Cont...Pedaços de mim.

...Outro fim de semana sem você. E mais uma vez eu e seu avô vamos pegar a estrada. Senti tanta vontade de pedir que a deixassem ir conosco! Vamos ao sítio de seu bisavô que vai começar uma luta contar um câncer. Saímos ao amanhecer, a cidade acorda aos poucos. Algumas pessoas caminham pelas ruas e penso onde será que vão? Sair de Curitiba numa manhã de domingo com tão poucos carros nas ruas, permite que apreciemos a beleza da cidade.
Suspiro maravilhada, ela é linda! Dois pássaros brincam nos fios da rede elétrica alheios ao perigo que estão expostos. Não demora e já estamos na rodovia a caminho do Norte do Paraná. Quatro horas mais tarde entramos na ultima etapa da viajem 36 km em estrada de chão.
A estrada até que está boa apesar do cascalho e pedras, do lado esquerdo da mesma uma escarpa de pedra forma um paredão na montanha cercado pela mata verde. Uma curva logo a frente e avisto o primeiro de alguns dos rios que iremos cruzar pelo caminho. Suas águas cristalinas tornam-se escuras ao se refletir na chapada de pedra que forma seu leito. Sinto vontade de descer e banhar-me em suas águas, o calor é intenso. Por alguns momentos sinto inveja daquela gente que vive tão próxima da natureza! Começamos a subir uma ladeira e as margens da estrada o verde da mata nativa nos acompanha. Mas em muitos trechos da estrada a paisagem muda dando lugar a extensas plantações de soja. Em alguns trechos fazendas de gados com suas reses branquinhas pastando sob o sol forte. Olho pelo retrovisor e vejo a nuvem de pó deixada pelo carro na estrada solitária. Quer dizer, não tão solitária assim pois insetos brincam numa festa na floresta e muitas vezes tenho a impressão que correm em nossa direção. Estamos a uns cinco da cidade e encontramos um viajante solitário. Caminha a beira da estrada, cabisbaixo vaga a passos lerdos. Por um instante lembro da política do local: Oferecer carona a quem caminha por ela. Teu avô faz um gesto com a cabeça cumprimentando o viajante e ja vai seguir adiante quando me olha e pergunta__ Será que ele quer carona? Nem tenho tempo de responder e seu avô para o carro. O homem se apressa até o carro que parou uma certa distância dele talvez com medo que o deixemos ali abandonado ao sol.
__Bão dia! Vós meceis vão até onde?
___Barra mansa, e o senhor?
___Vou inté lá tumem.
Que sorte do caboclo penso eu.
Observo o homem, tem uma cor morena. Embaixo dos chapéu cabelos encaracolados.Na boca só metade dos dentes deixa a gengiva cor de rosa a mostra quando sorri. Deve ter no máximo uns trinta e cinco anos. Mas a aparência é de cinquenta. Talvez castigado pela vida que leva. Quem é que sabe.
Então lhe pergunto:
___O senhor vai a onde em Barra Mansa?
___Vou visitar um tio que anda meio adoentado, ele mora ali na Barra Mansa passando a ponte do rio. João Siqueira voz mecê cunhece?
Senti vontade de rir. Tio! João Siqueira é meu tio, e nunca soube que tinha um primo perdido por aqui. Mas o homem continua...
___Minha mãe era Inhá Maria Eugena irmã da Inhá Zefa que é muié do Tio João. O cabra gaguejava ao falar e tínhamos dificuldade em entender o que dizia. 
Nossa quanta gente ligados a nós que nem conhecemos. estes laços de famíliaque nem percebido passa pela nossa cabeça.
Começo a rir e o homem não entende, fica vermelho, envergonhado. E eu. Cada vez dou mais risada! Até que de repente falo.
___Tio João! É meu tio também.

(continua)

Obs: este é mais um pequeno trecho do meu primeiro livro que é dedicado a minha neta Bruninha.
ARLETE KLENS
Enviado por ARLETE KLENS em 11/03/2014
Reeditado em 11/03/2014
Código do texto: T4724086
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