A louca de pedra

Não sabia precisar, mas em algum momento ficou tarde.

Pensava nisso enquanto caminhava em passo lento, direção certa e olhar perdido para dentro.

Estava em estado primitivo, bruto e os sentimentos eram erosivos, não permitiam ilusão.

Em algum momento quis compreender as razões e ordenar os indícios, desvendar o enigma.

Só que agora isso não tinha mais importância porque de toda forma já tinha acontecido.

Olhos dentro dos seus olhos tinham espreitado, farejado a facilidade enquanto desfiava uma série de mentiras. Acreditou.

Não, pensava que podia detectar facilmente o engano e de um momento para outro viu-se enredada por ele.

Quando se é traída, a confiança se contorce em último grau e o que resta é aprender a lidar com isso.

Talvez mais tarde, suspirou.

A pedra na mão por hora atenuaria o problema, se convenceu enquanto lançava-a estilhaçando a janela da casa à sua frente.

Não ficou para ver o estrago, pagaria aquele prejuízo com prazer.

Na pedra havia escrito: SEU GRANDE FILHO DA MÃE MENTIROSO

Continuou andando enquanto um sorriso se insinuava sorrateiro. Agora que tinha colocado o pé na loucura decidiu que a vida podia ser muito divertida...