O Homem de Deus e o Rei...

Vou escrever de improviso um Conto sobre uma estória que ouvi numa palestra a duas semanas...

O Homem de Deus e o Rei...

Havia um homem de Deus, num lugar distante, distante séculos de hoje, um homem que não tinha uma religião, mas tinha na Fé, Esperança e no Amor sua sabedoria e sua prática de vida...

Ele vivia os dias para cuidar dos doentes, amparar as viúvas, levar consolo à mãe que enterrava seu filho... Suas noites eram preces, pregar o seu conhecimento desse Amor maior que liberta da escravidão da vaidade, do egoísmo e do orgulho, a quem quisesse ouvi-lo em meio ao silêncio da noite e o brilho das estrelas no firmamento...

Tornou-se um homem cujo nome era repetido pelos quatro cantos do reino por seu caráter impoluto, seu coração imenso e a paz que dava aos aflitos e necessitados...

Até que um dia o Rei desse reino distante, furioso com a repercussão dos feitos desse Homem de Deus que o superava e tornava-o apenas um rei qualquer diante dos súditos, ordenou aos seus soldados que prendessem o Homem de Deus e o trouxessem à sua presença o mais rápido possível...

Assim, no amanhecer seguinte uma pequena tropa de soldados seguiu para a aldeia onde esse Homem vivia e lá sem qualquer reação o Homem foi preso e trazido diante do Rei em seu castelo...

O Rei lhe dirigiu a palavra tão logo os soldados o colocaram em sua presença mandando-lhes desamarrar-lhe as mãos:

- Tu, Homem de Deus, estás aqui diante de mim porque tuas pregações sobre esse teu Deus, me ofendem em tudo quanto sei, aprendi e dou de saber... Lhe farei três perguntas, se em alguma delas tu me responderes de modo que eu não concorde com a resposta, eu o sentenciarei à morte...

- Pergunte, Majestade. Se eu o puder, responderei... Disse o Homem...

- Quero ver esse teu Deus! Como faço para enxergá-lo?

- Senhor, meu Rei, por favor, desça de seu trono e venha até a sacada do castelo...

O Rei o fez...

- Por favor, meu Rei, olhe diretamente para o sol e fixe seu olhar nele...

O Rei o fez, porém nem um segundo conseguiu olhar diretamente para o sol vermelho alto no céu... E disparou contra o Homem de Deus:

- Estás a brincar comigo, sabeis que é impossível olhar para o sol!

- Eis, Majestade, que já respondi sua pergunta... Disse calmamente o Homem... E seguiu respondendo... - Meu Rei, Deus é exatamente isso que vês! Deus é maior, supremo, intenso, forte como os raios do sol de modo que não podemos vê-lo, não podemos conhecê-lo, quem ele o É está distante da nossa compreensão de homens pecadores que somos... Mas Ele está lá...

O Rei surpreendeu-se da resposta, mas concordou e fez a segunda pergunta:

- O que existia antes de Deus?

O Homem de Deus prontamente pediu ao Rei que se sentasse ali mesmo na sacada do castelo e lhe pediu:

- Podeis, senhor meu Rei, começar a contar os números... Por favor, faça-o...

O Rei, um pouco desconfiado começou:

- Um, dois, três, quatro, cinco... Porém foi interrompido delicadamente pelo Homem de Deus que lhe disse:

- Está errado, Majestade...

- Como errado? Redarguiu o Rei, esbravejando!

- Vossa majestade começou a contar do número um para a frente, por favor conte para trás, menos um, menos dois, menos três e assim sucessivamente até chegar ao final dos números compreenderá e descobrirá o que existia antes de Deus...

- Ora, isso é impossível! Não existe o fim para os números tampouco para trás como para a frente! Indignou-se o Rei, olhando com fúria para o Homem de Deus...

Pacientemente o Homem de Deus começou a explicar:

- O que existia antes de Deus também é como são os números, impossível de saber! Não temos necessidade disso, não acrescenta-nos nada! O quanto conhecemos dos números à frente já nos basta para existirmos e vivermos!

O Rei calou-se e num suspiro teve que concordar com o proposto pelo Homem de Deus... Mas disparou:

- Quem somos nós para Deus?

Sem pestanejar o Homem de Deus disse ao Rei:

- Dá-me vossas vestes reais e veste da minha túnica de algodão...

O Rei estranhou, mas como já estava pensativo e mais sereno fez o que mandara o Homem...

Assim que se vestiram cada um com as vestes do outro o Homem de Deus com a coroa em sua cabeça, enveredou por esse diálogo:

- Somos para Deus suas criaturas as quais ele em seu poder e sua glória, em sua misericórdia e em seu Amor pode fazer de um Homem como eu, sem família real, sem nobreza alguma, sem nome e sem sobrenome, pode colocar em mim as vestes reais e pode à vós, um homem de sangue dito azul, de hierarquia absoluta, de poder entre os súditos de todas as terras deste reino, majoral em ditar suas leis e fazê-las cumprirem-se, pode Deus colocar sobre seus ombros as vestes humildes de um Homem de Deus, que vive do mínimo e se compraz no máximo que pode do Amor...

O Rei de olhos molhados pelas lágrimas e olhando-se de baixo até em cima, entendeu que ele não era melhor que aquele homem à sua frente senão pela vestes exteriores... Então disse:

- Respondeste bem às três perguntas. Ordenarei a meus homens que o levem de volta a sua vida e sabeis que de hoje em diante este castelo manterá todas as sua portas, portões abertos para vós e peço-lhe humildemente, venha me trazer dessa sua sabedoria que pregais sob o sol e sob a lua para o meu povo, porque eu sou parte do povo, como o povo e preciso do povo... Vai-te em paz...

E assim foi o Homem de Deus e o tempo foi-lhe junto...

Sandro La Luna
Enviado por Sandro La Luna em 08/04/2014
Reeditado em 19/10/2021
Código do texto: T4761842
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