EU VOU... NÃO... NÃO VOU.... EU VOU....

Tô deitado na cama, pensando... Nela. Ora bolas, é tudo que eu tenho feito nas ultimas semanas. Pensar Nela. Aquela morena, com sotaque nordestino que me deixa louco, aquele sorriso perfeito! Deus, eu preciso falar para ela que estou apaixonado. Aliás, eu devia ter feito isso ontem. Ela estava lá, linda, irradiando luz por toda a faculdade. Eu só tinha que dizer “Oi, tudo bem?” e ela ia responder “tudo e você?, eu coçaria a nuca, sorrindo sempre, e diria “Melhor agora que eu te encontrei, luz da minha vida”. Luz da minha vida, ainda bem que eu não disse nada. Que coisa mais cafona. Luz da minha vida.

Mas eu prometo... amanhã, com certeza, sem falta, eu vou dizer tudo. É... é isso aí. Eu vou falar e ninguém vai me impedir. Vou suar frio, minhas pernas irão tremer, mas eu vou dizer que a amo, que não posso suportar um segundo longe dela, que... que... Eu sei. Tá na cara que eu não vou dizer nada. Mas o que há de mal eu uma pergunta? Por que eu não falo tudo que eu sinto para ela?

- Por que? Por que eu sou uma BESTA!

Um idiota. Um mês babando pela garota e ao invés de ir lá, fica aí deitado escutando Lenine e Vinicius de Moraes. Vamos, Levante-se! Envie um buquê de rosas para ela, “Toda mulher gosta de rosas”, com um cartão, depois vai e fala tudo. Diga lá que é “melhor ser alegre que ser triste” e sua felicidade só é perfeita com ela... Acabou o Vinícius e vem isso...

- Ah! Burro! Burro! Burro! Pensa! Pensa!

E se... Ah, isso é bom! E se o Vinícius não acabar? Manda as rosas vermelhas, mas que “sempre são rosas”, com um cartão: “Chega de saudade, A realidade é que sem ela, Não há paz, não há beleza, É só tristeza e a melancolia Que não sai de mim”. Hum... e se ela não gostar de Vinicius? E se ela não gostar de ROSAS?

- Não sei por que você, Vinícius, estava tão sozinho, mas eu sei por que EU estou...

Acho que era de mim e dela que Frejat tanto falava: “Nunca mais ele teve paz quando viu aquela moça, Imagem viva, perfeita, já feita. Nunca mais ele teve paz quando viu aquela moça. Imagem viva, perfeita, já feita”.

- O banheiro tá livre!

- Tô indo, mãe.

Tomo um banho, relaxo e acesso o messenger. Bem, pelo menos com a Vivian, uma amiga minha de Vitória, eu posso conversar sobre isso e relaxar. Já sei até o que ela vai digitar “Vai lá, guri. O máximo que você vai escutar é um sim ou um não” e eu vou escrever “É. Eu vou... Não... Não vou... Eu tenho que ir” e ela vai rir das minhas gracinhas. Depois a namorada dela, do Rio Grande do Sul, vai escrever a mesma coisa, dizer que com ela deu certo e é melhor escutar um não que viver nessa angústia.

Começo a andar de um lado para o outro no meu quarto. Direita. Eu vou falar com ela amanhã. Esquerda. Não tenho coragem. Direita. Você vai sim. Esquerda. Ta bom, eu sou um palerma, nunca vou ter coragem. Direita. Esquerda. Esquerda. Direita. Direita... Direita de novo?

Cama. Sono. Sonho. Ela. Sorriso. Eu. Sorriso. Idiotice. Eu. Sorriso. Ela. Passos. Ois. Aproximação. Ela. Pele. Calor. Sentimento. Despertador.

- MERDA! Nem em sonho...

Eu lavo meu rosto, arrumo minhas coisas e vou trabalhar. Processos e mais processos. À tarde, assisto televisão e leio alguma coisa. Finalmente, a Lua toma o lugar do Sol. Vou para a faculdade e a encontro.

É agora, seu idiota, nada de engasgar de novo.

- Oi, linda.

- Oi.