O caminho da alma livre

Estava em território de mortos, silêncio, respeito. Era tudo que precisava. No cemitério, descansam as pessoas iguais a mim, que chegaram ao fim; ou, quem sabe o começo.

Vagarosamente ando entre os túmulos, observando que aquele lugar foi abandonado. Estava velho, empoeirado, com sepulturas possuídas pelo lodo. Era um cemitério muito antigo. Cercado por uma grade de metal corroído, chão nu, túmulos arcaicos. Estava presente o vazio, o silêncio.

No fim, havia um coveiro, um velho homem de barba branca; cavando um buraco; provavelmente alguém será enterrado. Aproximei-me dele. Perguntei-lhe:

- Quem será enterrado num lugar tão distante?

- Ninguém.

- Ora, como ninguém? Então para que o buraco?

- Para enterrar algo. Aqui será enterrado o medo.

- Medo? Mas aqui é um cemitério; como enterrar o medo?

- Você prestou atenção onde está?

- Sim, num cemitério; mas se devem enterrar pessoas!

- Por quê?

- É um cemitério!

Não entendia, não conseguia ver, com meus olhos, com a razão; toda verdade que estava naquele lugar. Apesar de saber que estava lá, não conseguia enxergar.

- Aqui enterramos o medo das almas. Quando a alma é liberta, o medo morto é enviado para enterrarmos aqui; as vezes o medo consegue carregar consigo a alma; infelizmente é minha obrigação enterrar o medo, para ela não vagar pelo espaço e se alojar em outra.

- Não acredito! Como isso é possível?!

- É porque você está na terra dos mortos.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 27/04/2007
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