Lince - Encantador de Vaga-lumes

O Vilarejo - I

Tudo era tranquilo, todos os dias eram iguais no vilarejo da Serra Pequena. O dia se inicia com o locutor Orlando Neto, um homem moreno, alto de boa índole, bem-apessoado e de espírito humorado, começa seu trabalho parodiando aos ouvintes no microfone da Rádio, que seria mais um dia de sol escaldante de verão, agradece ao amigo no Ar por proporcionar a previsão do tempo, que lê todos os dias na coluna do único jornal do vilarejo, que é comandado por um milico aposentado chamado Demétrio.

Demétrio um quase senhor de uma carranca sisuda, de andar torto por causa dos seus serviços prestados ao exercito, expõe com orgulho a sua proeza de como e quando conseguira manquitolar.

Demétrio que tem origem do grego, rugoso pede ao seu jornaleiro Arthur, que faça a entrega do jornal com mais presteza, pois o prefeito Jurandir, espera ansioso pelas ultimas noticias da semana. Se tratando de um ano eleitoral o prefeito Jurandir, quer saber a quanto andas sua popularidade na coluna Política Nua e Crua do Jornal da Serra Pequena. Arthur um jovem de 13 anos de idade, louro, alto, esguio, prestativo, mas um tanto fantasioso, não leva o senhor Demétrio muito a sério. Entre a entrega de um jornal e outro, ele faz algumas paradas e uma delas obrigatória na Della Cantina, para saborear um dos muitos quitutes que a própria dona da cantina faz, senhora Deva, uma mulher de fibra, que chegou à década passada no vilarejo para refazer sua vida, viúva, uma jovem senhora bonita, com sua filha Lise, portadora da Doença de Crohn, ambas solitárias.

_Arthur? Presumo que este pedaço de torta, com esta xícara de chá, deve ser anotado nesta extensa lista que você já me deve?

_Sim senhora dona Deva, anota também só mais este flan._Arthur sorriu e seu rosto ruboresceu, por se tratar de um jovem branquelo.

Ah! Arthur e quando irá pagar o que deve a cantina?

_Quando o Senhor Demétrio pagar meu salário, prometo a senhora que este será o primeiro lugar que vou parar e comer outro pedaço de torta holandesa.

Arthur saiu em disparada gargalhadeando deixando no balcão um exemplar do Jornal, dona Deva corre os olhos na capa, observando o noticiário dos últimos acontecimentos, nada muito relevante, se não passasse despercebido dos seus olhos uma receita de uma guloseima, na Coluna Culinária fornecida pela Della Cantina.

_Hum! Preciso variar mais as receitas anunciadas neste jornal, só assim vão aumentar o numero de fregueses no meu estabelecimento. _quando é interrompida por uma voz meiga com tom menos que o normal.

O Aparecimento - II

_Mamãe?

_O que faz fora da cama Lise? Está febril! Precisa descansar e tomar mais cuidado, vamos agora suba e volte para o seu quarto.

_Dona Deva, sempre me dizendo o que fazer, já sou uma adulta sabia?

_Sim adulta, uma adulta teimosa isto sim, Lise minha querida, é para seu próprio bem que peço que se cuide mais, só temos uma à outra; e filha não quero perdê-la como perdi seu pai.

_Entendo, mas você deveria deixar fazer minhas próprias escolhas, não acha minha querida mãe?

_Acho que você já falou por demais, tenho mais o que fazer.

Lise saiu com os olhos lacrimejando, por não poder levar uma vida normal como as outras moças de sua idade, enfurecida consigo mesmo e por ser tão ingrata com sua mãe, murmura a sua existência.

E assim prossegue a subsistência daquele vilarejo sem maiores alterações, apenas os afazeres corriqueiros daquele povoado Serra- pequenense.

De repente... O céu estático nem dia, nem noite. E nas alamedas os passos ligeiros indicam que alguém tardará seu compromisso, o silêncio é partido apenas por um som de sapatos, que estalam abafando-se em poças d´água. Águas oportunas das chuvas candentes de verão, envolto uma sobreveste oculta o seu perfil. De quem seria esta corporatura?

No dia seguinte o prefeito Jurandir, um homem sossegado, claro, de barba cerrada um pouco acima do seu peso pela sua estatura, entra na cantina quase que se arrastando.

_Bom dia! Senhor prefeito Jurandir me parece um tanto abatido?

_Bom dia! Dona Deva, mal preguei os olhos esta noite.

_Oras, mas por que senhor?

_O Orlando locutor, me chamou atenção para um movimento diferente que está acontecendo em nosso vilarejo, a senhora não viu nada?

_Do que se trata prefeito?

_Ainda não temos certeza dona Deva, mas se ver alguma coisa ou alguém suspeito, avise imediatamente o Demétrio.

O Suspeito - III

_Claro, mas o senhor está me deixando assustada, pois minha cantina fica aberta até mais tarde, e se for um golpista, um malandro, um aproveitador... _antes mesmo que a senhora Deva continuasse com os adjetivos do suposto desconhecido, o prefeito interrompeu-a.

_Calma dona Deva, é apenas um suspeito, nada de alardes, até mais senhora.

_Até logo, senhor prefeito.

No gabinete o prefeito Jurandir tenta persuadir o Demétrio com suas desconfianças. _Alô, Demétrio, aqui é o prefeito, preciso adverti-lo, creio que nosso pacato vilarejo está ganhando um novo rumo aos grandes best sellers do suspense criminal.

_Jesus homem do que você está falando? Primeiramente, bom dia prefeito Jurandir!

_Bom dia, Demétrio deixa-me te contar o ocorrido, o Orlando há dias vem observando um vulto as sombras, cortando vielas, descendo alamedas, subindo a Serra.

_Prefeito Jurandir vai com calma, o senhor está precipitando, uma silhueta de quem quer que seja no escuro, não quer dizer nada, não te dá o direito de fazer prejulgamentos e no mais devo lembra-lo sou apenas um ex-combatente.

_Ah! Senhor Demétrio não me venha com esta agora, cá entre nós, o senhor realizou varias prisões em outros casos.

_Sim, senhor prefeito, mas quando eu apenas ocupava a cadeira provisória do delegado de policia da Serra Pequena, isto em outra circunstâncias onde realmente existia um suspeito e um delito, que nesse caso não existem nenhum dos dois, satisfeito?

_Em nome da nossa amizade e gratidão Demétrio, reconsidere meu pedido?

_Bom senhor prefeito, não gostaria de desestimula-lo, mas vou analisar o caso, se é que temos um caso, no mais vamos observar.

_Até e agradecido amigo Demétrio.

_Não se esqueça de que apenas observaremos, até mais prefeito Jurandir.

Ao entardecer não foi diferente, mais uma vez o vulto as pressas tomando o mesmo caminho tornando suas idas e vindas quase que um ritual, foi visto de relance pela dona Deva, quando checava os lixos nos fundos da sua cantina que dava para um beco, ela murmurou fazendo um sinal com a cabeça de que está vendo coisas ou anda muito cansada, nem se lembrou da conversa que tivera com o prefeito, pela manha sobre o suposto suspeito.

_Está atrasado Arthur, um dia de atraso, os clientes já tomaram seu café e leram as noticias do jornal da data anterior, se o senhor Landers ficar sabendo, vai nos fritar vivos. _advertiu o recepcionista da Pousada Serra Pequena.

A Investigação - IV

Como se o abalasse, pois nunca se viu um recepcionista mais atrevido e desligado do mundo que o próprio mensageiro desta pousada, Alvin um rapaz de estatura mediana, de um rosto marcante e de cabelos todo arrumadinho por uma pasta que usa para deixa-los sempre com ar de penteados e de uma voz rouca, nebulosa, afasta a todos com seu jeito arrogante. Arthur moveu os ombros, pouco se importando com os clientes da Pousada Serra Pequena, quando esbarrou em um dos clientes, Arthur fez um sinal com a cabeça de desculpar-se, mas o rapaz saiu apressadamente do ambiente sem notá-lo.

_Cliente novo Alvin?

_Quem? _pergunta Alvin

Arthur moveu a cabeça em sentido a porta seguindo o rapaz que acabara de sair da pousada.

_Não, já é hospede antigo e por que você quer saber não é da sua conta quem se hospeda aqui, aliás, já terminou de fazer suas entregas? _Arthur faz um sinal com a cabeça de negativo e vai em direção a saída. _Alvin volta para suas anotações no livro de registro dos hospedes resmungando _É um bisbilhoteiro mesmo.

O Demétrio adentra o recinto com uma caderneta em uma das mãos e pergunta a Alvin pelo senhor Landers.

_O senhor Landers viajou há alguns uns dias, eu posso ajudá-lo senhor?

_Talvez! Gostaria de saber algumas informações de quem está hospedado nesta pousada e quando se hospedaram?

_Ah! Senhor Demétrio isto não posso dizer, feri os direitos dos clientes, creio que o senhor vai ter que esperar pelo senhor Landers.

_Garoto insolente e você sabe lá o que feri os direitos dos clientes?

_Eu não, mas tem um papel fixado no painel de informações sobre estes direitos e o senhor Landers me aconselhou que antes que eu abrisse a boca e saísse falando assunto que não me diz respeito, que eu olhasse para este papel fixado no quadro e recordasse que meu emprego depende exclusivamente da minha discrição.

_Muito bem, aguardarei pelo retorno do gerente da pousada, o senhor Landers.

Demétrio saiu esbravejando, que o mensageiro da pousada não deviria tê-lo insultado assim, que ele conhecia as leis e que jamais burlaria o sistema judiciário, mas que o Alvin poderia ter lhe passado algumas informações sem ferir os direitos dos hospedes, pensou... Também o que se esperar de um garoto que não teve formação militar, para que acate as ordens dos mais antigos.

Demétrio vai até a cantina para fazer um lanche e conversar com as pessoas como é de costume; e lá está o prefeito Jurandir conversando com o locutor Orlando Neto.

As Testemunhas - V

Então segue para a mesa deles, ocupa um dos lugares disponíveis e solicita a garçonete, mas a dona Deva sugere a garçonete para servir a outra mesa, pois aquela mesa ela mesmo tiraria o pedido.

_Então cavalheiros o que vão comer?

_Pra mim o de sempre dona Deva. _falou carinhosamente o senhor Orlando Neto.

_Café e croissant, para meu amigo senhor Orlando. _educadamente dona Deva continua a fazer os pedidos. _E o senhor prefeito o que vai ser?

_Chá e biscoito, nada muito pesado e você Demétrio? Pode pedir é por minha conta. _falou o prefeito Jurandir

_Grato prefeito, mas aceito apenas um cafezinho puro.

Retomaram as conversas, quando o senhor Orlando pega a dona Deva pelo braço antes mesmo dela deixar a mesa para trazer os seus pedidos, ele faz um galanteio, dizendo que toda vez que ele a vê, parece estar mais linda e radiante, com um sorriso no canto da boca como se não tivesse gostado, ela responde que ele parece ser exagerado. Orlando vira-se aos amigos e pergunta:

_Amigos vamos ao que interessa, alguma novidade sobre o caso?

_Mas que caso você se refere meu caro Orlando?

_Ora Demétrio, o prefeito Jurandir falou que você está investigando o caso do suspeito das sombras?

O prefeito Jurandir trata logo de se retratar. _Eu disse que o camarada Demétrio iria analisar o caso.

Demétrio toma a vez e vocifera. _Não acredito o que está havendo com vocês homens? Não existe suspeito algum.

Quando dona Deva serviu-os com seus respectivos pedidos e disse:

_Acalme-se cavalheiros e desculpem a intromissão, não pude deixar de ouvi-los, eu e o prefeito conversávamos outro dia sobre o tal suspeito, mas havia me esquecido que deveria informar o senhor Demétrio, por ventura se eu visse alguém ou alguma coisa suspeita.

_Eu não disse? Dona Deva também viu!

_Prefeito Jurandir, eu não acabei ainda; e não vi nada, apenas um vulto lá nos fundos, mas pode ser alusão, pois ando muito cansada, como vocês sabem quando não estou trabalhando na cantina, estou amparando minha filha Lise.

_Sim, senhora dona Deva, nós entendemos, em falar em Lise, como ela tem passado?

_Ah! Senhor Orlando nem imagina, agora Lise deu de se revoltar, acha que já está crescida o bastante para ir e vir e responder por si própria.

Perdas e Renuncias - VI

_A Lise já é uma moça dona Deva, a senhora deve compreendê-la, ela gostaria de estar entre as mesmas, fazendo as mesmas coisas que as outras meninas de sua idade.

_Com certeza, senhor Demétrio, mas como todos sabem minha filha é portadora de uma doença.

_Conte-nos um pouco sobre essa doença dona Deva. _incitou o prefeito Jurandir.

_Pois bem, Crohn é uma doença crônica inflamatória, muitos danos são causados por células imunológicas. A maioria dos casos é moderada e controlada pela medicação, e a vida normal é possível. A taxa de mortalidade é de 15% em 30 anos com a doença. No entanto pode ser muito debilitante para alguns outros, com um pouco de sorte sem provocar a morte. Eu temo pela sua integridade física e pela sua fragilidade, Lise não consegue entender que ela não poderá vivenciar ou desfrutar de algumas coisas, que para algumas meninas de sua idade seria tão simples e para ela não sei se seria possível.

Uns segundos de silêncio e dona Deva continua...

_E o de ter filhos, por exemplo, pois pelas suas condições, não creio que algum rapaz se candidataria.

_Entendo e sinto muito, pelas duas.

_Não sinta, por favor senhor Demétrio, os últimos sentimentos foram um pesar que ainda eu e a Lise não nos conformamos, a falta que o falecido pai da Lise faz, pois era para nós duas, o nosso porto seguro.

Orlando Neto chamou atenção de todos, fazendo um barulho como se estivesse expurgando alguma coisa da garganta, quando avistou a presença da Lise, ouvindo a conversa meio que às escondidas no canto das escadas que dava no assobradado da cantina, no mesmo instante em alta voz e em um bom tom o senhor Orlando disse:

_ Mas o céu é composto por divindades e acontecimentos, qual se quer supomos ou está longe da nossa compreensão.

_Lindas palavras senhor Orlando!

Todos olharam em direção daquela voz linda e meiga, de olhos amendoados, cabelos longos, ruivos encaracolados, pele clara com algumas sardas na maçã do rosto, que davam um charme a mais para aquela linda mulher que desabrochara em Lise. Em lágrimas Lise subiu aquelas escadas quase que correndo.

_Minhas desculpas dona Deva, me sinto culpado eu provoquei esta situação toda, se quiser eu mesmo explico o mal entendido a Lise.

_Agradecida senhor Demétrio, mas eu prefiro me entender com a Lise mais tarde, só nós duas.

Medo do Desconhecido - VII

Constrangidos com ocorrido, todos saíram da cantina para sua respectivas casas, porem agradecidos e satisfeitos com a dona Deva pela recepção e o acolhimento do seu estabelecimento.

Já estava escuro quando Arthur se lembrou de que se esquecera da sua bicicleta de frente a Pousada Serra Pequena e resolveu ir busca-la, Arthur chegou à pousada com os olhos esbugalhados e esbaforido, quase que chegaram juntos a porta da pousada o mesmo rapaz do outro dia, aquele que nem o notou quando nele se esbarrou.

_O que faz aqui Arthur? Já é tarde, insinuou o rapaz.

_Nada senhor apenas buscar minha bicicleta, o senhor me conhece e como sabe meu nome?

_Não o conheço, mas sei de muitas coisas por aqui, então agora vá, antipatizou o rapaz.

Arthur sumiu em meio à escuridão em rumo da sua casa e o rapaz se recolheu na pousada.

Na manha do dia seguinte... Arthur diz para o senhor Demétrio, que não irá entregar as revistas encomendadas, porque não está se sentindo muito bem, comentou que tinha tido dores abdominais e falta de ar. Demétrio preocupado com seu jornaleiro leva-o ao Doutor da cidade vizinha, pois teme ser algo mais sério, não aceita não como desculpas. Mais tarde já no consultório.

_Diagnosticado. _diz o médico.

_O que ele tem Doutor é grave? Sinto-me responsável por ele, pois ele mora com seus avós, é órfão de pai e mãe.

_Só um minuto senhor Demétrio, o tempo do Arthur se vestir e falaremos sobre.

Arthur se vestiu e acanhado veio até a sala da consulta, seu rosto estava afogueado pelo incomodo.

_Arthur está gozando da mais perfeita saúde, o que ele teve eu diria que foi um súbito de um susto que resultou em uma bela dor de barriga e uma fadiga de tanto pedalar ás pressa de volta para sua casa.

Doutor sorriu e despediu-se e os dois retornaram ao vilarejo sem fazer qualquer tipo de comentário no caminho. Chegando ao vilarejo Demétrio estarrecido fica sabendo o motivo do susto e das pedaladas apressadas do Arthur, liga para os amigos marcando uma reunião extraordinária na Della Cantina na terça parte da tarde, adiantando o assunto que estava prestes a desmascarar o vulto, o suspeito, que ás sombras vem amedrontando o pacato vilarejo, que se preparassem, pois até ele próprio está temeroso e ansioso para tal feito. Reunião britânica, á porta da cantina um cartaz escrito do próprio punho... Fechado para uma reunião extraordinária de interesse do povoado da Serra-Pequenense. Então todos acomodados inicia-se a reunião, Demétrio pega o garoto Arthur pelo braço e motiva-o a falar.

O Complô - VIII

Arthur começa relatar o ocorrido.

_Na noite passada resolvi buscar minha bicicleta que havia esquecido de frente a Pousada Serra Pequena, estava apreciando a linda noite quente e escura.

_Deixa de enrolação garoto, conte-nos logo de uma vez, não temos o dia todo.

_Prefeito Jurandir, vai com calma o garoto é de minha inteira responsabilidade e no mais ele está aqui para nos ajudar e de livre espontânea vontade.

_Um café vai acalmar os ânimos de todos, Senhor Demétrio.

_Dona Deva, agradecidos, agora todos deixem o garoto narrar o que viu, continue Arthur.

_Sim Senhor Orlando Neto, eu estava a caminho da pousada quando eu vi sair do beco em direção a Serra um figura de um homem grotesco alto, com um sobretudo cobrindo parte do seu rosto, conforme caminhava seus sapatos estalavam na alameda, aquele som se misturavam com as batidas do meu coração, foi quando ele percebeu a minha presença e veio em minha direção, eu comecei a correr o mais rápido que podia, mas aquele som do sapato parecia estar me seguindo, embora eu não tenha avistando mais, percorri o trajeto todo com aquele som que entrava pelo meu ouvido e caia na caixa do meu peito em passos ritmados.

_Eu tinha certeza que o suspeito iria surgir das sombras, para cometer atrocidades.

_Silêncio prefeito! _adverte o senhor Demétrio. _Continua filho.

_Certo, então foi quando finalmente avistei a placa luminosa da pousada, pensei... Ufa! Agora posso respirar mais aliviado, me enganei, fui abordado pelo mesmo rapaz estranho que nos esbarramos outro dia na pousada, perguntou o que eu fazia lá, até sabia meu nome e de muitas outras coisas, depois me mandou que fosse embora para casa e que já era tarde, suas palavras foram concisas e seus movimentos abrutalhados. Montei na minha bicicleta pedalei e pedalei sem parar e sem olhar para trás.

Todos emudecidos com a narrativa do garoto, dona Deva agradece ao Arthur aconselhando-o a ir para casa, que ele foi de grande valia, mas que agora o assunto era de gente grande e lhe deu um suco com um dos seus deliciosos biscoitos.

_Então vai ser hoje, hoje á noite. _disse o prefeito Jurandir.

Sim, vamos nos organizar, o prefeito Jurandir com o senhor Demétrio segue para a pousada a fim de que o suspeito não escape; e Eu e dona Deva espreitamos o indivíduo nas ruelas da Serra, todos de acordo?

_Sim senhor Orlando, mas e depois? _pergunta a dona Deva.

A Captura - IX

_Dona Deva sugiro que interrogamos o suspeito na sua cantina, para que não haja alvoroço desnecessário em Serra Pequena, assim poderemos desvendar este mistério todo de uma vez por todas.

_Claro, o senhor Orlando Neto tem toda razão. _disse o Demétrio.

Todos de acordo acenaram com a cabeça de afirmativo, acertaram apenas mais alguns detalhes e ao entardecer todos a postos aflitos e ansiosos com o desfecho do caso.

Próximos à pousada o prefeito Jurandir e Demétrio, conversam sobre o que farão quando pegar o indivíduo.

_Quando colocar as mãos neste sujeito, vai se arrepender de ter tirado o sossego do vilarejo.

_Calma, prefeito Jurandir, ninguém aqui vai usar de violência, só queremos saber de quem se trata e o que anda fazendo as escuras e por que se esconde, entendeu? _ Demétrio então tenta apaziguá os ânimos.

Do outro lado do vilarejo a dona Deva e o Orlando Neto conversam quase que sussurrando.

_Dona Deva depois deste episódio gostaria de ter uma conversa séria com a senhora, há tempos que venho observando o quanto é sensível e solitária, sem contar que sua beleza mexe com os meus pensamentos.

_Nossa! Senhor Orlando não sabia que o senhor nutria tais pensamentos a meu respeito! Mas devo adiantar, sou uma mulher muito ocupada com a cantina e com a Lise e não me permito de mais tempo.

_Entendo, mas vamos deixar os senhores e as donas de lado. _senhor Orlando todo sorridente e respirando aliviado e feliz continua com sua investida de conquistador.

_Deva? Também devo adiantar que sou paciente e conseguiremos alguns minutos de tempo pra nós.

_Só você mesmo senhor Orlando, melhor Orlando. _dona Deva então sorriu e aceitou seu pedido de conversarem a respeito dos dois.

Não muito distante do casal em passos apressados descendo a Serra densa e anuviada, a corporatura tão misteriosa se perguntava o que haveria acontecido, pois pela primeira vez desde que começara o verão o seu encantador teria faltado ao seu encontro, dispersa e não se dando conta que dona Deva e o senhor Orlando Neto estava a sua espreita. Do outro lado do vilarejo, o mesmo rapaz o tal do suspeito de malas prontas, é abordado na saída deixando a Pousada Serra Pequena, pensativo de olhar distante e um semblante tenso, é pego pelos braços pelo o senhor Demétrio e o prefeito Jurandir.

_A essa hora deixando o vilarejo na surdina, a onde pensa que vai meu caro rapaz?

_Eu não fiz nada! _respondeu o rapaz surpreso pela abordagem.

_Calma prefeito Jurandir, vamos até o local combinado. _e seguiram os três até a cantina. Descendo a alameda o senhor Orlando Neto avista o vulto, mais que depressa se coloca a frente da figura impedindo a passagem e dona Deva então expõe o rosto do tal suspeito, chegando quase a se desfalecer ao desvendar o seu perfil.

_Jesus! Não pode ser você! _dona Deva exclama decepcionada.

A Revelação - X

_ Deva, vamos para cantina, como combinados, se lembra? Tenho plena certeza que tem uma explicação admissível. _ senhor Orlando Neto indica o caminho como se não soubessem.

_Orlando, você é utopista, não creio que seja uma atitude plausível e que tenha uma explicação cabível . _diante de tal descoberta seguem tonteados e emudecidos até a cantina.

Dentro da cantina Demétrio e o prefeito Jurandir apresentam o seu suspeito, já dona Deva e Orlando Neto discordam e prontamente indicam o seu descoberto. Enquanto os antigos discutem os seus achados, num quase que um instante mágico, embebidos de candura espiritual os jovens silenciam a todos atestando os conflitos por eles acometidos. Os olhos denunciam o que a alma vivenciou e é descrito com todo esmero de pureza.

_Cansada do isolamento, subestimada pela própria mãe e sociedade, a única saída era debruçar no para peito da janela do assobradado e deixar discorrer os pensamentos de como seria a vida fora do casulo, foi quando algo me prendeu atenção, percebi que as tardes britanicamente um jovem passava ligeiramente em sentido a Serra, despercebido do vilarejo até então, eu deixava ele me perceber com seu olhar.

_Como não a perceber, linda de olhar penetrante, quem seria e por que estaria todas as tardes a olhar pelas grades da sua prisão?

_Então decidida e sustentada pelas lindas palavras do senhor Orlando Neto, “Mas o céu é composto por divindades e acontecimentos, qual se quer supomos ou está longe da nossa compreensão.” Eu, imediatamente abracei a minha intuição e segui aquele jovem apressado e todo alinhado, alto, moreno, cabelos pretos, lisos caídos na testa, de um olhar apaixonante.

_Maravilhado com sua soltura, deixei ser seguido para que visse o lado de fora da vida.

_Foi quando eu tive a ideia de encobrir-me com o sobretudo para que não soubessem da minha identidade, da minha fragilidade feminina e não interviessem nas minhas escapadelas.

_ Apenas um errante, contador de histórias, envolvido num ambiente exato, pacato, inspirador e agora com personagens para descrever com vida própria e Lise era uma deles.

_Realmente se tratava da perfeição anjo arrebatador, não só me libertou como me deu asas para voar.

_Nada mais importava naquele momento, somente o seu sorriso, seus trejeitos dilapidava vidas, Lise deixara de ser um mero personagem e me ganhara com sua ternura acriançada.

_No Alto da Serra em meio à natureza, encantada com a magia eu fitava os montantes de vaga-lumes na noite escura e quente de verão, meus olhos ofuscavam com aqueles pontos de luzes verdes ascendendo e apagando, num movimento que pareciam bailar em envolto daquele que me sentenciou a viver em livre-arbítrio.

Amor Incondicional - XI

_Lise, você é a magia da vida, a luz da noite sombria!

_Você está de partida, e eu nem sei o seu nome? _Lise pergunta ao rapaz quase que balbuciando.

_Jean, Jean Lince, não vou embora, apenas apresentar ao mundo a sua história. _o Jean respondeu fitando seus olhos enquanto secava suas lágrimas que rolavam dos seus olhos.

_E agora senhores o que será de nós? _Jean e Lise citaram os mais velhos.

E o silêncio sobrelevou.

Quantos momentos de angustia, tristeza, desconfiança, julgamento, esperança, renuncia, medo e amor os personagens vivenciaram em uma única estação, mas o momento mais nobre de amor incondicional foi vivido pelo personagem Jean. Às vezes esperamos permissão de outras pessoas para tomar alguma postura diante de uma vida toda e nos esquecemos de que as escolhas são de nossas responsabilidades e não de outrem. Não importa qual seja sua prisão, ou motivos delas, apenas escolha a vida.

Yone Zero
Enviado por Yone Zero em 01/04/2014
Reeditado em 17/10/2015
Código do texto: T4751670
Classificação de conteúdo: seguro
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