As Araucárias de Meu avô

Vou tentar contar rapidamente a história de meu avô materno.

O velho tinha o nariz largo, ( ainda bem que não puxei seu nariz) achava feio demais, nunca comentei com ninguém. Meu avô era calvo e sua careca brilhava. Perdeu metade de um dos braços limpando uma garrucha.*

Então meu avô sem querer atirou em seu próprio braço. Conta minha mãe, que por morarem no sitio, ele mesmo teve que cortar o braço, depois de ter arruinado com a falta de cuidados médicos. Ele era um velhote muito bravo. Gostava de andar a cavalos e criava alguns de raça. Estes colocava para correr numa espécie de Jockey Clube da época. Eu escutava meu avô lá fora no terreiro e corria para lá. Ficava trepada na cerca olhando, e ele já ia chamando...

__Venha menina! Venha ajudar a varrer!

Varríamos todo o terreiro, ficava aquilo lisinho.. Dai meu avô pegava um copo cheio de água com papelotes e neles escrito ia o nome de seus cavalos.

Ele jogava a água o mais longe que pudesse e eu ia correndo pegar o papel, trazia para ele ver qual nome chegou na frente. Aquele seria o cavalo que meu avô apostava. O velho acreditava na sorte que eu lhe dava. Depois disto saíamos os dois mata adentro com uma espécie de sacola de pano. Dentro iam muitos pinhões que o velhinho guardava. Plantávamos um lá outro aqui. Ele os pinheiros amava.

Um dia destes eu fui, no sitio onde ele morava, fiquei lá um bom tempo olhando. Lágrimas em meu rosto rolavam. Vi onde ficava a casa, os pilares lá ainda estão. Desci até o riacho onde a avó lavava roupas e apanhava água para casa. Mas o que mais encantou meus olhos foi ver a natureza refeita e no meio da mata nativa nossos pinhões cresceram. Estão lá cada um deles, viraram Araucárias enormes fincadas no chão subirão, olhei cada uma delas lembrando de nossas saídas. E elas criaram vidas, estão lá altaneiras. Enxugo os olhos ligeiro e falo alto e em bom tom, acho até que grito, com a voz embargada pela emoção..

___Ai velho Rodolfo seus pinheiros! Cresceram tanto, cresceram! Ninguém ainda arrancou.

Saudades bateu meu avô!

Dos tempos em que aqui estava.

Sei que talvez só eu sinta,

saudades de ti agora.

E choro aqui nesta hora

Vergonha não tenho não

Sei que amou este chão

E nele ninguém mexe agora!

(O lugar que meu avô morava tem tantas Araucárias que virou área de proteção ambiental. Fico feliz com isto pois eu ajudei acontecer, mesmo sem saber. O sonho de meu avô foi realizado.)

( *Espécie de pistola.)

ARLETE KLENS
Enviado por ARLETE KLENS em 03/04/2014
Reeditado em 07/02/2017
Código do texto: T4755080
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