O palhaço que nunca morre

No natal do ano passado, ganhei um palhaço de brinquedo, de médio porte. Nunca tive vontade de brincar com ele, coisa sem graça; mas o guardo em consideração a pessoa, fica encostado na prateleira de meu quarto, pegando pó.

Em um dia de tristeza, fiquei olhando para esse palhaço, sempre sorrindo, colorido e alegre. Ignorei-o, o que um boneco pode fazer por mim.

A cada momento que passava, minha tristeza aumentava, não sabia o que fazer com ela. Fui ocupar minha cabeça, por que cabeça vazia casa do diabo. Assistindo televisão para distrair-me. Percebi que o palhaço estava no pé da estante, o que ele fazia ali? Eu não o uso. Levei-o para a prateleira, onde era o seu lugar. Voltei para a sala. Com sede fui para a cozinha. Quando olhei para cima levei um susto. Lá estava o palhaço, em cima da geladeira. Assustado, perguntei para minha mãe quem o tinha colocado lá; mas ela não sabia, e disse que estava louco, estava vendo coisas demais. Coloquei-o de volta a prateleira.

Fui para o quarto do fundo, ler. Lendo o livro, esboço para uma teoria das emoções de Sartre, algo me incomodava, continuei lendo. Começo a procurar, novamente o palhaço em cima da estante dos livros. Minha alma paralisou. Quando consegui voltar ao meu corpo. Observei-o. Ele estava triste, chorando. Não entendia, um boneco que chora? Mas o palhaço representa alegria.

Quando olhava pra mim parecia dizer algo, mas não conseguia entender. Olhava pra mim, mas nada dizia. Observando bem, comecei a sentir o que queria dizer. Parecia dizer que eu tinha deixado meu palhaço morrer. Que a minha vida não tinha mais cor, nem sorrisos e alegrias. Ao entender isso, comecei a sentir, por dentro de mim, que tudo começou aflorar, todo o circo que eu possuía dentro de mim. Os malabaristas, os domadores, os mágicos, os trapezistas e os palhaços. Vi que o boneco palhaço começou a sorrir, suas lágrimas não escorriam mais. Mas não entendia por que esse palhaço se preocupava comigo. Quem era ele?

Ao acordar, não vi o palhaço, mas não fez diferença na prateleira. Pois ele nunca esteve lá.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 23/04/2007
Código do texto: T461444