso de outra pessoa. Sentindo inveja do computador, lembrou que nós, humanos, também podemos ser desligados. As peças e circuitos de Victor foram encontradas na Avenida Paulista às 8:13 de uma segunda-feira.

Virgínia Vizine
Enviado por Virgínia Vizine em 12/11/2013
Reeditado em 12/11/2013
Código do texto: T4567890
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