Um quarto vazio

Numa tarde de sábado, assistindo televisão, com sede e muita preguiça de buscar a cerveja. Sozinho na sala, minha mulher no quarto, quieta, dormindo; somente o barulho da TV, alguns carros, e pessoas que passava raramente na rua.

Criei coragem, levantei-me e direcionei-me a cozinha. Nunca tinha prestado atenção como o corredor era grande. Sempre passei por ele e nunca percebi. Andando infinitamente pelo corredor, antes de virar para a cozinha, observei que o quarto estava escuro. Oras, como deixam a janela fechada num calor desse, pensei comigo. Fui abri-la. Mas a janela não abria. Fiz uma grande força e não consegui. Estranho. Olhei para a porta, estava tão distante, uma pequena luz no quarto escuro, distante. O que me preocupava era a janela, por que não abria?

Dentro de um quarto, preso, sem idéia do que fazer. Cada vez mais o espaço parecia maior. Isso é um pesadelo? Me perguntava. A porta distante, a janela que não abria. Fiquei sem pensar por uns minutos. Olhava para todos os lados, só encontrava o vazio, nada mais. Estava perdido na escuridão. Sentia que já se fazia uma eternidade que estava lá. E a única coisa que me lembrava era que entrei no quarto.

Tentei sair, não encontrava a saída. Andava vagamente, sem rumo, nada vendo. Sem angustia, sem desespero, somente triste. Consegui encontrar novamente a janela. Tentei novamente, com muita força, foi em vão. Depois de perder um tempo, tentei novamente. Vagarosamente foi se abrindo, com alguns ruídos de ferrugem, até que abriu por inteira; mas não havia nenhum raio de sol, era de tarde quando entrei aqui. Será que já escureceu? Já faz tanto tempo assim?

Olhava para fora não entendia, via a noite, não havia estrela e nem lua; coloquei mais atenção, não havia nada. Meu coração disparou, parecia um pesadelo. Tudo estranho, a sensibilidade à flor da pele; não conseguia compreender o que estava acontecendo, o que era tudo aquilo? A porta atrás de mim abriu-se, rangendo, a luz entrou no quarto. O quarto foi se encolhendo, já conseguia perceber alguns móveis. Tudo voltava ao normal. Mas lá fora nada mudou, continuava sem nada. O nada começou a desmanchar, a derreter, tudo caía. Começou a vim para meu lado, subindo pelos pés; não conseguia mexer-me, o desespero tomou conta de mim. Foi envolvendo o meu corpo, quando ia cobrir-me a minha cabeça, gritei. Minha mulher tinha chegado com a cerveja.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 23/04/2007
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