De cabeça para baixo

De repente se viu pendurada de cabeça para baixo em pleno centro da cidade. Não fazia a menor ideia do que motivava aquele fato. Quando deu por si, estava presa por uma corda que estava amarrada em seu pé e a mantinha aquela posição inusitada. Não sabia se tinha sido uma espécie de armadilha ou algo do tipo, mas o fato é que ela se encontrava de cabeça para baixo. Procurava se lembrar do exato momento em que isso ocorreu, de como foi, mas estava confusa, como não conseguia lembrar-se do momento em que ficou daquele jeito? E porque todo mundo passava por ela e, ao invés de ajudá-la, parecia não ver a posição que ela se encontrava? Agitava-se. Debatia-se. Já estava toda machucada de tanto tentar se livrar das cordas, de tanto tentar endireitar sua posição. Estava sem fôlego, sem forças, resolveu então pedir ajuda. Começou a chamar pelas pessoas, pedir-lhes que a tirasse dali, mas estranhamente, todos continuavam a dar seguimento às suas vidas como se ela não estivesse pendurada pelo pé de cabeça para baixo em pleno centro da cidade. Seu desespero só aumentava, quando percebia que as pessoas eram indiferentes aos seus gritos e à sua condição. Viu passar próximo a ela uma velha conhecida. Pensou ela, por conhecê-la, poderia se compadecer de sua situação a ajudá-la a sair dali. Chamou-a. A outra veio, cumprimentou-lhe, mas, assim como os outros, pareceu não notar nada de errado. Ela pediu-lhe que a ajudasse, mas a outra, estranhamente, parecia não ouvi-la. Simplesmente falava, resumia os últimos acontecimentos, no final, pediu que ela mandasse lembranças à família, disse que depois ligaria para ela. Despediu-se e foi embora, como se tivesse falando com ela numa situação completamente normal, como se ambas estivessem na mesma posição.

Luciana Caroli
Enviado por Luciana Caroli em 20/02/2014
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