O AMOR ACABOU, E COMO FICA?

- Meu amor te quero para sempre, ela disse. Ele olhou para ela, nada disse, ficou maturando as palavras dela, repetidas inúmeras vezes. O amor esse, há muito havia enterrado, nem lembrava mais onde ficara a sepultura.

Aquelas juras de amor o irritava em demasia. Ela sabia que ele não amava mais. Mas ela insistia em não ver, queria se fingir de boba, era mais cômodo para ela. Ele refletia porque as pessoas assim como ela não tinham o mínimo de dignidade, amor próprio?

-Você me ama, não me ama Artur?

- Você sabe muito bem que o nosso tempo passou.

- Não acredito que um grande pode morrer assim.

Artur já ouvira esta frase numa letra melódica.

Seguiu em direção a porta, não aguentava mais aquelas mesmas suplicas de amor bolorento.

A tarde estava nublada, era um domingo como qualquer outro, em que as pessoas aproveitam e vão para o estádio de futebol. Pessoas em seus carros , outras andando, todas com o mesmo objetivo, assistirem ao jogo entre Bahia e Portuguesa, jogo esse que valia a luta contra o rebaixamento. O time da casa fez até promoção para atrair mais torcedores, aqueles que na maioria das vezes não tem como comprar o ingresso para assistirem os jogos do campeonato.

Artur ficou observando não só o entusiasmo daquelas pessoas todas pelo time da sua preferencia , como também observava as barracas e as improvisações daquelas pessoas que vinham da periferia para ganhar um trocado a mais. Vendiam do churrasquinho a bandeiras e camisas do time do Bahia. O jogo ia ser no estádio da Fonte Nova.

Saiu andando em direção a praça do Campo da Pólvora, onde parou e ficou observando arquitetura do fórum Rui Barbosa. A praça em si é bonita, mas mal conservada.

Sentou-se num dos bancos da praça, ficou refletindo sobre seu casamento com Flora, não tinha mais o que dizer a ela. Seu casamento durara uma eternidade, vinte anos, fugia dos padrões dos casamentos mais recentes. Lembrou-se da frase de Vinicius de Moraes, - que seja eterno em quanto dure. E como durou. Não tomara nenhuma atitude por mera compaixão, para o inferno esse sentimento cristão que só lhe prejudicava.

Não teve noção de quanto ficou ali, além dos pensamentos sobre sua vida, perdia-se também na sua imaginação em observar as pessoas próximas a ele que paradas e que pegavam na medida em que seus ônibus chegavam subiam no mesmo em direção aos seus bairros. Ficava a imaginar como viveriam cada uma delas? Talvez não diferente do que ele. Só os diferenciavam em suas dificuldades econômicas, mas as angustias em que ele passava era indistinta de classe social.

De volta para casa e sem nenhuma decisão pronta.

Abrira a porta do apartamento, lá estava assistindo televisão, não quis observar o nível de programa que ela assistia, não lhe interessava, foi direto para o quarto.

Não demorou muito e lá estava ela, beijando-o , acariciando , mas tudo aquilo que outrora foi momentos de prazer, agora era motivo de irritação , de asco. Gostaria de saber o que leva o amor se desfazer , amor que parecia indelével. Entendia que são poucos dentro do universo populacional da Terra que estão preparados para viver um amor eterno.

Se mal dizia por não ter a coragem , de não ter atitude, de romper de vez com aquela reação. O que o impedia? Não sabia.

O dia amanhecera e estava pronto para iniciar mais uma semana de trabalho.

inclemente
Enviado por inclemente em 26/11/2013
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